Os 10 anos da nova geração de arenas no Brasil

Em 30 de outubro de 2007, o Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de Futebol Masculino. O que se seguiu dali em diante em termos econômicos, políticos, culturais e esportivos demonstra que a década de 2010 representou um caso à parte na história nacional. Além de receber não apenas a Copa em 2014, mas também os Jogos Olímpicos dois anos depois, o país enfrentou uma onda de protestos de rua em 2013, um impeachment presidencial em 2016 e uma profunda crise política e econômica nos anos seguintes.

Além das exigências relacionadas à infraestrutura de mobilidade urbana e turística, um dos principais itens demandados pela Fifa diz respeito, obviamente, à qualidade das instalações esportivas onde se darão os jogos. E assim, de uma hora para outra, o Brasil se viu forçado a finalmente levar seus estádios ao encontro dos melhores padrões internacionais.

A Copa do Mundo de 2014 aconteceria em 12 cidades-sedes, e cada uma deveria providenciar a oferta de um estádio de acordo com o caderno de encargos da Fifa. Além disso, clubes com estádios que não receberiam a Copa resolveram lançar seus projetos de nova arena, casos de Grêmio e Palmeiras.

Em 8 de dezembro de 2012, era inaugurada a primeira arena da nova geração: a Arena do Grêmio. Em seguida, vieram as 12 arenas que seriam palco da Copa e o Allianz Parque, novo estádio do Palmeiras. E assim surgia um ambiente completamente novo: 14 estádios de última geração, com cerca de 700 mil assentos no total, nos mais altos padrões de qualidade. Com pelo menos 15 anos de atraso em comparação com mercados mais desenvolvidos, finalmente ingressávamos no mundo das arenas multiuso.

Passados dez anos, é possível fazer uma avaliação do que de fato evoluiu e o que ainda precisa ser melhorado para os próximos anos a partir de três dimensões: presença de público, impacto econômico e qualidade da experiência do espectador.

Houve evolução de público nos estádios. A Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino registrou uma média de quase 22 mil pessoas por jogo em 2022, o que representa um aumento de 63% em dez anos. É possível atribuir parte relevante deste crescimento à melhoria da qualidade das instalações. Gramado bem cuidado, iluminação adequada, segurança, conforto e novos serviços atraindo um público novo são questões que contribuíram para aumentar a atratividade do espetáculo.

Com as arenas multiuso, aumentou também o fluxo de eventos. Não à toa, o Allianz Parque é um dos estádios que mais recebe eventos de grande porte no mundo, tendo batido o recorde mundial em 2017: 16 ao longo daquele ano.

A melhor entrega em todos os sentidos aumentou o tíquete médio, assim como a oferta de camarotes e setores premium trouxe um público que não participava antes, o empresarial, gerando resultado econômico para toda a cadeia produtiva do setor.

Mas nem tudo são flores. A taxa de ocupação média dos estádios no Brasileirão é de cerca de 60%, e 4 milhões de ingressos não são vendidos em cada edição, o que significa muita perda de receita. Nas principais ligas de futebol da Europa, os patamares são de 95% de ocupação.

Ainda com relação ao impacto econômico, os “naming rights” tiveram pouquíssimos casos bem-sucedidos. São apenas cinco atualmente. Em dez anos, é muito pouco. Além disso, havia a expectativa de que a modernização do processo de venda de ingressos pudesse acabar com a prática do “cambismo”, o que não aconteceu, pois é uma atividade notoriamente ainda existente.

Mesmo que alguns dos projetos das novas arenas tenham se mostrado problemáticos, com baixa demanda de público local, é inegável, na média, que houve um salto na qualidade das instalações esportivas. Apesar disso, ainda há muito por fazer, e os gestores têm vários desafios pela frente.

O que significa também mais oportunidades para quem quer fazer a diferença e contribuir para o contínuo desenvolvimento desse mercado.

Fernando Trevisan é diretor da Trevisan Escola de Negócios e especialista em marketing esportivo

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