O Campeonato Amazonense 2010 terminou com decepção para a população de Manaus. O campeão foi o Penarol, time de Itacotiara, segunda cidade do Estado, com 90 mil habitantes. A conquista ilustra a situação dos times da capital: abandonados pelos próprios torcedores, que adotaram equipes do Sudeste, principalmente os cariocas, como principal paixão no futebol. Agora, o América da cidade quer mudar esse cenário e, para isso, vai se transformar completamente.
Nome, símbolo, hino, cores e mascote serão deixados para trás e darão espaço para um time verdadeiramente local. Ficarão apenas a história e os títulos do velho América. Dahn Israel, responsável pelo marketing do novo clube, não deixa dúvida qual é a ideia: “É pra ser bairrista mesmo. Temos que ter identificação com a população”.
O projeto surgiu das mãos de Israel. Publicitário e dono de uma agência de marketing esportivo, ele trabalhou em um dos rivais do América, o Nacional: “Lá eu percebi o quanto era difícil fazer algo em um time de Manaus. Não tem apoio, não tem público, não tem verba”. Ele e o sócio Thiago Ramos foram atrás da colaboração da Travassos Projetos e Deportos, empresa de marketing esportivo de Pernambuco que já trabalhou com clubes como o Santa Cruz, e criaram todo o plano.
O passo seguinte foi apresentar o modelo ao dono do atual Manaos, Amadeu Teixeira, de 84 anos. ?
“Apesar da idade, ele mostrou ter uma cabeça muito aberta. E como ele não é envolvido na política, diferentemente dos presidentes dos outros clubes, é uma pessoa de boa aceitação na região”. Somado a esse fator, o time era o único do Amazonas na Série D do Campeonato Brasileiro e, na época (2009) era o campeão estadual.
A equipe de marketing do Manaos realizou então uma série de pesquisas que apontaram que os times da cidade, como o São Raimundo, o Nacional e o próprio América tinham imagem arranhada com os manauaras. “Eles iam bem no Estadual, mas chegavam nos campeonatos nacionais e iam muito mal. Não subiam de divisão e na Copa do Brasil nunca avançavam”, afirma Israel.
Nas pesquisas, os profissionais chegaram à conclusão que não havia nenhuma identificação com os clubes locais. O maior público do América foi de apenas quatro mil pessoas em 2010, mas o estádio chegou a ficar com apenas 60 pagantes quando o time já estava desclassificado do Estadual. Em 2014, a cidade terá o novo estádio Vivaldão, com capacidade para 45 mil pessoas. O objetivo do grupo é que o novo time já esteja na Série B do Campeonato Brasileiro e, claro, com uma média de público bem maior.
A primeira mudança se deu no nome, definido já nas pesquisas. Manaos, com “o”, foi o primeiro nome da cidade, uma homenagem à tribo indígena Manaós. As novas cores, o preto e o verde, representam o Rio Negro e a Floresta Amazônica (respectivamente). A mascote, também decidida pelo público, passou do diabo para o jaguar; hoje a cidade se divide entre católicos e protestantes.
Com o projeto fechado, os dirigentes do novo clube foram atrás de parceiros que pudessem viabilizar algo mais promissor dentro de campo. Surgiu a Honda, que ainda não fechou o contrato, mas que tem planos aprovados e bem encaminhados. Como existe uma carência no centro de treinamento, a montadora de veículos disponibilizará um espaço próprio, destinado a programas sociais que envolvem o futebol. Além disso, o acordo poderá envolver auxílio em transporte, um patrocínio máster e o naming right; se for fechado, o time se chamará Honda Manaos FC.
Para divulgar o novo time, o uniforme será eleito em uma campanha no maior jornal da cidade, o “A Crítica”. Os jogos da Série D serão transmitidos pelo canal fechado Amazon Sat, que pertence à Rede Amazônica, da Rede Globo. Dahn Israel contará também com campanhas publicitárias em outdoors e no próprio periódico local. Para finalizar e aumentar a regionalização do clube, o programa de sócio-torcedor destinará parte de sua arrecadação para uma ONG ambiental, que pediu para não ter o nome divulgado ainda. Assim, o Manaos colocará o slogan “Defendendo a Amazônia dentro e fora de campo”.
Se dará certo, Dahn não pode afirmar: “É um projeto de longo prazo e não podemos estimar a aceitação. Mas a sexta capital mais rica do país deve ter um time mais forte no cenário nacional”. A fórmula já está em campo.