No começo de 2013 os brasileiros foram surpreendidos com a inusitada notícia de que um empresário daqui havia adquirido o Orlando City Soccer, equipe de futebol dos Estados Unidos. O investidor em questão é Flávio Augusto da Silva, que antes da empreitada já era um profissional bem sucedido.
Flávio foi presidente do Ometz Group, holding que conta com 16 empresas. Entre elas, a escola de idiomas Wise Up, seu primeiro empreendimento, lançado em 1995.
O Orlando City disputa atualmente a USL, terceira liga de futebol em importância nos Estados Unidos, atrás da NASL e da Major League Soccer (MLS). O grande projeto de Flávio é colocar a equipe na primeira divisão do país, iniciativa que envolve o investimento de US$ 160 milhões e a construção de um estádio.
A Máquina do Esporte realizou uma entrevista exclusiva com o profissional.
Máquina do Esporte: Como surgiu a ideia de comprar um time de futebol?
Flávio Augusto da Silva: Morei em Orlando, na Flórida (EUA), durante três anos e, nesse período, meu filho mais velho, 13, jogava futebol pelo colégio. Eu acabava tendo um segundo emprego, que era ser motorista dele. Como sou empreendedor, a quantidade de pessoas envolvidas no futebol e tudo que o esporte representa me chamaram muito a atenção. Então,fui pesquisar e fiquei bastante surpreso com os números que o futebol move no país. O esporte já é a modalidade mais praticada de todas e tem mais de 50 milhões de pessoas indiretamente envolvidas.
Acabei entendo o motivo dos Estados Unidos ganharem tantas medalhas nas Olimpíadas, não tem nada de governo apoiando, são os próprios pais que, desde que os filhos são crianças, apoiam muito a prática esportiva.
Os pais consideram não apenas a questão física, pois é óbvio que ter um filho praticando esporte é bom para a saúde, mas também a financeira. Cursar uma boa universidade nos EUA é muito caro. Caso o garoto tenha destaque em algum esporte ele ganhará uma bolsa de estudos.
Algum tempo depois, conheci o Orlando City e vi que o trabalho no clube era sério. Eles estavam na terceira divisão e já tinham uma média de público de sete mil pessoas no estádio.
Depois eu fui ver como é a MLS. É o campeonato que mais cresce no mundo e tem níveis de audiência fortíssimos. O futebol não é futuro nos EUA, é realidade. Nem os norte-americanos se deram conta disso.
ME: Qual é o planejamento com o Orlando City?
FAS: Nós estamos atualmente na USL, que é a terceira liga em termos de importância nos EUA. Queremos chegar à MLS em 2015. A Flórida não tem nenhum time na elite desde 2001 e, pelo tamanho que o estado tem, seria muito bom ter um time entre os grandes.
ME: Para jogar a MLS são necessários alguns requisitos, como um estádio para, no mínimo, 18 mil pessoas. Como está sendo tratado isso?
FAS: Nós vamos criar o estádio. Ele vai custar, no total, cerca de US$ 110 milhões, eu arcaria com US$ 30 milhões e o governo da Flórida com o restante.
ME: O estádio custará US$ 110 milhões, mas quanto você e a prefeitura investirão no projeto total?
FAS: O negócio total, que envolve a aquisição e melhoria do clube, o estádio e o ingresso à MLS gira em torno de US$ 160 milhões. Desse valor, US$ 80 milhões sairá da prefeitura e a outra metade é meu investimento. Como te falei, o estádio representará boa parte desse valor.
ME: Em quanto tempo você acredita que o investimento gerará lucro? Quanto?
FAS: A partir do momento que estivermos na MLS já acredito que o investimento comece a ser recompensado, então em 2015. O lucro é difícil precisar, mas é um projeto de valorização de propriedade, pode valer milhões e a curto prazo.
ME: Você disse que a média de público do Orlando City é de sete mil pessoas por jogo. Imagino que estando na primeira divisão e investindo pesado você queira melhorar esses números. Qual é o projeto?
FAS: Nós criaremos mil escolinhas de futebol espalhadas pelos Estados Unidos. O projeto está traçado e pronto para ser colocado em prática. Dessa forma, criaremos uma base de fãs, o que não temos consolidada atualmente. Esse projeto já está inserido dentro do investimento geral que eu mencionei.
ME: Como você pretende divulgar o Orlando City no Brasil?
FAS: O turismo do brasileiro para Orlando é muito forte por conta da Disney. Como todos são apaixonados por futebol o Orlando City será mais um ponto de turismo obrigatório na viagem. Além disso, nós queremos contratar uma grande estrela do futebol brasileiro, mas ainda não definimos o jogador.
ME: Qual é o papel do Alexandre Leitão, presidente da Octagon Brasil (agência de marketing esportivo) no projeto com o Orlando City?
FAS: O Alexandre ficará encarregado da parte de gestão de negócios de marketing. Toda a parte de negociação de patrocínios e contratos dessa área será com ele.
ME: Pretende continuar investimento no esporte?
FAS: Eu vivo de oportunidades se aparecer alguma coisa que eu tenha interesse eu vou analisar. No Brasil, os clubes não são empresas, não são compráveis. O que eu posso fazer com as equipes brasileiras é comprar publicidade para a empresa, mas, com isso, eu não serei o dono do time, nem terei muita liberdade.
ME: O Fluminense fará uma intertemporada em Orlando durante a Copa das Confederações. O clube acertou uma parceria com o Orlando City. Você participou disso?
FAS: Não, eu não tive envolvimento com a parceria com o Fluminense, mas acho ótimo. Já começamos a promover um pouco o clube no Brasil.