No térreo do prédio onde fica a sede da Milk, Ricardo Santos apresentou na prática o funcionamento das bicicletas Brompton para jornalistas e curiosos. Sócio-diretor da agência que possui clientes como a Nike, Ricardo atendeu à Máquina do Esporte em cenário de descontração, onde a interrupção para tirar dúvidas sobre o veículo recém-lançado no Brasil era frequente. Apesar das informalidades, o pedido foi que o assunto se restringisse à chegada da marca inglesa em território nacional.
Não foi só a apresentação à imprensa que foi pouco convencional. A Milk se aproximou da Brompton após a passagem de seus sócios em Londres, em que um novo cliente não era necessariamente a prioridade; Ricardo Santos viajou para disputar a maratona da capital britânica. Foi por se interessar por uma bicicleta desdobrável que o diretor acabou conhecendo o modelo que hoje distribui no Brasil.
Ciclista assumido, o diretor fez a aposta numa evolução de mercado do segmento entre a classe A. No Brasil, a bicicleta não sairá por menos de R$ 5 mil. “Nós temos que mostrar a qualidade do produto, como ela é feita e com um serviço diferenciado”, afirmou. Momentos antes, durante uma coletiva de imprensa, fez questão de ressaltar o cuidado inglês com todos os detalhes. “Fui à fábrica em Londres e vi peças descartadas por questões de mínimo detalhe, milímetros fora do lugar”, encantou-se.
Como parte da divulgação, o “marketing de guerrilha” será adotado. Além da promessa de uso intenso de redes sociais, a estratégia contará com medidas de alto orçamento, precisamente em um sorteio entre compradores que os levarão até Londres, onde a Milk poderá compartilhar parte de sua admiração pelo processo de fabricação de cada peça. Apesar da empolgação demonstrada por todo o processo, a meta estabelecida ainda é humilde: 300 unidades vendidas em dois anos.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Como a bicicleta Brompton surgiu para a Milk?
Nós estávamos em Londres, e queríamos comprar uma bicicleta dobrável, o que víamos bastante nas ruas de lá. Quando cheguei a uma loja, o vendedor nos mostrou alguns modelos, mas disse que, em qualidade, a Brompton era a Rolls-Royce das bicicletas. Comprei e vi que o produto era diferenciado. Depois entramos em contato com a marca e apresentamos um plano de distribuição no Brasil e ganhamos o direito de vendê-la no país.
Qual é a expectativa de venda no Brasil?
Primeiro nós vamos aprender o que podemos fazer. Esse deverá ser o primeiro ano, divulgando a bicicleta. Para o segundo ano, nós temos a ideia de vender algo em torno de 300 bicicletas.
Não é um risco apostar no mercado de ciclismo no Brasil, onde as condições não são as mais apropriadas? Em São Paulo, por exemplo, há um trânsito hostil a ciclistas.
Não acho que o trânsito seja hostil aos ciclistas, ao contrário. Isso é um detalhe que as pessoas têm impressão quando não usam a bicicleta. Desde que eu comecei a dispensar o carro para ir trabalhar, percebi que a maioria dos motoristas respeita os ciclistas. Eles sabem que quanto mais se usa a bicicleta, menos se tem trânsito. Sabem que essa convivência é benéfica para os dois lados.
Mas é uma cidade que carece de ciclovias…
A solução não é ciclovia. Principalmente em uma cidade com tanto trânsito como São Paulo. Pensar em retirar uma faixa para colocar uma ciclovia é inviável, seria um caos maior do que já é. A solução é a convivência. Problemas acontecem, é claro. Mas acontecem em qualquer lugar do mundo, não só no Brasil. Para o ciclismo se popularizar no país, não precisamos de intervenção de governo, mas sim de uma mudança de hábito, de atitude, precisamos criar um interesse pessoal em pedalar.
Como a Brompton facilitaria esse processo?
Há um ano, eu experimentei ir de bicicleta ao trabalho. Acabei vendendo o carro porque deixei de pegar trânsito. Além de um exercício, andar de bicicleta reduziu drasticamente meus custos mensais. Hoje, só tem o carro da minha mulher em casa. Mas isso não significa que eu não tinha problemas. Para entrar no elevador, tinha que subir a bicicleta pelas pareces, além de deixá-la no meio do escritório quando chegava. As pessoas parecem até que têm medo de uma bicicleta pendurada no elevador; elas nem entram. Com a Brompton isso é muito mais simples. Em segundos ela fica do tamanho de uma mala pequena.
Como vai ser a divulgação da bicicleta Brompton?
Vamos fazer ações de guerrilha, com uso de redes sociais. Vamos fazer concursos nesse primeiro momento, entre eles uma viagem para Londres para quem comprar uma Brompton, para conhecer todo o processo de como é feito a bicicleta. Vamos também exibi-la em algumas lojas específicas, de luxo, voltadas para o público A.
A bicicleta é cara, o que não é a realidade de outros países. Isso atrapalha?
Ela vai ser entendida aqui como um artigo de luxo. O modelo mais barato será de R$ 5 mil, a mais cara pode chegar a R$ 10 mil. Na Europa, de fato, ela é mais popular, mas o Brasil não é o único país que vai entendê-la dessa maneira. No Japão, por exemplo, ela é uma bicicleta cara. Nós temos que mostrar a qualidade do produto, como ela é feita e com um serviço diferenciado. Em qualquer segmento de luxo é assim. Veja em carros: uma pessoa pode comprar um Smart ou optar por um carro maior, com maior consumo de combustível. Essa mesma pessoa pode comprar uma Brompton, ou pode preferir uma Scooter.
Por que ela não poderá ser vendida por internet?
Não é isso. O que será diferenciado é a entrega. Não podemos fazer uma venda convencional para um produto desse, com esse preço. A entrega será feita pessoalmente, entregue às mãos de quem a comprar. Queremos que cada um que a receba tenha uma explicação de como ela funciona. Não podemos tratá-la como um produto comum.