O investimento dos sites de apostas em patrocínio esportivo e o crescimento do setor de e-Sports são os dois principais novos ativos para os clubes brasileiros conseguirem aumentar suas arrecadações, segundo um relatório Convocados/XP que examina as finanças dos 26 principais clubes do Brasil.
No estudo, divulgado semana passada, em São Paulo, foram incluídos os 20 clubes da Série A do Brasileirão mais os quatro times que subiram para a elite em 2021 (Botafogo, Coritiba, Goiás e Avaí) e Cruzeiro e Vasco, que se mantiveram na segunda divisão, mas têm importância histórica para o futebol brasileiro.
Apostas sem regras
Para Rafael Plastina, sócio da consultoria Convocados, o mercado de apostas esportivas tem um grande potencial de crescimento que ainda não foi plenamente atingido. A situação em que atuam essas empresas no Brasil é curiosa.
O país aprovou uma legislação que permite apostas esportivas no dia 12 de dezembro de 2018, em lei sancionada pelo ex-presidente Michel Temer. No entanto, é necessário que, quatro anos depois, haja a regulamentação do setor, algo que ainda não foi feito. O prazo termina daqui seis meses.
Nesse período, as empresas de jogos de azar têm atuado no país sem nenhuma regra, o que cria insegurança jurídica no setor. O consumidor não tem plena consciência de quais empresas são idôneas e pagam premiação. Como todas não têm escritório no Brasil, é difícil reivindicar seus direitos em caso de calote.
A legislação já está pronta, falta a regulamentação. Vai vir esse investimento a qualquer momento [das empresas de aposta].
Já as empresas mantêm estrutura mínima no país, mas são obrigadas a realizar todas as suas operações no exterior por causa da ausência de regras. A regulamentação geraria abertura de postos de trabalho, arrecadação de impostos e, principalmente, segurança para o consumidor.
“A legislação já está pronta, falta a regulamentação. Vai vir esse investimento a qualquer momento”, afirmou Plastina sobre o esperado crescimento de patrocínios esportivos desse ramo de atividade após a regulamentação.
Segundo um cálculo feito por Cesar Grafietti, sócio da consultoria, o mercado potencial de apostas no Brasil seria de R$ 25 bilhões em receitas. Com a regulamentação, parte desse montante poderia ser direcionado aos clubes como royalties ou com negociações de direitos.
Marcas mais lembradas
Sem regras definidas, o setor cresce com o investimento de empresas estrangeiras para atrair o consumidor brasileiro. Uma pesquisa da Sport Track, feita em 2021, mostrou qual é a porcentagem dos torcedores que apostam, bem como as principais plataformas utilizadas pelos fãs.
“Hoje, já temos 28% da população que diz fazer alguma aposta esportiva. Essa pesquisa fizemos de maneira invertida. Primeiro, perguntamos que casa de apostas o torcedor utilizava, depois se ele consumia esse conteúdo e, finalmente, onde ele consumia. Às vezes, a plataforma é muito lembrada e pouco consumida”, contou Plastina.
Os sites mais lembrados foram: Bet365 (28%), Sportingbet (17%), Betfair (8%), Betano (7%), Loterias da Caixa (5%), Betway (5%), Casa de Apostas (3%), KTO (3%), Bet (3%) e Sportsbet.io (2%).
Patrocínios de apostas
As duas marcas mais lembradas, Bet365 e Sportingbet, são as que mais fizeram investimentos em publicidade na TV, principalmente nos canais esportivos. Já a Betfair tem estratégia diversificada para construção de marca. É patrocinadora de campeonatos, como a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana, além de ter adquirido os naming rights do Cariocão. Por último, ainda patrocina o Cartola, principal fantasy game do mercado brasileiro.
Outro investimento recente da empresa, com sede em Hammersmith (Inglaterra), anunciado no mês passado, foi o patrocínio máster do time feminino do Palmeiras, que também inclui exposição em conteúdos digitais do clube.
Quarta empresa mais lembrada pelo consumidor, a Betano também investiu em patrocínio de camisa e é patrocinadora máster de times como Atlético-MG e Fluminense. Assim como a Betfair, também foi patrocinadora do Cariocão, embora com propriedades menores.
Já temos 28% da população que diz fazer alguma aposta esportiva.
No exterior, a empresa, que tem sede na Grécia, também é parceira comercial de times como Sporting, Benfica, Porto, Braga e Marítimo (Portugal), Olympiacos e PAOK (Grécia) e Universidad de Chile (Chile).
A Betway, site de apostas com sede em Malta, é patrocinadora oficial da Stock Car. No futebol, é conhecida pelo investimento em clubes como West Ham, do qual é patrocinadora máster desde 2015, além de Atlético de Madrid, Alavés, Espanyol e Celta (Espanha); Stuttgart, Eintracht Frankfurt, Schalke, Hertha Berlin e Werder Bremen (Alemanha); Toulouse (França); Belenenses (Portugal); Brighton e Tottenham (Inglaterra). Nos Spurs, há apenas um patrocínio regional para os EUA.
A Casa de Apostas é outra que investe no patrocínio de camisa para conquistar visibilidade com o torcedor. É patrocinadora máster do Bahia e também já ocupou o mesmo espaço na camisa do rival Vitória.
De KTO, Bet e Sportsbet.io apenas a última fez investimentos significativos em patrocínio no futebol. É patrocinadora máster do São Paulo, além de ser parceira comercial da Copa do Brasil. Na Premier League, é patrocinadora de Arsenal e Southampton.
e-Sports como novo ativo
A pesquisa da Sport Track também apontou que 53% dos fãs de esporte jogam algum tipo de game eletrônico. O número dos que acompanham competições de e-Sports vem crescendo de forma acentuada. Esse grupo era de 10% das pessoas em 2018, passou para 20% em 2020 e, no ano passado, chegou a 37%.
“A pesquisa mostra que há um consumo cada vez mais consistente por parte da população. Os clubes começaram a investir em suas equipes de e-Sports na intenção de que isso vire, no futuro, uma fonte de receita, na medida em que esses eventos crescem e ganham espaço”, apontou Plastina.
Futebol (38%), Free Fire (13%), LoL (11%), Vôlei (10%), FIFA (5%), Natação (5%), MMA (4%), CS:GO (4%), Basquete (4%) e Fórmula 1 (3%) são os games mais citados pelos entrevistados, que utilizam celular (83%), computador (47%), videogame/console (45%) e tablet (15%) para jogar.
“A competição de Fórmula 1 digital pode chegar, em um futuro próximo, a movimentar mais dinheiro do que a própria Fórmula 1”, destacou Plastina.