A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) enviou uma nota oficial contestando uma reportagem da Máquina do Esporte que revelou os bastidores da negociação pelos direitos de transmissão da Copa do Brasil. Segundo a entidade, “acabou o tempo dos intermediários, dos agentes, dominando os corredores da CBF. A confederação negocia diretamente com os interessados. Os que estão reclamando é porque perderam a champanhe e o caviar”.
A Globo acabou ganhando a propriedade para todas as plataformas (TV aberta, fechada e streaming) no próximo quadriênio (2023 a 2026) em um contrato cujos valores não foram divulgados, mas estimado pelo mercado em cerca de R$ 600 milhões por temporada.
Segundo a Máquina do Esporte apurou, a licitação da Copa do Brasil, que vinha sendo conduzida pelo espanhol Lorenzo Perales, diretor de marketing da CBF, abarcou propostas de três agências de marketing para um período de oito anos: IMG, Infront e LiveMode.
Regras e prazos
De acordo com executivos que participaram da licitação, não houve regras claramente estabelecidas nem prazos de apresentação de propostas ou de resultado da disputa. A CBF exigia um mínimo garantido de R$ 400 milhões, quantia igual à que recebe atualmente. O que ganhasse a mais, serviria para aumentar a premiação dos clubes.
Após a apresentação de propostas por oito anos de contrato, a CBF avisou que o período havia diminuído para quatro temporadas, o que diminuía a atratividade do acordo para as agências.
A CBF, porém, contesta essa informação, confirmada por duas pessoas que participaram da licitação.
“Nunca houve qualquer discussão a respeito de um contrato superior ao período estabelecido pela entidade, que é de quatro anos. Uma das regras da atual administração é que os contratos sejam mais curtos”.
A confederação também afirmou haver “contradição da reportagem” por supostamente dizer que “não houve acesso à negociação” e informar “detalhes da mesma negociação”. O texto da Máquina do Esporte informou que suas fontes foram executivos ou pessoas envolvidas no processo de licitação que, apesar de atuarem para players diferentes, contaram histórias semelhantes sobre como foi conduzido o processo.
Contrato com a Globo
A CBF também exaltou que, com o contrato com a Globo, conseguiu “melhores resultados do ponto de vista financeiro”, imputando tal afirmação à reportagem, o que não condiz com a verdade. O texto da Máquina do Esporte informou que o aumento de 50% no pagamento pelos direitos de transmissão foi um bom negócio para a CBF. No entanto, um executivo do mercado disse que, caso houvesse fechado com uma agência, o faturamento poderia ser até R$ 100 milhões mais alto.
A CBF usou como exemplo o contrato da Copa do Brasil para afirmar que acabou a era dos intermediários na entidade. “Em cinco meses, desde que a nova gestão assumiu, já foram encerrados mais de 100 contratos com intermediários e terceirizados. Hoje, o mercado tem conhecimento que não se nomeia ou delega ninguém para negociar em nome da CBF”, declarou a entidade.
É louvável que a confederação afirme que esteja implantando um modelo mais moderno de gestão e governança. No entanto, esse tipo de acordo não engloba contratos com agências de marketing para a comercialização de campeonatos. É o modelo que a Uefa segue para vender as propriedades da Champions League, principal liga de clubes de futebol do mundo. A federação europeia tem acordo com a Team desde 2002, e a propriedade está avaliada em US$ 5 bilhões por temporada.
Nesse tipo de contrato, a agência garante um valor mínimo, estabelecido pela entidade, e há acordo de bonificação por contrato fechado, o que pode representar mais dinheiro para a competição. Assim, a agência não é intermediária. A empresa compra os direitos e passa, ela sim, a correr risco no negócio, se não garantir a remuneração estabelecida no contrato. Além disso, também só fecha um novo acordo comercial com a anuência da entidade que a contratou.
Não é o que ocorre com a Globo. Pelo contrato, a emissora carioca é livre para sublicenciar os direitos de transmissão a outros players, como já fez com o Amazon Prime Video para o streaming. Isso significa que a emissora não precisa consultar a CBF sobre qualquer novo negócio firmado.
Nota oficial
Leia abaixo a íntegra da nota oficial da CBF enviada à Máquina do Esporte:
A CBF esclarece que nunca houve qualquer discussão a respeito de um contrato superior ao período estabelecido pela entidade, que é de quatro anos. Uma das regras da atual administração é que os contratos sejam mais curtos. Causa estranheza a contradição da reportagem, uma vez que , por um lado reporta que não houve acesso à negociação e, por outro lado, informa sobre detalhes da mesma negociação, por meio de afirmações diversas, sem citação dos autores.
Vale ressaltar, como a própria reportagem admitiu, que a negociação com a Globo traz melhores resultados do ponto de vista financeiro para a entidade e para os clubes, sem ferir quaisquer regras do ponto de vista jurídico.
Em outubro do ano passado, a CBF constituiu uma comissão para negociar os direitos da Copa do Brasil. O processo durou praticamente 11 meses e a escolha foi embasada na melhor proposta que contemplasse benefícios para a CBF e os clubes. Essa decisão encerra a relação contratual de dependência com as agências, sempre visando a melhor escolha.
Hoje, todos os contratos da CBF têm um rigoroso dispositivo anticorrupção.
A CBF informa que acabou o tempo dos intermediários, dos agentes, dominando os corredores da CBF. A confederação negocia diretamente com os interessados. Os que estão reclamando é porque perderam a champanhe e o caviar.
Em cinco meses, desde que a nova gestão assumiu, já foram encerrados mais de 100 contratos com intermediários e terceirizados. Hoje, o mercado tem conhecimento que não se nomeia ou delega ninguém para negociar em nome da CBF.