O Brasil alcançou mais uma vez o topo do pódio no vôlei mundial. Bicampeão do mundo, a equipe de Bernardinho segue imbatível. Fora das quadras, os resultados da seleção masculina fazem com que o esporte se popularize cada vez mais no país. De acordo com a recente pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos/Marplan, 13% das pessoas praticam vôlei hoje no Brasil, enquanto 33% acompanham o esporte pela televisão.
O sucesso do vôlei brasileiro, porém, está cada vez mais restrito à seleção brasileira. A estratégia de desenvolvimento do esporte a partir do time nacional sem dúvida colaborou na estratégia de massificação do vôlei. Hoje, os maiores ícones do Brasil atuam no exterior, recebendo salários excelentes e curtindo o status de melhores do mundo. No país, aquele que antes era um esporte praticado por universitários agora também atinge as classes sociais mais baixas, visto como uma chance de crescer na vida.
Toda essa estratégia faz, contudo, com que o esporte só seja popular quando o assunto é a seleção brasileira. Na última edição da Superliga, o campeonato nacional da modalidade, a média de público nos ginásios foi baixa. Apenas 1.509 torcedores por partida.
Ao contrário do time nacional, a competição só tem transmissão pela TV aberta na decisão do campeonato. Para a gerente de marketing da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Flávia Cattapan, isso não é problema. Ao contrário, a executiva, que desde 2003 trabalha na confederação brasileira, afirma que a mostra do sucesso comercial do esporte está na presença de grandes empresas na principal competição do esporte, como Penalty, Rainha, Gatorade, Pantech, entre outros.
A gerente de marketing da CBV concedeu esta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte por e-mail e, apesar de não responder a algumas perguntas, Flávia Cattapan explicou os trabalhos realizados para a comercialização de produtos do vôlei no país, anunciou a criação de um projeto de sócio-torcedor, e detalhou os números da última edição da Superliga.
Leia a seguir a entrevista completa:
Máquina do Esporte: Quais os planos de marketing do vôlei de quadra para a próxima temporada?
Flávia Cattapan: Os planos estão sendo elaborados para a próxima temporada e serão divulgados no momento certo.
ME: Qual foi o principal trabalho de marketing realizado neste ano no vôlei?
FC: Não temos um principal trabalho. Atuamos em todas as competições, que são igualmente importantes.
ME: O vôlei é o segundo esporte do país. Por conta disso, a Superliga é um campeonato forte comercialmente?
FC: O vôlei é o segundo esporte mais praticado entre os brasileiros, principalmente entre os jovens. Além de ser o esporte mais praticado entre as mulheres, o segundo esporte de melhor audiência na mídia e o que apresenta índices de rejeição de prática e acompanhamento baixíssimos, conforme última pesquisa “Dossiê Esporte”, encomendada pelo canal Sportv ao instituto Ipsos. Na última temporada da Superliga 2005/2006, tivemos diversos patrocinadores, entre eles Penalty, Rainha, Sportv, Playpiso, Varig, Finasa, Gatorade e Pantech.
ME: Qual o balanço geral da última Superliga?
FC: O campeonato apresentou números surpreendentes. Foram realizados 245 jogos e tivemos um público total nos ginásios de 369.872. De todos os jogos, 113 foram transmitidos. Além disso, tivemos 341 horas de exposição, com 3.852 reportagens na TV e 2.296 reportagens em jornais. O valor do nosso espaço ocupado na mídia foi próximo de R$ 195 milhões.
ME: Quanto o campeonato movimenta todo ano?
FC: Como não temos conhecimento dos valores de investimento dos clubes, você precisa procurar cada clube para obter essa resposta.
ME: O vôlei brasileiro é um dos esportes com mais títulos nos últimos anos. Agora como transformar esse sucesso dentro das quadras em dinheiro?
