A grande maioria dos torcedores de futebol apoia que haja uma compensação financeira aos migrantes que trabalharam no Catar para as obras de infraestrutura da Copa do Mundo 2022. Esse é o resultado de uma pesquisa encomendada pela Anistia Internacional.
Apesar de a Fifa e o Comitê Supremo para Entrega e Legado, organizador da competição, terem ficado em silêncio, uma pesquisa do YouGov, com mais de 17 mil pessoas de 15 países, revelou que os torcedores apoiam a iniciativa.
O Brasil não participou da enquete. Foram entrevistados torcedores de Argentina, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Quênia, México, Marrocos, Holanda, Noruega, Espanha, Suíça, Reino Unido e EUA.
Quase três quartos (73%) dos torcedores apoiam o pedido de um fundo indenizatório e mais de dois terços (67%) querem que suas federações nacionais de futebol falem publicamente sobre as questões de direitos humanos associadas à Copa do Mundo no Catar.
Campanha global
No início do ano, uma coalizão de grupos de direitos humanos pediu à Fifa e ao Catar, anfitrião da Copa do Mundo, que indenizem os trabalhadores migrantes e suas famílias pelos abusos de direitos humanos que sofreram com a campanha #PayUpFifa, exigindo um fundo de US$ 440 milhões, o equivalente ao prêmio em dinheiro que será oferecido às seleções que disputarem o Mundial.
“Essas descobertas enviam uma mensagem clara à liderança do futebol. Em todo o mundo, as pessoas estão unidas em seu desejo de ver a Fifa intensificar e reparar o sofrimento sofrido pelos trabalhadores migrantes no Catar”
Steve Cockburn, diretor de Justiça Econômica e Social da Anistia Internacional
“Eles também querem que suas associações nacionais assumam uma postura muito mais firme”, acrescentou.
Pouco resultado prático
Para a Anistia Internacional, a Fifa deveria levar em conta os resultados da pesquisa para se pronunciar sobre o problema. A federação de futebol, porém, tem repetido que as condições para os trabalhadores melhoraram graças à Copa do Mundo e que monitora a situação.
“Os entrevistados [da pesquisa] podem não estar totalmente cientes das medidas implementadas nos últimos anos pela Fifa e seus parceiros no Catar para proteger os trabalhadores envolvidos na entrega da Copa do Mundo”, afirmou a entidade.
Os torcedores podem apoiar a criação do fundo, mas as federações nacionais de futebol dos países participantes da Copa do Mundo têm sido menos receptivas à ideia. Uma pesquisa, realizada no mês passado pelo jornal inglês The Independent, descobriu que nenhuma entidade apoiou publicamente a iniciativa. As federações de Bélgica, Dinamarca, Holanda, Inglaterra, Alemanha e Noruega, porém, sinalizaram apoio, a princípio.
“O Catar não está cumprindo sua obrigação por abusos históricos”, criticou Lise Klaveness, presidente da Associação Norueguesa de Futebol.
Apesar da declaração mais contudente, a Noruega não se classificou para a Copa do Mundo e tem pouco peso para encampar a iniciativa, que exigiria a participação ativa de federações com maior relevância no futebol internacional.
“Com menos de 50 dias para o pontapé inicial, o relógio está correndo. Mas ainda há tempo para a Fifa fazer a coisa certa”, disse Cockburn, da Anistia Internacional.
“Os torcedores não querem uma Copa do Mundo para sempre manchada por abusos dos direitos humanos. O passado não pode ser desfeito, mas um programa de compensação é uma maneira clara e simples para que a Ffifa e o Catar possam fornecer pelo menos alguma medida de reparação às centenas de milhares de trabalhadores que tornaram este torneio possível”, completou o diretor da ONG.