Copa x Copa

Gianni Infantino, presidente da Fifa, anuncia o Brasil como sede da Copa do Mundo Feminina de 2027 - Reprodução

Quando a bola da Copa do Mundo de Futebol Feminino rolar pela primeira vez em 2027, no Brasil, 13 anos e um abismo financeiro a separarão da versão masculina. E me faço uma pergunta muito simples: o que esperar do torneio?

A pergunta pode ser simples, mas a resposta nem tanto. Então, vamos começar pela parte esportiva para facilitar. Espero jogos memoráveis, golaços, grandes defesas e lances incríveis de craques globais. Também espero ver o Brasil levantar a taça, mesmo sabendo que a competição é acirrada e talvez não sejamos a seleção favorita. Mas ainda faltam três anos. Os ventos boleiros podem soprar a nosso favor.

Agora, vamos à parte complicada da resposta, a extracampo. Espero centenas de jornalistas cobrindo o evento e câmeras levando as imagens que descrevi acima para os quatro cantos do planeta, estimulando ainda mais as marcas globais a ativarem patrocínios e interagirem com torcedores do mundo todo, trazendo valores milionários para o jogo. Também espero alguma marca tentando disfarçar uma ativação de marketing de guerrilha (como acontece em todo evento com exclusividade de marcas), por saber que é a chance de chamar a atenção de um público engajado por um valor bem menor do que o investido pelos parceiros. E, acima de tudo, espero ver o despertar das empresas brasileiras para um nicho que já nem deveria mais ser chamado assim, visto que futebol é o esporte mais praticado no país e, hoje, são milhões de mulheres praticando, e homens e mulheres assistindo a elas fazendo bonito em campo.

Digo isso porque a relação das empresas com o futebol feminino sempre foi fugaz, um romance de verão com data marcada para terminar: o fim das grandes competições em que craques como Marta estavam presentes. Foi preciso exigir que os clubes tivessem equipes femininas e ameaçar o masculino de não jogar torneios oficiais, caso descumprissem a exigência. Só então vimos crescer o investimento nas atletas e a melhoria das estruturas. Infelizmente, a atenção e o avanço não são uniformes, é verdade. Mas os clubes que têm realizado trabalhos sérios vêm colhendo os frutos, seja há tempos, como Ferroviária e Corinthians, ou mais recentemente, mas com grandes somas envolvidas, como o Palmeiras e o maior patrocínio máster da história do futebol feminino no país.

Além disso, investimento em mídia precisa de… cobertura da mídia. É o que patrocinadoras e parceiras esperam quando resolvem colocar a verba de marketing nas equipes e competições femininas. Com o interesse cada vez maior pela transmissão dos jogos delas, empresas de mídia têm se visto quase que obrigadas a comprar seus direitos, dando a visibilidade esperada. E tudo isso faz a roda (ou a bola) girar, em um círculo virtuoso que tende a trazer mais empresas para o jogo, gerar novas oportunidades comerciais para quem quer patrocinar, ativar a marca e criar uma relação mais próxima com o público. Tudo isso, consequentemente, aumenta os valores envolvidos.

Pensando em tudo isso, sou obrigado a reler o início desse artigo e me corrigir: quando a bola da Copa do Mundo de Futebol Feminino rolar pela primeira vez em 2027, no Brasil, 13 anos a separarão da versão masculina. Mas não mais um abismo financeiro, e sim alguns passos. É o que espero, e me dou o direito de pensar assim por saber que empresas e grupos de mídia já perceberam a grande oportunidade que o crescimento do futebol feminino e o Mundial no Brasil trazem para elas. Se posso me corrigir, quem investe também pode. E deve.

Reginaldo Diniz é cofundador e CEO do Grupo End to End e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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