O comentário surgiu de forma meio espontânea, durante um almoço com José Colagrossi, CEO da Repucom, em 2014. Lamentávamos sobre a deplorável situação dos nossos times de coração e como era difícil imaginar que voltaríamos a vê-los novamente como protagonistas no mercado brasileiro, caso não houvesse uma mudança significativa no modelo de negócios dos times.
“O Botafogo para mim é como o Chelsea. Se tiver um dono, a chance de ele ser um dos maiores do Brasil é enorme. Ainda mais tendo os irmãos Moreira Salles para resolver as dívidas”, eu disse a Colagrossi, meio que em tom de delírio de criança.
Cinco anos se passaram desde o almoço e, sempre que dá, brincamos que essa história está ficando séria. Agora, ao que tudo indica, o delírio infantil se concretiza.
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O Botafogo tem pela frente a chance de mudar seu rumo na história. Ter um dono que se comprometa a sanar suas dívidas, a investir no produto e a precisar ter lucro com a operação é tudo o que o clube precisa para sonhar com prosperidade.
Quando Roman Abramovich assumiu o Chelsea pagando simbólica £ 1 e herdando mais de £ 96 milhões em dívidas, o mercado inglês chiou. Era um clube tradicional, com torcida, que estava se desfazendo de sua história para entregar o futuro a um bilionário russo obscuro.
Abramovich soube calar os críticos ao contratar, como primeiro reforço do Chelsea, o diretor executivo que havia mudado o patamar do Manchester United em todo o mundo. Dali para frente, mostrou que o maior negócio para ele ao ser dono do Chelsea era construir uma marca campeã. E levou a indústria do futebol na Inglaterra a atingir o patamar mais alto no mundo.
A história do Botafogo é bastante distinta. O clube vai para a mão de um fundo de investidores que torce para o time e sabe da importância de a história ser preservada. Isso reduz bastante o olhar crítico dos torcedores. Mas também é esse o maior risco para a prosperidade do negócio: a paixão não pode superar o próprio negócio.
E, para as finanças, não há nada melhor do que o esporte ser vencedor. A partir do momento em que o fundo investidor do Botafogo se comprometer com esse princípio, conseguirá transformar a realidade do clube. E, naturalmente, vai fazer o sarrafo levantar. Ou o futebol acompanha essa nova realidade, ou continuaremos a viver de espasmos gerenciais que geram períodos de liderança a um ou outro clube, mas não conseguem elevar de fato o nível geral da gestão dos clubes no Brasil.