A realização de eventos da Copa do Davis tem ajudado a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) a sair do vermelho. A constatação é de Jorge Lacerda da Rosa, presidente da CBT. Na seqüência da entrevista exclusiva com o mandatário da confederação, Rosa afirma que a Davis tem equilibrado o orçamento da entidade e, ainda, explica o problema envolvendo o governo de Minas Gerais e a entidade.
“Nesta semana vamos prestar contas ao governo e dentro de 15 dias já poderemos publicar quanto entrou, quanto sobrou e quanto foi gasto no evento”, afirma Rosa, referindo-se ao evento de Minas Gerais.
Além disso, o dirigente reafirma a importância de a entidade fazer parceria com a televisão para realizar eventos que promovam o tênis e, também, projeta o surgimento de um grande atleta brasileiro nos próximos anos.
Leia a seguir a continuação da entrevista com Jorge Lacerda da Rosa.
ME: Os confrontos da Davis realizados no Brasil têm ajudado na parte financeira, eles são rentáveis para a CBT?
JLR: Muito. Cada confronto da Davis tem nos ajudado a equilibrar o orçamento. Mesmo o de Minas, com todos os problemas, foi importante para a CBT. A etapa realizada em Florianópolis até deu lucros. Lá foi tudo realizado com o apoio da Lei Piva. Nesta semana vamos prestar contas ao governo e dentro de 15 dias já poderemos publicar quanto entrou, quanto sobrou e quanto foi gasto no evento.
ME: Qual a diferença de valores entre o que alega o governo de Minas Gerais e a CBT?
JLR: O contrato para levar o evento para a cidade foi de R$ 1,2 milhão. O que a gente fala de diferença é que dentro dessa venda do produto o governo mineiro teria de desembolsar esse valor, o que não aconteceu. Ele trouxe parceiros, que pediram investimentos que não estavam nos nossos planos. Nós aceitamos fazer o investimento e descontar do valor que teria de ter sido pago. A diferença entre os cálculos do governo de Minas e da CBT é de R$ 400 mil.
ME: Qual é o papel da TV nesse processo de consolidação do tênis como um esporte popular?
JLR: Quem trabalha com marketing sabe que a TV é fundamental. Só que mesmo no auge nós não conseguimos ver o Guga com regularidade na televisão aberta. A final de Roland Garros de 97, na última hora, foi transmitida pela Record, que também comprou um Brasil Open alguns anos depois. O monopólio da Globo é prejudicial nesse caso. Ela compra os direitos para a TV aberta e para o Sportv, mas acaba não passando nada na TV aberta. Pode ser que exista uma outra TV interessada em transmitir na aberta, mas quando a Globo entra ela fecha tudo. Foi por isso que nós criamos o “Troféu Brasil de Tênis”, já dentro desse projeto de marketing, um torneio interclubes que não existia no país. Fizemos uma parceria com a Federação Brasileira de Clubes e com o BandSports, que transmitiu dois jogos de cada final regional. Só que para adequar o jogo à TV fizemos um novo formato, com cada set pontuando até cinco e sem vantagem, e o terceiro set direto no formato tie-break. A idéia é vender um jogo que não ultrapasse uma hora ou 1h15. Agora nós vamos levar essa fórmula para a ITF e, quem sabe, levar o tênis para a TV aberta. Não dá mais para uma final de Roland Garros levar quatro, cinco horas para acabar. Não há TV que suporte isso. Além disso, vai ajudar na performance do jogador e auxiliar no controle do doping, já que o atleta não vai mais precisar procurar esse tipo recurso para suportar o ritmo de jogo. E esse problema não é exclusivo do Brasil. A ITF e a ATP também enfrentam problemas com a transmissão de TV. Hoje eles estão levando tudo para a Ásia porque é lá que está o dinheiro.
ME: Existe algum projeto de intercâmbio com os principais pólos de formação de jogadores na América do Sul?
JLR: Nós já fizemos uma viagem para a Argentina e temos um grande preparador físico argentino trabalhando com a gente. Com o Chile ainda não temos projeto, até porque eles ainda não têm uma boa organização de base. Mas, em compensação, já iniciamos contatos com os Estados Unidos e Canadá, o segundo visando o confronto pela Davis. Nós tivemos uma conversa muito boa com os canadenses, vamos levar os brasileiros para treinar lá. Eles acabaram de concluir um centro de treinamento que custou US$ 40 milhões, dinheiro da federação. Agora vão construir outro que está orçado em US$ 60 milhões. É outra realidade. A gente não tem nem US$ 1 milhão. Eles têm US$ 100 milhões por ano para investir. Também vamos assinar um acordo de intercâmbio com a Federação Suíça de Tênis, vai ser uma base nossa na Europa. Estivemos ainda na França e na Espanha.
ME: O que a CBT projeta para a próxima década no tênis brasileiro?
JLR: Toda a parte de planejamento nós já fizemos. Mas nós estamos partindo do zero, não adianta fugir da realidade do Brasil. Precisamos do apoio de uma estatal, que certamente terá muito retorno por apostar em um projeto novo. A mentalidade que estamos tentando implantar na confederação já tem dado alguns resultados, são muitas as federações preocupadas em investir certo. Nesses próximos dez anos, com certeza, vamos ter jogadores chegando. A “gurizada” é muito boa.