Qual o segredo para que, na Europa, o futebol e os outros esportes movimentem bilhões de euros? Como os americanos conseguem que a nata do esporte esteja em constante atuação no país, gerando bilhões para as ligas profissionais dos EUA? Para o especialista Amir Somggi, da Casual Auditores Independentes, uma das respostas está na maneira como a gestão do esporte é tratada nesses países. No quarto dia da “I Semana do Marketing Esportivo”, evento realizado pela Máquina do Esporte em parceria com a Empresa Junior da Escola de Educação Física e Esportes da USP, o tema “Finanças no Futebol” foi abordado pelo especialista. Segundo ele, a maior diferença para explicar a geração de receita é que os clubes europeus contam com uma gestão absolutamente profissional e uma grande transparência em seus balanços financeiros. Somoggi mostrou que o panorama brasileiro, no entanto, é bem diferente do europeu e do americano. Aqui existe menos apoio, o dinheiro é mal utilizado pelos clubes, a gestão não é profissional e as políticas econômicas são deficitárias, entre outros problemas. Um levantamento apresentado pelo palestrante mostra as cifras dos principais campeonatos e clubes estrangeiros, comparando-os com a realidade nacional. Na comparação, a diferença é gritante. As principais ligas americanas, de diversos esportes, incluindo basquete, beisebol, hóquei e futebol americano, movimentam um total de US$ 18,6 bilhões (R$ 30 bilhões). As competições européias arrecadam US$ 16 bilhões (R$ 25,7 bilhões), contra US$ 560 milhões (R$ 901 milhões) gerados pelos clubes brasileiros. Além dessa disparidade, Somoggi também falou sobre o que considera ser os ?dogmas? da gestão esportiva no Brasil, que impedem a evolução e desenvolvimento da mesma. Entre essas ?certezas? falsas, há a crença de que o mercado brasileiro é limitado e pobre, que o retorno de mídia é automaticamente o de investimento e que não existe nenhum planejamento estratégico. Planejamento, aliás, foi uma das tônicas da manhã de debates na USP. Segundo palestrante do dia, Edison Ishikura, sócio da Casual, deu enfoque à contabilidade e aos balanços financeiros dos clubes, que desde 2003 são obrigatoriamente publicados em jornais de grande circulação. O executivo também abordou a situação econômica dos clubes brasileiros e a viabilidade da Timemania, a nova loteria esportiva que busca sanar as dívidas dessas instituições com o governo. Estudo feito pela Casual mostra que apenas Barueri e São Caetano já ganharam dinheiro com as apostas. Ao todo, o débito dos clubes com o governo beira R$ 1 bilhão. Um ponto em comum nas duas palestras foi a necessidade de aumentar as alternativas de receita, para que o caixa não siga, como é hoje, extremamente dependente das cotas de transmissão televisiva e da venda de atletas. Crescimento no desenvolvimento esportivo, alternativas como ativação de patrocínio, de arena, ações de marketing, expansão de reconhecimento e principalmente capacitação, profissionalização da gestão do futebol e sua independência da parte social de uma entidade foram algumas possibilidades apontadas pelos palestrantes. A “I Semana do Marketing Esportivo” se encerra nesta sexta-feira com duas palestras. A primeira falará sobre a mensuração dos patrocínios esportivos, com Rafael Plastina, diretor da Informídia Pesquisas Esportivas. A semana de palestras acabará com uma apresentação de David Grinberg, gerente de comuniação da Nike no Brasil.