Artigo de colecionador há alguns anos, as camisas antigas de clubes e seleções entraram no rol de propriedades de uma agremiação nas últimas temporadas. Principal expoente desse processo, a Liga Retrô comemora o sucesso virtual apesar das dificuldades de negociação com os clubes, e planeja sua atuação em três frentes distintas.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Leonardo Klarnet, diretor da empresa, explica, além do futuro da marca, a relação com os dirigentes do futebol. A maior dificuldade, segundo o execitivo, é superar a limitação dos clubes, sempre muito presos aos seus patrocinadores oficiais.
?Aqui no Brasil eles são muito amarrados aos fornecedores. Se você quiser fazer um copo, mesmo não sendo da área têxtil, tem de pedir uma autorização. Por contrato é assim. Mas tem grandes barreiras que estamos superando, até pelo crescimento do marketing esportivo?, disse Klarnet.
Atualmente, porém, a limitação de produtos não é uma preocupação da Liga Retrô. Com cerca de 80 modelos em seu site oficial, a empresa até consegue pensar em ?independência?. Em algum tempo, a base comercial do negócio, que hoje basicamente conta com o site e as vendas por atacado, deve ganhar a companhia de lojas físicas.
?Nós já temos uma aqui no Rio de Janeiro, e acho que é um pilar importante para o nosso futuro. Eu só não sei dizer se ele vai acontecer por meio de franquias ou administrações próprias?, disse Klarnet.
Leia a entrevista na íntegra a seguir:
Máquina do Esporte: Como surgiu a idéia de comercializar camisas antigas?
Leonardo Klarnet: Na verdade a gente já tem o projeto há bastante tempo. Tem um pouco de saudosismo aí, de sentir falta da camisa que você se familiarizava. E aí a gente resolveu colocar em prática. Até porque está na hora de resgatar a nossa história. Hoje em dia o retrô está na moda. Você não só atinge o público que viveu a época, mas também os jovens, que vão para o estádio e para festas com essas camisas, além de colecionadores. E o legal do retrô é que as camisas em algodão mantém a característica, com um corte especial.
ME: E quando vocês conseguiram viabilizar essa idéia?
LK: Ele foi estudado dois anos até definirmos um start-up com clubes e federações. A Liga Retrô lançou o site há aproximadamente dois anos e meio. Depois abrimos para vendas no atacado. Nos dois modos tivemos um sucesso imediato. Com isso, a gente viu que estava no caminho certo. O índice de segunda compra era enorme, e isso é importante, porque não se trata de uma Nike, que a pessoa já conhece. Além disso tem a coisa da internet, que impede que o cliente experiemente. E há um ano abrimos uma loja no Rio, tematizada, que está fazendo bastante sucesso.
ME: E que tipos de produtos vocês tinham na época do lançamento?
LK: O nosso lançamento foi com cerca de 20 modelos, e atualmente temos mais de 80. E procuramos não ficar restritos às camisas. A gente tem a réplica do capacete do terceiro título do Ayrton Senna na Fórmula 1, uma réplica de bola de couro. E naquele início a gente focou mais em seleções. Nós fizemos um mix de produtos, com seleções conhecidas e outras mais exóticas. Então, além da Itália de 1982 [campeã mundial na Copa da Espanha], da Holanda de 1974 [vice na Copa da Alemanha], nós temos a do Zaire, de 1974, a de El Salvador, de 1982. Fizemos essa mistura com famosas e inusitadas, e algumas que não existem mais, como Alemanha Oriental e União Soviética. E no site tem um campo em que o internauta fala sobre a camisa que ele deseja. Empresas como Nike e Adidas até lançam uma ou outra, só que o fazem durante três meses, com um número ?x? de camisas e depois encerram. A nossa idéia é, no futuro, fazer toda a história de uma seleção ou de um time em termos de uniforme. Outra diferença é que essas fabricantes fazem a camisa em poliéster, e na época não era assim. Às vezes, colocam até a marca do patrocinador, o que descaracteriza totalmente o retrô.
ME: Então não dá para pensar em um limite? Porque, como trata-se de um público mais restrito, ele poderia não ter interesse em vária camisas. Tem como seguir vendendo modelos retrô para quem já comprou alguma?
