Patrice Rosembaum

Um dos pilares para a diversificação das fontes de receita do Palmeiras passa pelo lançamento do projeto de sócio-torcedor do clube, um dos poucos do Brasil a não ter um programa voltado para a fidelização de seus fãs.

Segundo o diretor de marketing do clube paulista, Patrice Rosembaum, em breve o programa de sócio-torcedor deverá ser lançado, mas com outro nome e em parceria com a Tática Marketing Esportivo, empresa que faz o programa para Santos, Vitória e Botafogo.

Para reforçar essas ações com o torcedor, o Palmeiras também deverá criar em breve uma caravana itinerante, como revelou a Máquina do Esporte na última segunda-feira.

Leia a seguir o complemento da entrevista com Rosembaum:

Máquina do Esporte: O início desse projeto de marketing do clube parte de onde? Por acaso pode ser dessa fidelização do torcedor?

Patrice Rosembaum: Temos hoje três projetos em andamento. Esse da terceirização, o sócio-torcedor e um projeto-piloto de escola itinerante. É um projeto legal, que vai começar pelo interior de São Paulo, para ver o que vai acontecer, e depois faremos um teste pelo Canadá.

ME: Qual a idéia de atuação com essa terceirização? É conseguir novos parceiros para o Palmeiras…

PR: É tudo. É difícil dizer item por item, mas a idéia é terceirizar para poder abraçar tudo o que se pode na área do marketing. Pegar pessoas com idéias novas, que ousem para o marketing esportivo. Mas a realidade é abraçar tudo. O que puder hoje ter de receita alternativa você tem de ter. Principalmente no Brasil, que os clubes ainda dependem do dinheiro da Globo.

ME: E como incrementar isso? Dá para se pensar em ações com o torcedor?

PR: Nós recebemos empresas atrás de empresas com projetos de sócio-torcedor. Mas o Palmeiras é um clube muito cuidadoso com essas coisas. Acho que até é o mais cuidadoso. Tanto é que agora tem esse Lig-gol [título de capitalização dos clubes de futebol] e o Palmeiras não entrou.

ME: Na visão dos marketeiros o Palmeiras seria o clube mais chato para se trabalhar…

PR: Mas não é problema de marketing, é do jurídico. Nos anos do Mustafá, às vezes até o jurídico dava o aval, mas o Mustafá é muito esperto e, a partir do momento que pode dar algo errado, a partir do “pode”, ele já recuava. Sabe por que o Palmeiras não entrou no Lig Gol? Por que o [José] Francisco [de Souza, empresário mentor do projeto] disse que tinha ido mostrar o projeto para uma promotora e ela não estava de acordo com uma coisa. Nós fomos falar com essa promotora e ela disse que isso pode parar do dia para a noite, porque tem uma liminar do disque 0900. Mas todos assinaram. O máximo que vai acontecer é de repente parar. Então o Palmeiras é muito conservador.

ME: Mas nesse caso do Lig Gol isso pode fazer com que o clube perca uma boa receita, já que se entrar depois no projeto a porcentagem vai ser menor. O senhor acha que vale ser um pouco conservador?

PR: Olha, pela impunidade que a gente tem em coisas mais importantes, eu acho que não. Se entraram os três grandes, entra junto, pega o que tem de pegar e depois, se tiver alguma coisa, daqui a 30 anos vamos resolver isso.

ME: No momento seria uma receita até certo ponto muito boa…

PR: Eu tenho minhas dúvidas. Eu posso estar 50% errado, mas por feeling eu não estou acreditando muito nisso não. É que nem disque-900 de clube. Foi um negócio furado. O São Paulo teve um acordo com Bradesco e Telesp e não deu certo. Eu tinha um serviço de disque-900 em outro negócio e durante um tempo fiz para o Palmeiras, coloquei uma placa no estádio e não teve nenhuma ligação. O torcedor acha que o clube lhe é devedor. Você fala para o torcedor: “Precisamos ajudar o clube, comprar um jogador, salvar não sei o quê. Dê um real”. Ele não dá. Você vai ter aquela meia dúzia de fanáticos, mas ele não dá.

ME: E como fazer esse torcedor virar um consumidor?

