A Traffic não revela os números do investimento feito para a criação do Desportivo Brasil e na compra da franquia do Miami FC. Mas a estratégia para conseguir o retorno financeiro está muito clara para a empresa. O objetivo é usar o clube americano para ser uma escala dos atletas para o exterior, enquanto o B-Fut funcionará como uma fonte permanente de receita com o intercâmbio de atletas e treinadores.
Leia a continuação da entrevista com Felipe Lobo Faro, diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Traffic:
Máquina do Esporte: Qual o investimento que está sendo feito nesse projeto?
Felipe Lobo Faro: Eu preferiria não falar. Mas é um investimento alto. Estamos falando de um aluguel de um CT por dois anos. E um CT que o São Paulo já usou, o Felipão e o Luxemburgo já usaram. É um lugar muito bom mesmo. Além disso tem um custo de manutenção, alimentação, plano de saúde, seguro de vida… Imagine um funcionário de uma empresa. São eles [os jogadores]. Teremos por volta de 75 garotos. Estamos preocupados com a molecada. Não temos preocupação com a categoria profissional. Nosso negócio é fazer a formação de atletas diferenciados.
ME: O projeto pode se tornar o novo carro-chefe da Traffic?
FLF: Sim. Logicamente isso tem um tempo de maturação. Estamos estimando o ciclo em dois ou três anos para começar a virar. A gente espera que sim, que seja um dos carros-chefes da Traffic. A Traffic nunca vai deixar de fazer o que faz há 20 anos, que é marketing e televisão, direitos de transmissão. Mas a gente espera que isso agregue para o que a gente já faz. A gente tem vários direitos e agora estamos entrando num outro mercado, totalmente diferente.
ME: E haverá uma área específica para tratar desse novo projeto?
FLF: Na verdade dividimos a Traffic numa área de futebol e em outra que cuida de gerenciamento de conteúdos, direitos de transmissão e outros esportes. No caso, a NLB [Nossa Liga de Basquete] e o golfe. A outra parte é só o futebol, que cuida desses três projetos, da comercialização de painel da Copa do Brasil, da Sul-Americana… Eu estou nessa parte. Existe uma divisão interna para isso.
ME: Tem previsão de mais investimento nessa área? Há cerca de dois anos foi criado um projeto de gerenciamento de carreiras de atletas [Traffic Talentos] que acabou não dando certo. Existe algo parecido previsto com os jogadores do Desportivo Brasil?
FLF: Não. Em princípio esse não é nosso objetivo. Não queremos formar o garoto para ser o procurador dele. Pode ser que isso vá ocorrer para ajudar o garoto. Isso é o que faz o Atlético Paranaense hoje e que o Figueirense está começando a fazer. O garoto que estará conosco, vamos assessorá-lo como se fôssemos o procurador, e isso vai nos ajudar bastante, porque não teremos um procurador influenciando no trabalho. Na hora que o garoto for vendido, não vamos morder a nossa parte, o garoto vai ficar com mais para ele. A vantagem não é financeira, mas por não ter um procurador interferindo no trabalho. Na hora que o primeiro é comercializado, aí o elenco todo vai nos procurar.
ME: De onde vem a idéia de se investir nessa área?
FLF: Na verdade era uma coisa que o Julio [Mariz, presidente da Traffic USA] já tinha, que eu já tinha. A gente começou a trabalhar há seis meses nisso daí. Mas era uma coisa que a gente achava que tinha de entrar. Se a gente fizer bem feito, tem tudo para dar resultado. Tem muita gente fazendo esse trabalho mal-feito e tem tido resultado. A grande dúvida no começo foi de que a gente não tinha uma bandeira, mas em compensação a gente vai oferecer coisas que ninguém oferece. Mas hoje o pai do menino prefere colocar ele para jogar num time que ofereça todas as qualidades e não seja uma bandeira do que em qualquer time.
ME: Por que a decisão de comprar um time em Miami e não um time no Brasil, em que muitos clubes estão precisando de investimentos?
FLF: Primeiro porque em Miami a gente comprou uma franquia que vem zerada. Aqui, para comprar um clube, que não seja um clube-empresa, você terá de se submeter a conselho, seria praticamente um arrendamento. E aí você passa a ser responsável por todas as dívidas trabalhistas, todas as dívidas fiscais, tudo isso aí. É um ônus, que no Brasil você não encontra nenhum clube zerado. Quer dizer, até encontra, mas aí o cara não quer vender. Se ele quer vender, é porque está devendo alguma coisa. A gente chegou a estudar essa possibilidade, mas chegamos à conclusão de que não daria para fazer o que a gente quer fazer. Com o profissional do clube a gente ia acabar tendo alguns problemas que a gente não gostaria de ter. E em Miami a gente comprou uma franquia zerada, mais ou menos como se a gente comprasse uma franquia do Burger King aqui no Brasil. É o que fizemos aqui com o Desportivo Brasil. Criamos um clube do zero. Nós não temos torcida, não precisamos ter, não vamos botar pressão na comissão técnica para ganhar… A gente quis começar do zero, não pegar uma coisa viciada.
ME: Qual o objetivo com o Miami?
FLF: É ser campeão da liga. Na verdade temos vários tipos de intenção. Primeiro, na medida que vai desenvolvendo a liga, em termos de qualidade, o valor de sua franquia vai aumentando, o torneio vai ficando mais atrativo, vai gerando mais público, o patrocinador se interessa… A liga já tem um jogo por semana transmitido pela FOX, pode ser que passe a querer fazer dois. Enfim, na hora que começar a crescer começa a gerar mais receita para todo mundo que está na liga, seja em comercialização de direitos ou até mesmo na venda da franquia. Lá o objetivo é ganhar dinheiro como time profissional, comercializando direitos de transmissão, patrocínio, tíquete, tudo.
ME: E será feita uma aposta pesada no grande mercado latino de lá…
FLF: E pegando o mexicano também. Pode ser uma ponte para ir para o México. Hoje um dos times mais fortes, se não me engano, é um time de Porto Rico, que tem no futebol o seu quarto esporte. A gente imagina que clubes como o Ajax, que quer ter um time Ajax B nos Estados Unidos, não pode ter o time na MLS, só se ela mudar o estatuto. Então por isso a gente vislumbrou entrar na USL. Não tem formação no Miami. Os jogadores vão para lá prontos para ser campeões. Até para os garotos pode ser uma pré-adaptação para jogar em outros lugares.
ME: E por que não usar o nome da Traffic nos times?
FLF: A gente imaginou primeiro Miami porque é o nome da cidade. A gente imaginou, em termos de marca, que o melhor é ter o nome da cidade. A gente tem uma identificação com a cidade. E colocar aqui o nome haveria um problema com o nome estrangeiro. Criamos um nome mais ligado ao futebol, ao mercado latino. A gente colocou Desportivo Brasil porque o cara, em qualquer lugar do mundo, vai bater o olho e saber de onde é.
ME: Em termos de estratégia de marketing, o objetivo é fazer com que o Desportivo jogue no mundo inteiro?
FLF: Sim, é disputar muitos torneios pelo mundo. Estamos indo para a Soccerx [Feira de futebol, que está sendo realizada em Dubai] para apresentar o projeto lá, já marcamos reunião com diversos clubes que estão lá. É ter a temperatura para a internacionalização para disputar torneios lá fora por vários motivos. Um deles porque é uma vitrine. E segundo porque é uma oportunidade de o moleque ir para lá e ver como é diferente, e no futuro estar mais experiente. A gente tem de seguir o calendário da Federação Paulista e no intervalo consegue disputar esses outros campeonatos.