Repórter que se notabilizou pelo trabalho na Globo, onde ficou por 18 anos, André Hernan, de 41 anos, estreará voo solo na Copa do Mundo do Catar 2022. Desde maio, o jornalista criou seu próprio canal, para falar de futebol, dentro da estrutura da NWB, que é dona de canais como Desimpedidos, Camisa 21 e Passa a Bola.
“Essa vai ser a Copa da minha vida. Porque vai ser um desafio gigantesco. Talvez o maior desafio da minha carreira. Vai ser tudo novo. Os acessos serão diferentes, a produção de conteúdo será diferente. Porque eu fazia jogo do campo por trabalhar em uma emissora detentora dos direitos [de transmissão]”, contou Hernan, em entrevista à Máquina do Esporte.
O foco da cobertura será em jornalismo, em trazer notícias exclusivas dentro do guarda-chuva da content tech, como a NWB se autointitula. A chegada do jornalista ao grupo criou uma nova frente para a empresa, que também terá conteúdos mais voltados para entretenimento durante a Copa.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
MÁQUINA DO ESPORTE: O que você está planejando para a cobertura da Copa do Mundo do Catar?
ANDRÉ HERNAN: Eu sou caçula aqui na NWB. Estou chegando agora nessa cobertura. Já tenho muita experiência de Copa, mas cobrindo por uma outra plataforma, para a Globo. Agora estou indo para esse desafio, com o canal, trazendo para NWB e para todo mundo o conteúdo de informação.
O Fred a gente já viu nas Copas trazendo muita coisa no Desimpedidos, muita alegria, muita coisa voltada para entretenimento. E eu vou trazer a informação. O foco do canal vai ser o dia a dia do Brasil e das principais seleções, o pré-jogo, os adversários, o Messi, com sua última Copa pela Argentina, e o Cristiano Ronaldo finalizando um ciclo em Portugal.
Vamos estar muito focados nisso, que é o quente, com lives, vídeos e short vídeos. Vamos entrar do estádio trazendo algum detalhezinho pós-jogo, sempre com esse viés da informação. E, claro, tentando sair na frente com notícia. Aí, entra um pouco da minha trajetória, da bagagem que tenho de cobertura, de conseguir essas informações. E para colocar a NWB nesse mapa de produção de conteúdo informativo, que é o que estamos fazendo desde que começamos já tem cinco meses.
MDE: O público que assiste aos vídeos de entretenimento do Desimpedidos é o mesmo que vê seus conteúdos informativos?
AH: Eu pego muito meus dois filhos como exemplo. A minha filha tem 12, e o menor tem oito. Hoje, eles estão muito mais envolvidos com meu trabalho. Meu trabalho antes era fazer uma matéria de dois minutos numa televisão ou fazer um jogo.
Hoje, eles estão mais focados aqui, querem participar, assistir, porque eles são de uma geração que vem do YouTube. A geração que cresceu gostando do Fred, do Bolívia, do Desimpedidos como um todo. E a minha chegada desperta esse interesse.
No começo, nos primeiros vídeos que gravei, eu tinha um retorno assim nas redes sociais: “Ah, o André agora está no Desimpedidos”. Conforme vamos colocando nossos conteúdos de informação, vamos mudando essa percepção. Tivemos a janela de transferências, que foi muito boa em notícias. Agora está um pouco mais equilibrado. As pessoas enxergam que estou na NWB e trago conteúdo informativo.
MDE: Mudou algo em relação ao trabalho na TV?
AH: Tem essa leveza na hora de passar a notícia, que eu acho que sempre foi um desafio para mim. Estou aprendendo com eles. Porque um link de 30 segundos é aquela coisa sisuda. Agora dá para fazer um vídeo ou uma live falando mais, sem limitação de tempo. Estou pegando muito da escola do Fred, da escola do Desimpedidos, que está me trazendo esse know-how que eu um dia vou alcançar para me tornar cada vez mais completo no digital.
MDE: A ideia é fazer essa sinergia durante a Copa? Como é que vai funcionar isso?
AH: Vou bater na porta do quarto do Fred. Falar assim: “Vem fazer uma live comigo aqui. Vem cornetar, vem vibrar”. A ideia é essa.
MDE: Como você acredita que será o dia a dia de trabalho no Catar?
AH: Essa Copa vai ser muito restrita. Estive lá no Mundial de Clubes e senti um pouco essa coisa, conversando com pessoas da organização, da Fifa. Eles já cravam que, de fato, essa não é uma Copa aberta, como a gente já viu em outras.
“Acho que o trabalho do digital, das plataformas, que a gente vai fazer é trazer o Mundial ao público que está no Brasil. É levar o cara para dentro do país, por dentro do clima da Copa”
André Hernan
Uma coisa é você transmitir os 90 minutos do jogo pela TV. Mas é na rede social que o cara vai sentir o clima da Copa. Acho que é um pouco também do nosso trabalho, não só com entretenimento, com alegria, como faz o Fred com aquela coisa da descontração e tudo mais, com a torcida, mas também com o lado informativo. O público vai ter na palma da mão tudo o que ele deseja numa Copa do Mundo. Vai se sentir na Copa. Pelo menos eu acho que esse é o nosso desafio.
