O anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 movimentou os clubes do país, que começaram a pensar em novos estádios ou reformas nos antigos imediatamente. Nesta semana, o Conselho do Palmeiras aprovou o projeto de reforma do Palestra Itália, que pretende abrigar 45 mil pessoas em 2010, independentemente do Mundial. Ao lado da agremiação paulistana está a WTorre, empresa do ramo imobiliário que tenta se encaixar no novo mercado de arenas que surge no cenário.
Preocupada com a tendência que vem surgindo desde o início, a companhia não só se fez presente em negociações no setor como estendeu um braço para o mesmo. Criou, em maio deste ano, a WTorre Arenas S.A., projeto que tem como objetivo principal a participação em cinco grande estádios brasileiros em um futuro não muito distante.
?A idéia é uma incursão em um novo mercado, que a gente acredita que vá sofrer uma mudança por causa da Copa. Achamos que São Paulo é uma cidade em que cabe esse produto, mas outras grandes capitais também podem ter arenas que recebam outros tipos de eventos que convivem muito bem com o futebol?, disse Luis Fernando Davantel, responsável pela WTorre Arenas.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o executivo contou mais sobre os planos de sua empresa, falou sobre detalhes do contrato com o Palmeiras e ainda explicou a importância da Copa do Mundo nesse projeto.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
Máquina do Esporte: Qual a intenção e como a WTorre vai atuar dentro desse novo mercado de arenas que se abre no Brasil?
Luis Fernando Davantel: A idéia é uma incursão em um novo mercado, que a gente acredita que vá sofrer uma mudança por causa da Copa. A gente imagina que dentro disso haja um componente imobiliario que gere negócios, não só dentro mas também em termos de infra-estrutura, que vai melhorar a oferta para quem for usar o estádio.
ME: Em quais outros projetos, além do Palmeiras, a WTorre está trabalhando?
LFD: Temos outras conversas fora do estado de São Paulo, algumas em estágios mais avançados outras menos. Como também estamos olhando alternativas de reformas de estádios que não sejam de clubes especificos, do poder público. A gente gostaria de ter umas quatro ou cinco arenas espalhadas pelo Brasil de nossa administração. Achamos que São Paulo é uma cidade em que cabe esse produto, mas outras grandes capitais também podem ter arenas que recebam outros tipos de eventos que convivem muito bem com o futebol.
ME: Como a WTorre vai explorar a arena Palestra Itália?
LFD: O nosso negócio com o Palmeiras é imobiliário. Foi feito um acordo em que o clube cede a superficie do clube social para que a WTorre faça investimento. E por conta dessa obra nós exploraremos a arena, não tendo nenhum tipo de gerência sobre a área social. No estádio, nós tratamos o negocio como imobiliario. Vamos tentar alcançar receitas alugando camarotes, nome do estádio, cadeiras especiais, os mais variados lucros possíveis, o que o torna um espaço de multifuncionalidade. Um percentual dessa renda, e existem dois tipo, será passado ao Palmeiras.. Existe a familia patrimonial com camarote e cadeiras especiais. Essas começam com 5% do clube e terminam com 30% nos últimos cinco anos de contrato. A outra família está mais ligada à locação para feiras, congressos, restaurantes e lanchonetes. Elas vão de 20% a 45% nos ultimos cinco anos. A relação entre nós é muito vinculada ao negócio imobiliário. Nós não vamos ter gerência nenhuma sobre preço de ingresso e lucro de bilheteria. Isso tudo continua com o Palmeiras.
ME: Há pouco tempo, a WTorre foi ligada a uma possível obra de estacionamentos subetarrâneos do Morumbi. Essa informação procede?
LFD: Nunca teve nenhuma aproximação. Não tem fundamento nenhum esse tipo de notícia. Nunca fomos procurados por ninguém do São Paulo e também nunca nos aproximamos para nenhum tipo de obra como essa.
ME: Como a empresa está se posicionando para poder participar da remodelação de estádios públicos?
LFD:A gente sabe que o governo federal e o estadual vão ter de disponibilizar estádios, e como temos vontade e capacidade para ajudar nisso estamos colocando nossa força de trabalho à disposição para fornecermos condições para que esses locais sejam remodelados sem necessidade de dinheiro público. A gente sabe que várias cidades vão ter de investir em infra-estrutura, e aí seria importante a iniciativa privada exonerar o poder publico do ônus das reformas de arenas com dinheiro próprio.
ME: Desde o anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo, muito se fala sobre a participação da iniciativa privada nesse processo. A WTorre está tentando ser, efetivamente, uma dessas empresas viabilizadoras do Mundial?
LFD: Sim, e eu acho que não vai ser só a gente nessa disputa. É um evento de uma magnitude enorme, e com certeza empresas do nosso setor e de fora também verão uma oportunidade grande e vão olhar para isso. A gente sabe que vários grupos se disponibilizaram para ajudar com a Fonte Nova, o Mineirão e outros. Tenho certeza que como a Wtorre vão existir vários grupos de todo o Brasil para que a iniciativa privada viabilize uma demanda bastante importante da realização da Copa do Mundo. Eu acredito que pode vir um montante muito próximo do 100% desse setor.
ME: Em que ponto do panorama mundial de estádios as novas arenas do Brasil podem se encaixar? Elas ficarão equiparadas às melhores do mundo?
LFD: Eu acho que equiparar em tamanho de investimento e tipo de oferta e produto não, porque são realidades e demandas distintas. Os investimentos feitos nas arenas de Wembley e Emirates Stadium [novo estádio do Arsenal], por exemplo, montam cifras que não teriam a menor viabilidade econômica no Brasil. Por isso que a gente foi buscar o modelo portugues, do Sporting [José Alvalade] e do Porto [estádio do Dragão], que têm um nível de investimento e tecnologia que é comparavel à realidade econômica do país. Acho que vai ter pontos similares, principalmente no que diz respeito à oferta do espetáculo, que não vai deixar nada a desejar, mas em outros pontos não.
ME: Até que ponto a Copa do Mundo é preponderante nesse processo?
LFD: Eu acredito no produto independentemente da Copa do Mundo. Acho que São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo, são cidades em que cabem arenas independentemente da competição. Acho que a Copa do Mundo só vai ser a força motora, que vai captar os investimentos num curto período. Acredito que essse processo existiria de qualquer forma, mas seria mais espaçado sem a Copa. O Palmeiras nem sequer faz parte do caderno de encargos de São Paulo que foi para a Fifa. Vamos fazer homologado dentro dos padrões, mas se não for usado na Copa não vai mudar absolutamente nada no projeto.