Mesmo com as limitações impostas pela pandemia, o mercado europeu de futebol cresceu 10% em 2020/2021, atingindo uma receita de € 27,6 bilhões ou um incremento de € 2,4 bilhões em relação à temporada anterior, também afetada pela crise sanitária.
A 31ª Revisão Anual das Finanças do Futebol na Europa, documento formatado pela consultoria Deloitte, mostra que o aumento nas receitas para 2020/2021 é atribuído aos direitos de transmissão da temporada 2019/2020 e ao sucesso da Euro Masculina 2020, que acabou adiada para julho de 2021 e foi disputada na Inglaterra.
“É uma prova da resiliência da indústria, do valor impulsionado pelos acordos de transmissão e do sucesso da Euro, que o mercado europeu de futebol alcançou um crescimento tenaz em termos de receita durante o ano passado”, analisou Tim Bridge, sócio-líder do Sports Business Group, da Deloitte.
Premier League domina
O relatório da Deloitte destaca o domínio da receita das cinco grandes ligas nacionais europeias (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França), que representam 57% do mercado europeu e € 15,6 bilhões, um aumento de 3% em relação ao levantamento anterior. Isso amplia ainda mais a desigualdade entre essas competições e os demais países.
Das grandes ligas, a Premier League é a dona do maior faturamento. As receitas dos clubes da liga nacional da Inglaterra atingiram £ 4,9 bilhões, um incremento em relação aos £ 4,5 bilhões em 2019/2020.
A previsão da Deloitte é que em 2021/2022 esse montante chegue a £ 5,5 bilhões e a mais de £ 6 bilhões na temporada atual (2022/2023).
A Premier League melhorou os lucros operacionais totais no ano, de £ 49 milhões para impressionantes £ 479 milhões. Foi a única entre as cinco grandes a aumentar seu lucro.
Prejuízos
Sem a Premier League, as outras quatro grandes ligas nacionais tiveram quase o dobro das perdas operacionais totais, de € 461 milhões para € 901 milhões.
A Bundesliga (Alemanha) registrou uma queda de 6% na receita, para € 3 bilhões. A LaLiga (Espanha) também caiu 6%, para € 2,9 bilhões. Já a Serie A (Itália) aumentou a receita em 23%, para um recorde de € 2,5 bilhões. Esse resultado foi impulsionado por um aumento de 48% com os direitos de transmissão. Por fim, a Ligue 1 (França) cresceu 1%, arrecadando € 1,6 bilhão.
“É importante não esquecer a posição deficitária de muitos clubes. O impacto da pandemia de Covid-19 mudou fundamentalmente a gestão financeira do futebol europeu, com ligas e clubes tendo que buscar investimento externo e responder a uma mudança nas tendências em torno dos gastos com transferências e operações dos clubes”, afirmou Bridge.
Má gestão financeira
Segundo a Deloitte, a arrecadação da Premier League foi impulsionada por um adiamento de £ 330 milhões em direitos de TV, que deixou de ser computado no balanço de 2019/2020, e passou para a temporada seguinte.
Os custos salariais aumentaram 5%, chegando a £ 3,5 bilhões em 2020/2021, com apenas sete dos 17 clubes que se mantiveram na Premier League relatando uma redução na folha de pagamento. A relação entre salários e receitas da competição reduziu ligeiramente, de 73% para 71%, em 2020/2021.
Realidade diferente vive a Championship, a segunda divisão inglesa. Entre os 24 clubes que buscam um lugar na Premier League, os custos com salários superaram as receitas obtidas na temporada pelo quarto ano seguido. Essa relação está em 125%, segundo a Deloitte.
Crescimento da dívida
Enquanto os lucros operacionais dos clubes da Premier League aumentaram, as perdas antes de impostos permaneceram significativas, mas diminuíram de £ 991 milhões para £ 669 milhões. Este é o terceiro ano consecutivo em que os clubes da Premier League registram perdas antes de impostos, com apenas quatro clubes conseguindo lucro antes de impostos em 2020/2021.
No geral, a dívida líquida dos clubes da Premier League no final da temporada 2020/2021 aumentou 4%, atingindo um montante de £ 4,1 bilhões. Houve um aumento de £ 200 milhões em relação a 2019/2020.
“A dura realidade é que a liga conseguiu equalizar em lucro antes dos impostos, pela última vez, na temporada 2017/2018, destacando a necessidade crucial de uma governança forte e planejamento financeiro nos próximos anos”, destacou o executivo da Deloitte.
Chegada de investidores
A Deloitte afirma que houve um boom no investimento em clubes das cinco grandes ligas, com 87% dos investimentos feitos por indivíduos de alto patrimônio líquido e empresas de capital privado. Mais de dois terços desse dinheiro veio dos EUA.
O relatório também destaca o rápido aumento de investidores que são donos de vários clubes (MCO, na sigla em inglês). Há mais de 70 MCOs na Europa. Nove dos 20 clubes da Premier League operam dentro de um modelo desses.
“O futebol está se mostrando uma oportunidade atraente para um grupo crescente de investidores internacionais, cuja confiança foi impulsionada pela recuperação dos clubes pós-Covid”, comentou Sam Boor, líder de consultoria esportiva de M&A no Sports Business Group, da Deloitte.
“Para garantir que o novo investimento agregue valor a todos – em campo, nas arquibancadas e nas salas de diretoria –, há a importância do investimento responsável, que protege a sustentabilidade financeira e operacional dos clubes, e não pode ser subestimada”, finalizou o executivo.