A indústria de apostas esportivas está cada vez mais voltando sua atenção para o mercado de e-Sports. É o que indicam as recentes movimentações destes dois setores. De acordo com dados da revista Forbes, os segmentos faturaram, em conjunto, cerca de US$ 277 bilhões (cerca de R$ 1,4 trilhão, na cotação atual) no mundo em 2022. Desse montante, 66% vêm de apostas e 44% de esportes eletrônicos.
Mas, embora poderosos, há fatores que impedem o “match” desses dois mercados. Pelo menos até agora. Isso porque, atualmente, o livro de regras de eventos de esportes eletrônicos proíbe, de forma geral, o patrocínio de marcas de bebidas alcoólicas, criptomoedas e mercados financeiros não regulamentados.
Entretanto, esse cenário pode mudar em breve, pelo menos em solo brasileiro. As empresas do setor de apostas esperam a regulamentação federal para desenvolver mercados. Já o governo federal planeja editar uma medida provisória para regulamentar o tema até o início de abril. Segundo levantamento da Máquina do Esporte, quase 200 plataformas atuam no momento no país, a partir de sedes no exterior, oferecendo apostas esportivas para clientes brasileiros.
Para as empresas de apostas, a regulação do setor significa mais modalidades e mais usuários em suas plataformas. Para os esportes eletrônicos, representa ainda mais: além de abrir um leque de potenciais patrocinadores para times e torneios, também eleva o número de pessoas olhando com atenção para seus campeonatos, que geralmente são notados somente pela bolha de competidores e seus fãs.
Relatório
A empresa sueca Abios Gaming, especializada em dados de e-Sports, publicou um relatório no início de março de 2023, destacando quais jogos e mercados estão liderando o caminho das apostas esportivas ao redor do mundo. O documento é considerado valioso, uma vez que fornece um norte de modalidades que poderão gerar mais renda aos sites de apostas.
Do maior para o menor, os cinco títulos que mais faturam neste mercado são: Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), League of Legends (LoL), Dota 2, Valorant e Call of Duty.
Já nos eventos mais visados para os apostadores, segundo o relatório, o CS:GO é imbatível: dos cinco maiores, quatro são exclusivos do jogo. Entre eles, do maior para o menor: Intel Extreme Masters (IEM), ESL Pro League, Blast Premier e PGL Major.
O Brasil é sede do maior destes eventos. O Intel Extreme Masters 2023 será realizado entre os dias 17 e 23 de abril, na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro (RJ). Isto é, a comunidade de fãs do jogo que mais fatura em sites de apostas estará com a atenção voltada para o Brasil no mês que vem.
Em relação à predominância do CS:GO nas casas de apostas, o relatório justifica:
“Com sua jogabilidade rápida e fácil de entender, o CS:GO reuniu fãs em um público amplo e é fácil de se envolver. Outros títulos de e-Sports, como League of Legends e Dota 2, têm muito mais parâmetros e mecânicas a serem levados em consideração e, como tal, pode levar mais tempo até que os espectadores possam entender e aproveitar todos os aspectos do jogo”.
A Abios Gaming, vale dizer, é subsidiária da Kambi Group, grupo de tecnologia de apostas esportivas que possui sede em Malta.
Aquisição
A Sportsflare, uma startup de soluções na área de apostas, foi adquirida pela Entain, conglomerado que reúne várias empresas de apostas, por US$ 13,25 milhões (cerca de R$ 69,8 milhões, na cotação atual). Até então, a startup pertencia à canadense Tiidal Gaming.
A Entain opera no Brasil por meio de suas marcas Sportingbet e Bwin. A Sportingbet, por sua vez, disponibiliza uma categoria de “esportes virtuais” para apostadores, mas a aba não contempla os títulos mais famosos dos esportes eletrônicos.
A empresa possui sede na cidade de Douglas, na Ilha de Man, localizada entre a Irlanda e o Reino Unido. A maior parte das empresas de apostas esportivas possui sede em locais remotos como este, em razão da celeridade burocrática e dos baixos custos de operação.
Riot Games
Também no início deste mês, o site turco Esporkolik chegou a anunciar que a Riot Games, desenvolvedora de títulos como League of Legends e Valorant, permitiria patrocínios de casas de apostas em seus eventos, o que hoje é vetado pela empresa. No entanto, a empresa norte-americana emitiu uma nota no dia seguinte, reiterando o veto. A informação é do portal The Enemy.
“Embora não tenha havido mudança na política atual em relação às categorias consideradas aprovadas de patrocinadores de equipes, continuaremos avaliando todas as oportunidades que ofereçam experiências seguras e significativas que melhor apoiem o crescimento do nosso ecossistema de esportes eletrônicos globalmente”, afirmou a empresa, em comunicado oficial.
De toda forma, no caso de uma regulação que agrade ambos os lados, essas duas indústrias devem se unir com o objetivo de difundir a cultura dos jogos eletrônicos, das apostas e, claro, multiplicar ainda mais suas receitas.