A forma de consumo de conteúdo evolui a cada dia. Lembro-me de que, quando comecei a negociar conteúdo, tínhamos apenas duas plataformas: a TV aberta e a TV por assinatura. Além disso, a cláusula de plataformas era simples, e tudo se definia em uma linha.
Com a evolução da tecnologia, agora são páginas e mais páginas em um contrato apenas para a definição de plataformas e o que exatamente se quer dizer com cada nova sigla. A da vez é a Fast, abreviação de Free Ad-supported Streaming TV.
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Na semana passada, durante o evento Rio2C, que aconteceu na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ), foram muitos os painéis que debateram sobre o tema, inclusive um que, a convite da Samsung, eu mediei e no qual tive a companhia da Teresa Penna, da CazéTV, e do Virgílio Abranches, da CNN.
O foco desse painel foi justamente o impacto que o conteúdo ao vivo vem trazendo para o serviço das TVs conectadas da marca, o Samsung TV Plus. A única diferença é que, no caso de eventos esportivos e até shows musicais, existe um pico de audiência alto, mas de curta duração, enquanto o jornalismo não tem tanto estes picos, mas a audiência se sustenta por mais tempo, como afirmou o gerente sênior de desenvolvimento de negócio da Samsung, Felipe Gagliardi, em um outro painel.
Confesso que a primeira vez que ouvi falar de Fast achei que seria uma coisa passageira, pois com o VOD (sigla de Vídeo Sob Demanda) alterando a regra e deixando o consumidor escolher a hora que quer assistir a um determinado conteúdo, e a audiência e consumo lineares caindo em outras plataformas, minha conclusão foi de que as pessoas não voltariam a consumir um conteúdo linear que elas não escolhem quando começa.
Pois bem, eu estava errado.
Atualmente, 31% dos usuários de CTV (TV Conectada) preferem a Fast TV e apenas 28% preferem o VOD, de acordo com uma pesquisa apresentada pela diretora-geral da Comscore no Brasil, Ingrid Veronesi.
Nesta mesma pesquisa, o esporte aparece como o conteúdo mais popular para 63% dos entrevistados e este é o meu foco nesta coluna. Como comentei lá no início, o VOD chegou para mudar um pouco a forma de consumo e aquele compromisso de assistir ao programa, novela, evento, jornal, etc. na hora que a “TV manda” virou meio que coisa do passado, pois este conteúdo, hoje, pode ser consumido pela TV, mas também por meio do celular, tablet ou computador, independentemente de onde o consumidor esteja, seja este conteúdo “ao vivo”, na hora que está “passando na TV” ou em delay (atraso), em um momento mais conveniente para o usuário.
Já o esporte continua sendo aquele conteúdo que marca hora e a gente para tudo para assistir, pois o bom é assistir ao esporte ao vivo. Não vou dizer que ninguém (pois posso e provavelmente vou errar), então afirmo que quase ninguém pararia para assistir a um VT de um jogo que aconteceu algumas horas antes. O esporte continua marcando e conduzindo o nosso compromisso com horário, e a única diferença agora é que não dependemos mais da TV, mas sim de qualquer aparelho conectado à internet.
O modelo da Fast TV, como o próprio nome diz, é alimentado pela publicidade, e as marcas estão embarcando nessa nova tecnologia abraçando o novo meio que vem crescendo desde sua criação em 2013. Mas só se monetiza o conteúdo que performa, ou seja, que dá audiência, como o esporte e o jornalismo. Um trabalho de curadoria de canais e de conteúdo dentro dos canais é de extrema importância para que os números aumentem ainda mais e a roda continue girando.
Canais que nasceram no digital, apenas abrindo e fechando janelas de transmissão ao vivo no YouTube, como a CazéTV e o Goat, já veem hoje a Fast TV como mais uma janela e um ponto de contato com o seu espectador/fã. Além de mais uma oportunidade de monetização do conteúdo, atingindo uma audiência complementar que não está no YouTube.
É, definitivamente e para queimar a minha língua, a Fast TV veio, sim, para ficar.
Evandro Figueira é vice-presidente de mídia da IMG na América Latina