Este é um ano de Copa do Mundo Feminina, que será disputada a partir do dia 20 de julho, na Austrália e na Nova Zelândia. Nada mais justo, portanto, que a série com os perfis das dez “Mulheres Líderes da Indústria Esportiva”, publicada neste mês pela Máquina do Esporte, seja concluída com uma pessoa cuja atuação poder ser considerada crucial para essa modalidade.
Estamos falando de Aline Pellegrino. Torcedores e torcedoras mais antigos se lembrarão dela nos gramados, levantando troféus com o Santos, time pelo qual conquistou duas Copas do Brasil e duas Libertadores Femininas, em 2009 e 2010.
Ou de suas atuações de destaque pela seleção brasileira, quando foi campeã dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e vice na Copa do Mundo Feminina de 2007, na China.
Depois de se aposentar dos gramados, Aline continuou se dedicando à modalidade que a consagrou. Atualmente, porém, a ex-zagueira se destaca como gestora. Ela é coordenadora de competições femininas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), estando à frente da organização dos principais campeonatos do país.
Disputando com os meninos
Dias atrás, em seu perfil no Instagram, Aline Pellegrino anunciou a premiação de R$ 1 milhão que a CBF pagará ao clube campeão do Brasileirão Feminino 2023. O vice-campeão levará R$ 500 mil. A quantia, embora esteja bem abaixo das que são oferecidas nas competições da entidade protagonizadas por homens (em 2022, o Flamengo abocanhou R$ 60 milhões, ao faturar a Copa do Brasil masculina), representa um avanço.
O Brasileirão Feminino 2023 distribuirá R$ 5 milhões entre seus 16 clubes participantes. O prêmio da equipe campeã equivale a cinco vezes o que foi pago na edição do ano passado.
“Mais um passo importante no processo de desenvolvimento do futebol feminino”, comemorou Aline, na rede social.
Ela sabe que, por mais urgentes que as mudanças se apresentem, a jornada para que elas ocorram costuma ser repleta de barreiras e muita luta. Nascida no Tremembé, em São Paulo, desde cedo ela se interessou pelo esporte, costumando jogar futebol com os meninos pelas ruas do bairro.
Aos 15 anos, entrou para o time feminino do São Paulo, que disputou e foi campeão da Taça Brasil de 1997. Dois anos mais tarde, porém, acabou deixando o clube, porque não conseguia conciliar os estudos com a vida de atleta.
A educação, aliás, teve um papel decisivo para a fase atual da carreira de Aline. Formada em educação física pela UniSant’Anna (licenciatura e bacharelado) no ano de 2004 (quando conquistou a medalha de prata em Atenas), ela é pós-graduada em administração e gestão esportiva pelo Centro Universitário Senac.
A conquista pela seleção deixou a atleta em evidência, abrindo caminho para uma carreira vitoriosa, especialmente nos tempos de Santos. Em 2013, Aline aposentou-se como jogadora, mas estava ainda disposta a continuar atuando no futebol.
Trajetória pós-gramado
Inicialmente, Aline teve a ideia de seguir a trajetória da maioria das pessoas que brilharam como atletas. Ou seja: ser treinadora de futebol. Sua primeira experiência foi no Vitória de Tabocas, em Pernambuco, mas durou apenas três meses, apesar da conquista do Estadual.
No ano seguinte, ela coordenou o departamento de futebol do Sírio, de São Paulo. De janeiro a julho de 2016, ocupou o cargo de supervisora técnica no Corinthians, que, nos anos seguintes, acabou firmando-se como uma das principais potências da modalidade no país e na América do Sul.
Após essa passagem pelo alvinegro, Aline foi convidada para assumir como diretora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF), onde permaneceu até 2020.
Desde então, ela ocupa o cargo de coordenadora de competições femininas da CBF. Aline também é representante do Fifa Legends (iniciativa em que a entidade reconhece personalidades que deram contribuição decisiva para o futebol mundial) e embaixadora da Conmebol.
Destaque e desafios
A gestão de Aline Pellegrino à frente das competições de futebol feminino no Brasil coincide com o período em que a modalidade vai se consolidando e buscando sua expansão no país.
No ano em que será realizada a Copa do Mundo, o futebol feminino acaba de ganhar um novo decreto governamental, que pretende impulsionar a modalidade em todo o território nacional e que impactará os clubes e campeonatos. Aline, aliás, foi escolhida para apresentar a taça do Mundial ao lado da também ex-craque Formiga, durante a passagem do troféu pelo Cristo Redentor, um dos principais cartões-postais do Rio de Janeiro.
O reconhecimento ao trabalho de Aline como gestora não vem de hoje. No ano passado, a coordenadora de competições femininas da CBF foi escolhida pela Bloomberg como uma das 500 personalidades mais influentes da América Latina. A ex-jogadora faz companhia a outros 178 brasileiros, de diferentes áreas de atuação.