PR: Acho que o começo do que o G-4 está fazendo, que é passar uma credibilidade do clube, da marca do clube, do produto, vai levar muitos anos. O país é um problema. A mentalidade do povo é um problema. O que é, não é. O que começa não acaba. Você nunca tem uma coisa que começa numa data certa e acaba numa data certa. Mas está melhorando.

ME: Mas não dá para fazer uma coisa que instigue o torcedor?

PR: Dá, dá. Essa semana tivemos uma reunião com uma empresa que tem feito o projeto do sócio-torcedor com sucesso [a Tática Marketing Esportivo, que faz os projetos de Botafogo, Santos e Vitória]. Mas antes eu recebi muita gente que vinha com cada uma que você não acredita.

ME: Então qual seria o caminho hoje?

PR: Você pega o sócio-torcedor do São Paulo, por exemplo, que está funcionando. O projeto da Tática parece simpático, tem bom senso. Tem que fazer com quem já está fazendo, que tem sucesso. Tanta gente fez e tanta gente já quebrou a cara. Eu acho que, mesmo que, se não se tirar o lucro disso, você pelo menos fidelize o torcedor. O lucro virá indiretamente. Eu acho que só o fato de fidelizar, que o torcedor tenha uma bilheteria separada, um lugar para sentar, receber vantagens do clube, uma senha na internet para ter acesso a outras coisas. É uma centena de coisas para fazer, mas que não dá para só uma pessoa fazer, por isso que quero profissionalizar.

ME: E profissionalização nesse sentido de terceirização completa ou tendo alguns funcionários para tocar a operação?

PR: Poderia ter uma estrutura aqui, um ponto de referência. Mas eu sou a favor de uma terceirização completa.

ME: Nos últimos anos o Palmeiras perdeu o título de terceira maior torcida do Brasil para o São Paulo. Como reverter esse quadro? Isso parte de uma estratégia de marketing do clube ou depende apenas do desempenho do time dentro de campo?

PR: Só a estratégia de marketing não conquista ninguém. Muitos títulos conquistam muita gente, mas você tem de aproveitar o momento da conquista para nessa hora ter mecanismos para agarrar mais torcedores. Mas sem título você não conquista nada. Para crescer você tem de pegar o torcedor que ainda é maleável. E ele vai para onde tem festa. O Palmeiras teve um acréscimo de sua torcida na era Parmalat. Meu filho hoje de 20 anos a classe dele era lotada de palmeirense. Mas o São Paulo tem uma grande vantagem. Primeiro porque não é um clube de colônia. O Palmeiras tem uma identificação grande com a Itália e você fica com dificuldade de pegar novos sócios que não sejam da colônia. Por isso que eu não gosto de ficar colocando a bandeira italiana na frente. Não tenho nada contra, pelo contrário, isso é inerente ao Palmeiras. Mas não colocá-la demais, ficar balançando demais. Isso só vai acabar perdendo novos torcedores. Já o São Paulo é o nome da cidade, fica mais fácil atrair o torcedor. O nome da cidade é muito forte. É como você ir para Roma. Às vezes o torcedor nem sabe que a Lazio é de lá.

ME: Quantos produtos licenciados o Palmeiras tem hoje?

PR: Deve chegar a uma centena de produtos, até mais.

ME: Isso representa alguma receita significativa?

PR: Infelizmente os valores são quase ridículos. Só que, se você não licenciar seu produto, você coloca o pirata na rua. É aquela multiplicação dos pães. Você tem uma série de produtinhos que no fim das contas vão te dar algum dinheiro. Mas esse produtor licenciado vai combater o pirata, então você ganha mais gente protegendo a sua marca. Mas hoje é uma pequena renda alternativa.

ME: Onde estaria o foco para o aumento de receita?

PR: Não existe um foco de aumento de receita. Você tem de ter uma série de ações. Por que nenhuma delas pode individualmente ser algo significativo. Por exemplo, no exterior tem uma fonte de receita muito importante que é a mensagem SMS. Nós fechamos com uma empresa que vai explorar o torpedo. Essa empresa fechou com os quatro clubes por intermédio do G-4. Se ela trabalhar forte, vai ser uma receita fantástica. Se ele conseguir dar prêmios, usar uma mídia interessante que as pessoas comecem a usar, vai dar certo. Ela já fechou com a Claro, está em tratativas para fechar com a Vivo. Mas tem de encher o pessoal de prêmios. Só receber notícia não funciona não.

Leia o complemento desta entrevista.

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