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Muita demanda, nenhuma formação: O buraco na educação dos negócios esportivos

No Brasil, o aprendizado nessa área é uma tarefa quase solitária; se quisermos levar o esporte a sério como indústria, precisamos levar a formação a sério também

Unir educação e esporte é essencial para que a indústria esportiva cresça no Brasil - Arte / Ticket Sports

Se você quiser trabalhar com negócios do esporte no Brasil, prepare-se: você precisará aprender tudo (quase) sozinho.

Há pouquíssimos cursos dedicados ao tema, e quase nenhuma profundidade.

Quando comecei minha trajetória no setor, procurei alguma especialização decente. Achei uma ou outra alternativa, mas todas pareciam a mesma coisa. Repetitivas, rasas e sempre voltadas ao futebol profissional.

A ESPM tem seu curso de extensão (e qualidade, como sempre), mas eu já o tinha feito ainda na graduação. E, de lá pra cá, pouca coisa mudou.

A CBF Academy oferece algumas opções. A Fifa, o Johan Cruyff Institute e outras instituições internacionais também lançam iniciativas de tempos em tempos. Mas tudo é sazonal, eventual. E a sensação permanece: há muita carência e pouca inovação.

Um mercado inteiro fora da grade

Mesmo nos cursos tradicionais de Administração, Marketing ou Gestão, é raríssimo encontrar qualquer conteúdo ligado ao esporte, nem mesmo como matéria eletiva.

Recentemente, conversei com alunos da FGV, do Insper e da própria ESPM. Todos sentem a mesma ausência: falta preparo acadêmico para atuar em um dos setores mais dinâmicos (e carentes) da economia criativa.

A FGV e o Insper, por exemplo, têm boas Ligas de Gestão Esportiva, que acabam sendo o único espaço de aprendizado real para quem quer trabalhar na área ainda na faculdade.

E agora um  paradoxo: o conhecimento circula mais nos corredores informais do que nas salas de aula.

Não há mestrado, não há doutorado

Se você quiser seguir carreira acadêmica ou fazer uma pós de verdade em negócios do esporte no Brasil, desista. Não há. Nenhum mestrado. Nenhum doutorado. O que existe são caminhos transversais, geralmente dentro de programas de Educação Física ou Sociologia.

Mas esses cursos têm outro foco, estão distantes do mundo real dos negócios, e dificilmente formarão alguém preparado para gerir, empreender ou inovar no setor.

O mais grave? Isso não parece incomodar ninguém. E o pior: não formamos professores para isso.

Trevisan, cadê você?

A Trevisan foi, por muitos anos, a escola que mais apostou em unir educação e esporte.

A instituição criou o primeiro MBA realmente voltado ao setor e, por um tempo, foi referência. Mas perdeu o fôlego. Tornou-se 100% EAD, focou em educação corporativa e, hoje, depende fortemente de parcerias para se manter.

O conteúdo pouco evoluiu. Os cursos ficaram genéricos. E o formato on-line, embora prático, afastou o estudante da vivência de campo, algo essencial no setor esportivo.

Ainda assim, é (ou foi) uma das poucas tentativas de criar algo consistente nessa interseção entre academia e mercado.

A consequência? Falta gente preparada

O mercado brasileiro tem uma demanda real por profissionais de gestão, marketing, direito e tecnologia voltados ao esporte. Mas não há formação para isso.

E o resultado é um ciclo de repetição: eventos com os mesmos palestrantes, soluções recicladas e pouca inovação.

Mesmo no futebol, que domina 90% das atenções, há um certo esgotamento. É um ambiente altamente político, onde novas ideias são engolidas pelo status quo.

As melhores inovações no futebol brasileiro vêm de fora: da MLS, da Premier League, do ecossistema espanhol. E isso diz muito.

Estamos atrasados

O Brasil ainda opera no improviso. Com um mercado gigantesco, apaixonado e promissor, mas, infelizmente, sem estrutura educacional que sustente esse potencial.

Se quisermos levar o esporte a sério como indústria, precisamos levar a formação a sério também. E isso começa por criar centros de excelência, cursos consistentes e oportunidades reais de aprendizado.

Só assim vamos deixar de formar sobreviventes. E começar a formar líderes.

Daniel Krutman é empreendedor e publicitário. Formado em Comunicação Social, pós-graduado em Ciências do Consumo e mestre em Marketing Digital, ocupa atualmente o cargo de CEO da plataforma de vendas de inscrições Ticket Sports, além de ser fundador da The Squad Academy, hub de conteúdo para o esporte