Os amantes do tênis viveram um ano atípico. Acostumados às glórias de admirar um esporte elitista e naturalmente seletivo, tiveram de se adaptar a uma realidade menos glamourosa após a eclosão do escândalo de corrupção que assolou a modalidade durante a segunda metade da temporada, encerrada em novembro.
Apesar disso, o balanço de 2007 é positivo. Com uma movimentação anual estimada em US$ 350 milhões, o circuito profissional comemora a iminência de uma nova fase para a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), que renovará sua marca e identidade daqui a dois anos.
“Com um calendário reestruturado, nova marca e identidade, as mudanças vão trazer mais de US$ 1 bilhão em investimentos no esporte por meio de novas quadras, aumento nos prêmios e mais suporte de marketing”, afirma Kris Dent, diretor de comunicação corporativa do organismo que rege o tênis masculino.
O nome e a pontuação das competições serão alterados. Os Masters Series passarão a ser chamados de “1000”. Como o nome já diz, os campeões desses torneios receberão mil pontos no ranking de entradas. A tradicional etapa de Hamburgo será substituída pelo novo eldorado de investidores do circuito: Xangai.
Os tenistas que fazem parte do “top 10” serão obrigados a atuar. A estratégia visa colocar na “vitrine” a principal fomentadora do sucesso da ATP: a constelação de atletas renomados presente no circuito profissional.
“Estamos dispostos a ampliar o apelo de nossos jogadores, razão pela qual desenvolvemos uma nova campanha publicitária chamada Feel It [Sinta isso, em tradução literal para o português] e indicamos gerentes de marca da ATP aos 30 principais jogadores, para ajudar a aumentar esse apelo”, destaca Dent.
Nesta entrevista exclusiva, o porta-voz da ATP fala sobre a importância de contar com nomes consagrados para atrair a atenção dos investidores e avalia o impacto das denúncias de envolvimento de jogadores em apostas. O caso será abordado em reportagem especial na terceira edição da Revista Máquina do Esporte.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte: Há alguma estimativa de quanto o circuito de tênis internacional movimentou nesta temporada?
Kris Dent: O ATP Tour gera cerca de US$ 350 milhões por ano.
ME: O ATP Tour é um dos eventos esportivos com o maior número de investidores. Quais são os principais atrativos do circuito para os patrocinadores?
KD:O tênis masculino é um esporte único, que oferece muito a seus parceiros. É um esporte gladiatorial, de um contra um, que é verdadeiramente global – neste momento, 108 jogadores competem em 63 torneios, em 30 países, nos seis continentes. É um circuito que oferece aos patrocinadores um alcance sem precedentes em mercados desde os mais estabelecidos, como Europa e EUA, até mercados emergentes como China, Rússia, Índia e Brasil. O esporte ainda tem grandes astros e rivalidades, que ajudam a aumentar o interesse de público e patrocinadores.
ME: A presença de jogadores carismáticos e com grande potencial publicitário é fundamental nesse processo?
KD:Os jogadores são, obviamente, uma parte fundamental no sucesso de qualquer esporte e nos planos para o futuro. Atualmente, o esporte nunca foi tão competitivo. Além de superastros como Federer e Nadal, astros estabelecidos como Roddick, Blake e Ljubicic, temos uma geração de talentos emergentes como Murray, Djokovic, Berdych, Baghdatis e Gasquet. Estamos dispostos a ampliar o apelo de nossos jogadores, razão pela qual desenvolvemos uma nova campanha publicitária chamada Feel It [Sinta isso, em tradução literal para o português] e indicamos gerentes de marca da ATP aos 30 principais jogadores, para ajudar a aumentar seu apelo.
ME: A ATP prepara uma série de mudanças no circuito daqui a dois anos, incluindo a renovação da marca da entidade. O que a organização pretende ganhar com essas alterações?
KD:Com um calendário reestruturado, nova marca e identidade, as mudanças vão trazer mais de US$ 1 bilhão em investimentos no esporte por meio de novas quadras, aumento nos prêmios e mais suporte de marketing. Vamos dar aos fãs um circuito que eles possam entender, e oferecer aos patrocinadores mais oportunidades para alcançar seus mercados alvo e os públicos. Nossos planos para 2009 vão partir desta forte plataforma.
ME: A temporada de 2007 foi atípica para o tênis, com a eclosão do escândalo de apostas. De alguma forma, isso teve impacto para a parte comercial da ATP?
KD: Fora das quadras, o tênis está mais saudável do que nunca. O esporte está crescendo, novos patrocinadores entraram [SAA, Rolex, Stanford,Sony Ericsson, Li-Ning]; as receitas estão crescendo [cerca de 15%], recordes na audiência da TV [disponível em 700 milhões de casas, crescimento de até 30% nas horas de transmissão], recordes no público nos locais de jogos [cerca de 4 milhões] e recorde de visitas ao nosso site [16 milhões de hits].
ME: A ATP não teme que a continuidade do caso tenha conseqüências mais graves para o circuito e que novas evidências de corrupção voltem a macular o tênis?
KD: Não acreditamos nisso. Temos um programa anti-corrupção desde 2003, com regras extensas e procedimentos para ajudar a proteger a integridade do esporte. Não vemos evidência de corrupção no tênis, mas reconhecemos uma ameaça, razão pela qual anunciamos que, junto com a ITF, a WTA e os Grand Slams, vamos realizar uma análise de risco independente, o que é o primeiro passo para estabelecer uma ampla unidade de integridade no tênis. Todos os envolvidos com o tênis apóiam completamente a ATP nesta questão.
ME: É possível que haja retaliações por parte dos patrocinadores ou já houve algum tipo de negociação nesse sentido?
KD: De forma alguma.