Há algum tempo os amistosos da seleção brasileira deixaram de ser um produto interessante, como os índices de audiência já sugerem. O público se movimenta apenas em ocasiões especiais, como foi o retorno de Neymar neste ano ou algum clássico contra uma grande equipe. Mais recentemente, no entanto, as partidas nas datas Fifa têm ganhado um ingrediente extra, pois têm conseguido reunir crises de imagem para o time e para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
As partidas começam com o “pé-esquerdo” porque irritam os torcedores dos times, já que o Campeonato Brasileiro não para durante os amistosos da seleção. A indignação de Flamengo, Grêmio e companhia foi tamanha que a CBF se adiantou para mostrar o calendário de 2020, sem partidas do torneio durante as datas Fifa. Sem encarar o problema de frente, as equipes terão, por outro lado, que jogar durante a Copa América e os Jogos Olímpicos.
Antes do amistoso contra o Senegal, a crise foi além. Para começar, com a desastrosa declaração de Neymar, que afirmou merecer privilégios na seleção por já ter “carregado o time nas costas” no passado. O que deveria ser uma celebração à centésima partida do jogador pelo time nacional ganhou as manchetes porque, mais uma vez, o atleta mais famoso do país pensou muito pouco no valor da sua própria imagem.
Para completar, o treinador da seleção, Tite, deixou a polidez do discurso de lado e criticou abertamente o planejamento da Pitch, que organiza os amistosos da seleção brasileira. Sem poder treinar no campo de jogo, o técnico falou em “falta de respeito” da agência parceira da CBF. Neste ano, ele já havia se irritado com a condição de outros gramados em partidas do time nacional.
Há décadas os amistosos da seleção vão muito além dos simples treinos para os jogos oficiais. Os jogos festivos são uma maneira de vender o time nacional mundo afora e também criar novas portas para o torcedor brasileiro. Mas, no momento, nada disso tem sido feito. A equipe joga longe, em mercados questionáveis, contra equipes fracas, sem grandes ações de comunicação. É difícil enxergar qual será o ganho dos eventos desta semana, contra Senegal e Nigéria em Singapura. Parece servir apenas para crises.
Talvez esteja na hora de a CBF olhar para esses eventos com mais carinho. Isso às vezes significará não jogar no esquema “quem paga mais”, mas valorizar a proximidade do time com o torcedor e com os mercados-chave. Com um produto mais interessante, certamente as crises geradas recentemente poderão ser evitadas.