MDE: E para você? Como vai ser encarar o desafio de cobrir a Copa em outra plataforma?
AH: Eu responderia que, por mais que tenha experiência em jornalismo e em coberturas anteriores, essa vai ser a Copa da minha vida. Porque vai ser um desafio gigantesco. Talvez o maior da minha carreira. Vai ser tudo novo. Os acessos e a produção de conteúdo serão diferentes. Porque eu fazia jogo do campo por trabalhar em uma emissora detentora dos direitos [de transmissão].
Agora, vai ser diferente não só na maneira de colocar o conteúdo no ar, de se expressar. Principalmente o desafio de ter a essência como notícia. Não quero ficar dentro do estúdio. Quero sair, sentir o cheiro do estádio e da rua. A essência vai ser essa, de trazer tudo diferente no digital. Contar de uma forma diferente, mas sempre com aquela essência que é da notícia. Colocando isso tudo no papel, é sem dúvida o grande desafio da minha carreira.
MDE: Como está sendo o desafio de produzir conteúdos diferentes para cada plataforma social?
AH: Tivemos todo um planejamento antes de o canal estrear, de usar as outras redes sociais como uma grande teia para abastecer a principal que é o YouTube. Mas o TikTok é uma plataforma que está abrindo muito espaço para informação.
“Estamos experimentando coisas muito boas. Para você ter um exemplo, o vídeo da entrevista do Willian, quando saiu do Corinthians, tem quase 1 milhão de visualizações dentro do TikTok”
André Hernan
Então, o TikTok vai ser, para mim, depois do YouTube, um local onde haverá muito consumo de conteúdo.
MDE: Mudou alguma coisa no acesso às fontes após sua saída da Globo?
AH: Acho que melhorou. Eu tinha esse receio se agora iriam me atender, sendo o André do canal da NWB. Foi exatamente o contrário. É mais fácil chegar aos locais.
Prova disso é um produto, que é o carro-chefe hoje do canal, que é o “André visita”. Vou ao CT, vou à casa dos jogadores, vamos aos locais, e a abertura é gigantesca. Do tipo chegar na academia de futebol e mexer nas coisas do [técnico] Abel Ferreira. Entrar na sala dele e ver o esquema que ele montou para o jogo, mostrar as peças. É uma abertura que talvez eu não tivesse se ainda estivesse na televisão.
Eu estou muito feliz com essa abertura e digo com muita tranquilidade que a minha vida como jornalista melhorou depois que eu vim para o digital. Está mais fácil. Tenho a percepção do peso que se tem ao falar que você é da Globo. A Globo foi muito importante para mim. Mas eu também soube dividir um pouco o espaço. Fui criando minha carreira como jornalista.
O que me ajudou muito nisso acabou sendo a rede social. Porque o meu conteúdo que era para a televisão, para o site, também ia para as redes sociais. Sempre trabalhei muito minhas redes sociais nessa questão de usar para divulgar minhas notícias. Então, quando teve essa mudança, esse movimento estava ali. E agora ficou muito mais fácil com o apoio e a estrutura que a NWB me dá.
MDE: Como é enfrentar o trabalho intenso de cobertura da Copa do Mundo?
AH: É aquela coisa de soltar a criança no playground. Ela pode estar com sono, mas não quer dormir. A gente vai estar ali no nosso parque de diversões, que é o que a gente faz no dia a dia. Chegar numa Copa do Mundo é o ápice das nossas carreiras. Independentemente se você é de notícias ou de entretenimento. Uma Copa é o grande momento. Então, dormir para quê? Depois tiro um cochilo lá e pronto.
MDE: Será semelhante ao que foi na Copa de 2018?
AH: Eu me lembro que, na Rússia, eu estava em Sochi com a seleção brasileira e ia para os jogos. Então, era diferente do Brasil, que pegava um voo fretado e ia direto para a cidade em que iria jogar. E a gente sempre ia da cidade para Moscou e Sochi. Eu dormia, na Copa da Rússia, por volta de três a quatro horas por dia. Fora toda a cobertura e a questão do fuso.
Então, no Catar, eu já conheço como é o fuso, trabalhar no fuso brasileiro estando lá no Catar foi a minha experiência no Mundial de Clubes. Foi maravilhoso. Já está tudo memorizado. Foi aquele Mundial em que o Palmeiras acabou caindo na semifinal [em 2021]. Cheguei lá uns dias antes, fiz uma quarentena. A pandemia ainda estava muito forte. Mas foi ótimo. Não senti muito o fuso, até me adaptei rápido. Acho que não vai ter muita dificuldade, não. Senão, a gente dá um jeito.