FC: Sim, sem dúvida. Hoje o vôlei brasileiro é referência mundial. [Só] em 2006, o Brasil foi campeão da Liga Mundial (masculino adulto), campeão do Grand Prix, do Montreaux Volley Master, Torneio Courmayer, Copa Pan Americana (feminino), campeão do circuito mundial de praia no feminino e masculino adulto e sub-21. Na quadra, campeão sul-americano de base em todas as categorias. Ou seja: 100% de aproveitamento. O caminho é seguir um modelo de eficiência gerencial. Recentemente, o presidente da CBV, Ary Graça, publicou juntamente com o professor Istvan Kasznar um livro que fala sobre o modelo de gestão da CBV – Estratégia Empresarial – Modelo de Gestão Vitorioso e Inovador da Confederação Brasileira de Voleibol. Todo dinheiro arrecadado em patrocínio é reinvestido diretamente no voleibol, seja através do desenvolvimento de novas tecnologias ou no desenvolvimento de novas promessas do esporte. O sucesso do gerenciamento da CBV se reflete nas quadras, nas vitórias. Atrás destas conquistas, existe uma estrutura profissional extremamente eficiente para prover o que existe de mais moderno em termos de treinamento, infra-estrutura e recursos humanos.
N.R. A entrevista foi realizada na última semana, antes da conquista do bicampeonato mundial masculino, no último domingo.
ME: Como fazer para aumentar a venda de produtos do vôlei, como camisas e bolas oficiais?
FC: Este não é o core bussiness da CBV. Nosso objetivo é conquistar medalhas. Entretanto, somos sabedores que existe um crescente nicho em termos de licenciamento de produtos, programas de relacionamento, etc. Assim sendo, a CBV terceiriza o comércio eletrônico dos produtos de voleibol www.boutiquedovolei.com.br e este ano lança o programa sócio-torcedor do voleibol www.torcedordovolei.com.br através de outra empresa terceirizada para explorar este filão.
ME: Como funciona a loja oficial da CBV?
FC: Não existe loja física oficial da CBV. A Voleiboutique é a loja virtual oficial que vende produtos diversos de voleibol e produtos oficiais. Recentemente, a Olympikus abriu no Barra Shopping sua primeira loja com os produtos oficiais de voleibol.
ME: Antigamente, a Superliga inteira era transmitida pela TV aberta? Porque hoje não é mais? Como conseguir esse tipo de visibilidade para a Superliga?
FC: A Superliga nos últimos anos vem sendo transmitida por TV aberta nos jogos finais. Na temporada de 2004/2005, por exemplo, tivemos a cobertura da TV Globo, Rede TV e TV Cultura. Já a temporada 2006/2007, os jogos finais foram transmitidos pela TV Globo.
ME: A exposição de mídia atual, apenas na Sportv, é suficiente no planejamento de divulgação do esporte?
FC: A exposição de mídia do voleibol não se resume a TV fechada, Sportv. A Globo transmitiu ao vivo os seis jogos da Liga Mundial no Brasil, o Circuito Banco do Brasil Vôlei de Praia é transmitido pela Band, fora outros tipos de mídia, como revistas, jornais, internet, etc.
ME: Qual a importância do Banco do Brasil para o vôlei brasileiro? Quanto a instituição financeira destina por ano para as seleções? E para o vôlei de praia? Quando vence o contrato com as duas modalidades?
FC: O patrocínio do Banco do Brasil é fundamental para manter o vôlei brasileiro como referência mundial.
ME: Até por ser uma estatal, os números investidos pelo Banco do Brasil no vôlei brasileiro podem ser conferidos pelo público em algum lugar?
FC: A CBV publica anualmente em jornais de grande circulação o balanço patrimonial desde 1998. Esta informação pode ser baixada pelo site da CBV [www.volei.org.br] no link institucional / balanço. A CBV acredita que transparência e credibilidade são fundamentais. Somente assim conseguimos obter parceiros e patrocinadores de longo prazo.