No ano passado, uma velha história se repetiu no cenário do esporte nacional. Um time brasileiro, após a conquista de um feito, recebeu atenção da mídia e aproveitou o microfone para reclamar das péssimas condições da modalidade no país.
No caso, o time em questão era a seleção brasileira de rúgbi. E o feito, que foi uma vitória sobre o Paraguai após um longo jejum, despertou num empresário o desejo de tentar mudar um pouco a cara do esporte no país.
?Sou um ex-jogador de rúgbi e, como brasileiro, nunca me conformei com a condição que o esporte tinha no Brasil?, afirma Eduardo Mufarej sócio-diretor da empresa Tarpon Investimentos, especializada em investimentos em empresas de capital aberto.
Mufarej decidiu dar um dinheiro para ajudar a seleção brasileira. Uma doação de R$ 500 despertou uma onda de agradecimento entre os atletas, o que assustou o executivo. A partir daí, ele decidiu buscar um caminho para financiar as seleções brasileiras de rúgbi. O plano é ambicioso. Levar o Brasil à Copa do Mundo de 2015.
Para isso, porém, foi montado um fundo de captação de dinheiro. O grupo foi chamado de Grab (Grupo de Apoio ao Rúgbi Brasileiro). Mufarej encabeça o movimento, que até agora já arrecadou R$ 60 mil em um único jantar beneficente com executivos.
O dinheiro já foi usado para financiar viagens de times nacionais e, agora, o Grab prepara um plano para começar a gerar receita para todas as seleções brasileiras de rúgbi.
O projeto, segundo ele, é perfeitamente executável em outras modalidades. Mas o foco, nesse primeiro momento, é com o rúgbi.
Leia a seguir a entrevista com o executivo:
Máquina do Esporte: Como surgiu o projeto de criação do Grab?
Eduardo Mufarej: Essa história tem um componente ideológico, que é bom e também é ruim, porque envolve um pouco de paixão e apego em tudo isso. Essa história começou no final do ano passado, quando o Brasil ganhou do Paraguai. Os jogadores falaram das dificuldades que encontraram para chegarem até lá. Quando acabou o jogo, decidi fazer uma contribuição de R$ 500 para a seleção e recebi contato de quase todo o time. Aí comecei a pensar como sair um pouco de palavras e partir para a ação. Como andar pelas próprias pernas e se desenvolver um projeto para o rúgbi.
ME: E quando começou exatamente essa ida para o campo das ações?
EM: Eu decidi fazer um jantar beneficente aqui em casa para convencer as pessoas a ajudarem. E a partir daí começou a ter uma adesão muito grande das pessoas, que discutiam uma forma para você se envolver em áreas onde a entidade que rege o esporte não consegue atuar. Essa parte é a de planejamento financeiro e execução de projeto. Dessa idéia do jantar surgiu o GRAB, que tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável das seleções brasileiras em todas as modalidades.
ME: E de que forma arrecadar dinheiro para o rúgbi hoje?
EM: Nós fizemos o jantar e recebemos R$ 60 mil de doações. Isso representa metade do orçamento da confederação para um ano. O dinheiro serviu para que o planejamento de ações possa ser executado.
ME: Como é feito o gerenciamento desse dinheiro? Quem decide o uso dele?
EM: Para nós, o caixa permanecer com a gente é pré-requisito. A gente precisa ter o produto seleção brasileira para tentar comercializar e fazer a conta-gotas a liberação desses recursos. Tudo o que passa pela contratação de fornecimento para as seleções passa por nós. Já custeamos mais ou menos R$ 40 mil desde o início e agora, terminado o planejamento das seleções, é hora de ir atrás de dinheiro e tornar esse plano de desenvolvimento da seleção brasileira de rúgbi algo exequível.
ME: Como convencer o mercado a investir no rúgbi, um esporte que é marcado pela brutalidade na maioria das vezes?
EM: O rúgbi é um esporte de equipe, de companheirismo. Vamos tentar associar esses princípios aos valores das empresas. O Brasil, no contexto mundial, é um time mediano. Para subir duas posições no ranking, porém, é uma condição abismal. Não é um esporte de sorte. Mas, no rúgbi seven, onde o efeito surpresa é maior, o Brasil tem potencialidade enorme, e ele é o que deve crescer mais, com a perspectiva de virar esporte olímpico a partir de 2012. Esse é o nosso foco, até para atrair mais atenção da mídia.
ME: Quem hoje trabalha no Grab como parte desse projeto?
EM: Eu e mais cinco pessoas dedicamos parte do tempo útil com o objetivo de desenvolver uma modalidade no país. Existe capital humano e o que falta é investimento.
ME: Como o Grab pode crescer? Ele vai se tornar o novo organizador do rúgbi no país?
EM: O Grab vai precisar ter uma equipe de gestão de caixa. Não temos ambição técnica nenhuma. A Associação Brasileira de Rúgbi (ABR) tem os seus dirigentes, que são eleitos pelos clubes. A gente não foi eleito, não teve a eleição de ninguém. Nós acreditamos na gestão da ABR que está aí hoje. O capital humano da Grab é uma secretária e um executivo. Ela é uma empresa de gestão de caixa. A estrutura do rúgbi brasileiro determina que é a entidade nacional que faz essa gestão técnica. Quem somos nós para questionar isso?
ME: É possível ampliar o modelo do Grab para outros esportes, que sempre precisam de investimentos para crescer?
EM: Esse modelo, se funciona no rúgbi, funciona em qualquer outro esporte. Dá para pensar em fazer em qualquer outro esporte. Pode ser, por que não?
ME: Faz parte dos planos do Grab?
EM: Isso não está no escopo. Mas esse é um negócio que é apartidário. Se ele funciona no rúgbi, pode funcionar em qualquer outro, mas ainda não faz parte dos planos agora.
ME: Quanto o rúgbi do Brasil precisa hoje para ter um bom desempenho?
EM: Já recebemos o plano das seleções. Ele tem um cronograma hipotético para as seleções de rúgbi. O orçamento até o final de 2010 é de R$ 700 mil. Considerando esse plano de negócios, conseguiremos executar tudo o que é previsto com esse dinheiro. Isso vai desde campeonatos sul-americanos, até giros internacionais, etc. Hoje a gente começa a trabalhar com o orçamento. O nosso objetivo para o levantamento de fundos é esse daí.
ME: E como encontrar toda essa verba?
EM: É preciso transformar o plano em algo comercializável e ir para a rua.
ME: Existe alguma previsão de se pensar em parcerias com veículos de mídia para ampliar a divulgação do rúgbi?
EM: Isso é fundamental, porque, se você for para uma reunião e o cara viu na TV o esporte, ele com certeza trará mais recursos. Existe uma pessoa que se ofereceu em ser uma assessora de imprensa nas horas vagas, temos trabalhado também outras ferramentas de comunicação.
ME: Mas como a empresa fará isso sem recursos? Parte da verba que entrou inicialmente não está sendo usada para isso?
EM: Existe uma questão de prioridades. Preferimos disponibilizar todo esse dinheiro para as seleções e deixar o Grab carente nesse primeiro momento. A empresa precisa de vida própria mínima sem precisar de aporte de capital dos sócios. Caminho sem volta é desenvolver relação com parceiros e empresas de mídia e, conforme essa ação for evoluindo, ela ter uma vida própria. A idéia é que ela caminhe com as próprias pernas num futuro próximo.