LK: Com certeza. Isso está atrelado à qualidade. Assim como você lança a oficial e todo mundo quer todas, a retrô pode ser igual, até por ser mais bonita, sem o patrocinador. Hoje você vê diversos tipos de compra no site que são de presentes, que vão com uma embalagem especial. O PVC [Paulo Vinícius Coelho, colunista da ?Folha de S. Paulo e comentarista da ?ESPN Brasil?] conta a história de cada uma delas ela vai também com a foto de um jogador, para mostrar como ela era de verdade.
ME: E qual o papel da crise financeira nisso tudo? Ela pode atrapalhar, de alguma forma, as vendas?
LK: Eu acredito que não só em relação ao retrô, mas o vestuário em geral, não vai ser afetado pela crise. Eu acho que tende a vender até mais porque o ticket médio caiu. A média de compra despencou, então as pessoas que iriam para produtos mais caros devem descer o nível de preço, e aí o vestuário passa a ser uma boa opção. E não só a Liga Retrô, mas todo o vestuário em si. Óbvio que existe o caminho inverso, mas essas pessoas não foram tão afetadas pela crise. Eu acredito em um aumento de vendas, que muita gente compraria presentes mais caros. E aí entra o nosso diferencial.
ME: Como vocês analisam a situação atual da Liga Retrô?
LK: Nós estamos lançando cada vez mais modelos. Tem muito clube nos procurando para licenciar o produto. Nós temos um escritório que cuida só de direitos de imagem e propriedade. E cada camisa tem sua história própria em relação a isso. Tem muitos clubes que não conseguimos. O último modelo que lançamos foi o do Coritiba. A gente deve lançar Santa Cruz e Atlético Paranaense em breve, e no fim do ano o Juventus, de São Paulo. A gente virou referência em camisa retrô. Pelo cuidado, pelo acabamento e o capricho do nosso material. Você viu as réplicas do Museu [do Futebol, em São Paulo, que traz todos os modelos usados pelo Brasil em Copas do Mundo]? Foi a gente que fez. Eles que nos pediram. Hoje nós somos os maiores fabricantes de camisa retrô do país. Estamos com propostas diferenciadas para os clubes. Normalmente, eles praticamente recebem uma mensalidade do licenciamento. A gente já propõe para um adiantamento financeiro à vista, e depois um pagamento de royalties, com o valor variando de clube para clube.
ME: E como funciona essa negociação com os clubes?
LK: Aqui no Brasil os clubes são muito amarrados aos fornecedores. Se você tiver um copo, mesmo que não sendo da área têxtil, vai ter de pedir autorização. Por contrato é assim. Mas tem grandes barreiras que estamos superando, até pelo crescimento do marketing esportivo. Só que às vezes o clube quer, a Liga quer e o fabricante veta, até por saber que é a gente. Só que a fornecedora veta e não faz igual. Os clubes agora estão nos procurando e dando esse direito para nós.
ME: Até onde essas parcerias com clubes podem chegar?
LK: Hoje a gente tem em torno de 18. Tem mais oito em andamento de contrato, e a idéia é ter 40 clubes das Séries A, B e C até o fim de 2009.
ME: A CBF entra nessa conta? Vocês têm contrato com ela?
LK: É uma que nós estamos negociando. Nós já temos a camisa de 1952 em amarelo, quando o Brasil jogou sem escudo, só com o cruzeiro do sul estampado [na Olimpíada de Helsinque]. A CBF que deu autorização para o Museu do Futebol fazer as réplicas e nos indicou.
ME: Em termos de venda, como vai ser o futuro de vocês? A aposta será no virtual e em parcerias ou as lojas físicas devem ganhar espaço?
LK: A gente analisa o crescimento em três frentes. A primeira é online. O nosso site hoje é visitado por historiadores e outras pessoas interessadas na história dos modelos, além dos compradores. O segundo é o atacado, que são os lojistas que vendem a Liga Retrô. A gente tem o cuidado de colocar em lojas que cuidem da marca, sem jogar o material em qualquer canto. Então sempre que possível, criamos um córner da Liga Retrô, que valorize o material. E o terceiro pilar é o crescimento de lojas físicas, que podem ser próprias ou franquias.
ME: E qual a postura do clube diante do produto? Por todo o histórico confuso com o fabricante, ele faz questão de usar sua força para divulgar, por exemplo?
LK:Sim. A partir do momento que o contrato está fechado o clube colabora bastante, apóia. Ele sempre dá uma coletiva para a imprensa no lançamento. Colocam os banners nos sites oficiais. O clube tem interesse porque quanto mais camisas forem vendidas mais royalties eles recebem.