Os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, marcaram a despedida de um dos símbolos do vôlei brasileiro da seleção nacional. Nalbert Tavares Bittencourt deixou seu nome gravado na história do esporte ao ser o único jogador a ser campeão do mundo em três categorias. Ganhou o mundial infanto-juvenil em 1991, aos 17 anos. Dois anos depois, conquistou o Mundial Juvenil. Em 2002, ganhou outra vez o campeonato com a seleção principal, aos 28 anos.
A trajetória vitoriosa nas quadras é atribuída à estrutura do vôlei no Brasil e à sorte. O carioca se considera afortunado por ter compartilhado seus anos como profissional com uma geração vencedora.
“Eu joguei pela seleção brasileira desde os 17 anos. Nos 14 anos em que estive lá nunca me faltou nada, a estrutura é de primeiro mundo e os resultados são frutos desse trabalho. O fato de eu ser tricampeão foi um pouco de sorte também. Eu tive a oportunidade de jogar com uma geração maravilhosa que me deu a chance de ser campeão nas três categorias”, afirmou o jogador.
Aos 32 anos, Nalbert experimenta a sensação de recomeçar. Em 2005, trocou as quadras pelo vôlei de praia. Após a fase inicial de adaptação à nova modalidade, o jogador ocupa a quarta colocação no ranking nacional, ao lado do parceiro Luizão, com quem joga desde 2006. Além das dificuldades iniciais, Nalbert vive a responsabilidade de ser o foco da dupla e ter que atrair patrocinadores.
“Na quadra eu era contratado pelos times, não pelas empresas, essa é a diferença. Lá eu era contratado por dirigentes que me viam como um grande jogador. Aqui eu não fui contratado só como jogador, eu cheguei como um garoto-propaganda”, disse.
Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Nalbert fala sobre a nova fase da carreira, as conquistas do vôlei brasileiro e sobre suas expectativas em relação à Lei do Esporte, sancionada na última semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte: Ao desembarcar no Brasil após a conquista do bicampeonato mundial, Giba reclamou da falta de patrocínio para o vôlei brasileiro. Você concorda que a modalidade está “esquecida” pelas empresas?
Nalbert: Em primeiro lugar, tem um aspecto que foge do nosso controle que é a questão do câmbio mesmo. O euro e o dólar estão bem à frente do real. Isso já faz com que os clubes no exterior saiam na frente. Em relação a investimento, em se tratando de voleibol, pelo que o vôlei conquistou e significa hoje para o Brasil, realmente deveria ter um investimento maisforte. É o segundo esporte no país, disparado em relação aos outros. Falando de quadra, a gente não vê um campeonato tão forte como deveria ser, e em relação à praia a gente não vê tantas equipes sendo patrocinadas. Com a visibilidade que o vôlei dá, o investimento teria que ser maior.
ME: Como você acha que o vôlei pode atrair mais investidores para o esporte?
N: Para uma empresa investir ter que ser um produto de qualidade, e isso o vôlei já é. Tem que ter alguma coisa que possa beneficiar a empresa também. Essa Lei do Esporte vai dar uma alavancada, um boom nesses investimentos. Não só em relação ao vôlei, mas para todo o esporte amador.
ME: Os títulos do masculino e o bom momento do feminino estão baseados em que: investimento na base, boa administração ou no fator técnico?
N: Tudo isso junto. Acho que é um trabalho que foi iniciado há praticamente 30 anos e foi muito bem consolidado. Todo o trabalho teve uma base muito boa para que a coisa se tornasse duradoura. Os frutos estão sendo colhidos agora e a tendência é de que os resultados durem por muito tempo.
ME: Como foi a prospecção de patrocínio para migrar do vôlei de quadra para a praia?
N: Não foi fácil. São poucas as empresas no Brasil que têm a tradição de investir no esporte. Eu conversei com várias empresas antes de fechar o patrocínio com a AGF. Todo mundo se interessava, mas não via no vôlei de praia um produto assim maravilhoso. Quem viu realmente foi a AGF, e eu fico muito orgulhoso disso. Foi a empresa que se interessou e comprou o projeto. Está sendo ótimo para a gente, ótimo para a empresa em termos de visibilidade, de imagem. Uma série de coisas que eu acho que deve fazer a empresa olhar com um pouco mais de carinho para o esporte. Eu até pensei que seria mais fácil por tudo o que eu havia conquistado recentemente. Eu saí no meu auge, com a imagem superexposta, pensei que fosse conseguir rápido.
ME: Existe a mesma cobrança de resultados na praia?
N: São coisas diferentes. Na quadra você faz parte de um processo, parte de um time. Eu era só uma peça no meio daquilo tudo, uma das engrenagens. Para a praia, fui como, digamos, o produto principal da AGF. Eles se interessaram em comprar a minha imagem e a do meu parceiro. É uma coisa menor, é muito mais direta e vinculada a mim e ao Luizão. Na quadra eu era contratado pelos times, não pelas empresas, essa é a diferença. Lá eu era contratado por dirigentes que me viam como um grande jogador. Aqui eu não fui contratado só como jogador, eu cheguei como um garoto-propaganda. É diferente.
ME: Sem patrocínio é inviável jogar na praia?
N: Viável é. Tanto que tem muita gente na praia sem patrocínio. No meu caso seria inviável, sem patrocínio não daria. Por tudo o que eu tinha na quadra, largar tudo aquilo lá e vir para um desafio novo sem nada não daria, seria burrice. A minha patrocinadora é a grande responsável por eu estar na praia hoje.
ME: Chegar aos Jogos Olímpicos de Pequim é a principal meta da dupla?
N: Meu objetivo sempre foi esse. Mesmo sabendo que é difícil, isso nunca saiu da minha cabeça. Mas a nossa grande dificuldade, justamente, é ser brasileiro. Nós disputamos contra os melhores do mundo. Em qualquer outro país nós estaríamos praticamente garantidos nas Olimpíadas.
ME: O que você acha da lei de Incentivo Fiscal ao Esporte sancionada pelo presidente Lula na última semana?
N: Vai trazer benefícios para todos os atletas amadores. O carinho com que as empresas vão olhar para o esporte vai ser muito maior, teremos um atrativo maior para os investimentos. Isso é o primordial. O Brasil cresceu muito nas últimas três Olimpíadas em termos de classificação e quantidade de medalhas e a tendência é crescer ainda mais. Na minha opinião, a Lei do Esporte deve representar um divisor de águas, porque os investimentos serão dobrados, triplicados. Tenho a certeza disso.
ME: Nalbert, você foi o único atleta a ser campeão em todas as modalidades do vôlei de quadra. Qual a estrutura que existe para o treinamento? Isso faz diferença?
N: No vôlei não precisa mudar nada. É um esporte completamente estruturado, o vôlei de quadra bem mais do que a praia. A ajuda da confederação para a praia tem que ser um pouco maior, eles podem fazer um pouco mais do que fazem. Em relação à quadra, eu joguei pela seleção brasileira desde os 17 anos. Nos 14 anos em que estive lá nunca me faltou nada, a estrutura é de primeiro mundo e os resultados são frutos desse trabalho. O fato de eu ser tricampeão foi um pouco de sorte também. Eu tive a oportunidade de jogar com uma geração maravilhosa que me deu a chance de ser campeão nas três categorias.