A ideia de que é preciso existir uma nova legislação que facilite a transformação dos clubes brasileiros em empresas para que os clubes consigam atrair investidores é o mais novo jogo de cena dos dirigentes brasileiros.
Hoje, a lei já permite que o clube seja empresa. Mas o que afugenta os investidores?
O entrave para o investidor não está na legislação. Atualmente, um clube pode ser transformado em empresa, e existem inúmeros casos para provar. Basta passar a recolher os impostos devidos, pagar as contas que tem e buscar o retorno sobre o investimento que foi feito. Esse retorno pode estar atrelado à conquista de títulos ou, o que tem sido mais comum, numa enorme lucratividade com compra e venda de jogadores.
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A falácia de que a lei precisa mudar para o investidor aparecer é tão grande quanto a que relaciona o fracasso do Figueirense à adoção do modelo empresarial. O problema, como sempre, não está na lei, mas no gerenciamento dessas entidades.
O clube-empresa já existe e é uma realidade. Red Bull e Audax (ex-Pão de Açúcar) estão aí para provar isso. São clubes que foram criados como sociedades com fins lucrativos, que não possuem conselho de associados e disputam torneios profissionais. Outro modelo recente de sucesso é o do Botafogo-SP, que passou a ter o futebol controlado por um fundo de investimentos. Em todos esses casos, o segredo para o sucesso do modelo de clube-empresa está na gestão do projeto. Nenhum desses clubes nasceu ou cresceu com os vícios do passado. Pelo contrário. Os dirigentes que poderiam impedir o sucesso do projeto foram tirados do processo.
Por que não temos mais casos como esses? O investidor não existe não é por conta da lei, mas pela gestão ineficaz do futebol no Brasil. Desde 1998, com a Lei Pelé, diversos fundos de investimentos e empresas investiram em times no país. Mas o fracasso do modelo em que o dirigente continua à frente do negócio fez o clube-empresa não se transformar numa tendência dentro do mercado. É só lembrar como terminou a onda de investimentos no começo da década de 2000 para entender.
Se tem uma coisa que a nova lei poderia fazer para que o modelo de clube-empresa pudesse ser eficaz é exigir que, quem quiser adotar o novo sistema tributário, precisa criar um corpo diretivo profissional com gestão independente do conselho do clube.
O futebol brasileiro não consegue trazer grandes investidores pela total insegurança que o mercado inspira no investidor. O problema não é a lei, mas a gestão.