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Por trás da performance: A rede invisível que sustenta o futebol de alto rendimento

Ninguém constrói carreira saudável sem rede de apoio sólida e isso, quase invariavelmente, inclui a família

Rede de apoio é fundamental para a performance esportiva

Rede de apoio é fundamental para a performance esportiva

Nas últimas semanas, duas entrevistas chamaram a atenção de quem acompanha o futebol para além das quatro linhas. O atacante do Betis, Antony, ao ser convocado novamente para a seleção brasileira, abriu o coração e falou sobre o período mais difícil de sua vida profissional, durante a passagem turbulenta pelo Manchester United. Ele contou que chegou a se trancar no quarto, sem conseguir se alimentar, e que pensou seriamente em desistir. Segundo ele, foi o apoio da família que o manteve de pé.

Poucos dias depois, o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, também se emocionou ao falar sobre o quanto sua esposa e suas filhas são determinantes para que ele siga em alto rendimento e, em especial, foram determinantes para sua permanência no Brasil, mesmo enfrentando o desafio de viver longe da terra natal. Na entrevista ao jornal O Globo, Abel reconheceu que a presença da família, hoje com ele em São Paulo, foi um fator decisivo para continuar no cargo e que são elas que o oferecem o suporte emocional necessário especialmente nos momento difíceis e de derrota.

Esses relatos evidenciam uma verdade que muitas vezes fica invisível no mundo do futebol de alto rendimento: ninguém constrói uma carreira sustentável e saudável sem uma rede de apoio sólida e isso, quase invariavelmente, inclui a família.

Ao longo da minha trajetória como gestora de carreira — e também como mãe de atleta — vejo diariamente o impacto que a estrutura familiar tem sobre as escolhas da carreira no esporte e na saúde emocional de jogadores e profissionais do futebol.

Quando estamos falando de atletas jovens, esse apoio não se trata apenas de apoio afetivo, que é parte essencial para o desenvolvimento de toda criança e adolescente. Trata-se, também, de orientação, filtro e proteção contra as inúmeras armadilhas do mercado.

Atletas estão sendo abordados cada vez mais cedo, por isso, o papel da família vem se tornando ainda mais importante. Mesmo com a proibição expressa no regulamento da Fifa, crianças de apenas 8, 10 ou 12 anos já são abordadas por intermediários, clubes e supostos empresários com promessas grandiosas. Nem sempre essas abordagens são responsáveis ou realistas. Muitas vezes, são movidas por interesses comerciais imediatos, sem qualquer preocupação com o desenvolvimento humano e a visão de longo prazo para a carreira do atleta.

Diante disso, cada dia vemos mais pais e mães buscando conhecimento e formas de dar o suporte necessário aos seus filhos e filhas durante a jornada rumo ao sonho de atuar profissionalmente no futebol. Com isso surgem, também, pessoas como eu, dispostas a compartilhar conhecimento e vivência com foco em inspirar e oferecer um direcionamento para quem esteja neste caminho.

Plataforma de apoio

Nesse sentido, compartilho um exemplo que admiro e que tem feito a diferença para muitas famílias. Márcia Lewis, mãe de Myles Lewis-Skelly, jovem talento do Arsenal, decidiu transformar sua própria experiência em uma plataforma de apoio a outras famílias que vivem os desafios de ter um filho atleta. Ela foi além das orientações e mentorias e fundou o No.1 Fan Club, uma comunidade criada para ajudar pais e mães a se prepararem emocional e estrategicamente para apoiar seus filhos.

O No.1 Fan Club trabalha para que as famílias tenham acesso a informações qualificadas, compreendam os diferentes cenários que o futebol pode oferecer e estejam prontas para ajudar os atletas a tomarem decisões mais assertivas — seja em momentos de transição, de contratos ou de abordagens de agentes. Tudo isso para evitar que sonhos sejam desperdiçados por falta de orientação ou por decisões tomadas com base em promessas ilusórias.

O futebol de alto rendimento exige muito! Dedicação, talento, resiliência e inteligência emocional. Mas também exige rede de apoio, orientação estratégica e qualificada, especialmente quando se fala de crianças e adolescentes em formação. A intenção genuína de ver o progresso pessoal e profissional de um jovem, associada à conhecimento, pode contribuir significativamente para colocar o atleta em seu melhor potencial de sucesso na carreira esportiva.

Por trás de cada vitória e de cada recomeço, sempre haverá alguém que foi o primeiro a acreditar. E que continua sendo “No.1 Fan”. Por isso, fica aqui a reflexão: enquanto a indústria segue acelerando o processo de captação e buscando identificar talentos cada vez mais jovens, é essencial que a família siga sendo o principal alicerce. Sempre seremos os torcedores número 1 e se tivermos preparo e informação será possível ir para além da torcida apaixonada e incondicional, e poderemos contribuir com consciência para o projeto de vida e de carreira do atleta.

Ana Teresa Ratti possui mais de 20 anos de experiência corporativa, é mestra em Administração, e trabalha atualmente com gestão esportiva, sendo cofundadora da Vesta Gestão Esportiva