O Uniceub/BRB/Brasília, finalista da terceira temporada do Novo Basquete Brasil (NBB), luta para manter a hegemonia no basquete nacional. A equipe, atual campeã do torneio, chegou à decisão nas três edições realizadas e possui a maior arrecadação do país com bilheterias, com R$ 212 mil obtidos no NBB 2010/2011.
Mas não é só dentro de quadra, no confronto final diante do Vivo/Franca, que o clube tem se concentrado. Fora dos ginásios, o Brasília está empenhado em ampliar a base de fãs, e há um público que recebe atenção especial por parte dos gestores do time. Adolescentes e jovens serão o foco da equipe em ações nos próximos meses.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Rodrigo Costa, diretor de marketing do Uniceub, centro universitário responsável pela gestão da equipe de basquete da cidade, detalhou a aposta em estudantes dos ensinos fundamental e médio para conseguir difundir o basquete no centro do país, algo benéfico para a empresa.
O Uniceub, por meio do crescimento da base de torcedores do time de basquete, potencializa o esporte como plataforma de negócio. Nas finais do NBB atual, por exemplo, a instituição aproveitou a visibilidade local para divulgar o início dos vestibulares. “Nossa equipe é referência, e isso gera negócios bastante interessantes”, diz Costa.
O planejamento, na verdade, aproxima-se muito do modelo adotado nos Estados Unidos. Em solo norte-americano, universidades utilizam o sucesso no esporte para construir a própria imagem e conseguir atrair os melhores alunos. O Brasília, ainda no primeiro ano de gestão do Uniceub, está no início desse processo.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Máquina do Esporte: Quais são os principais objetivos do marketing no basquete de Brasília?
Rodrigo Costa: Essa é nossa primeira temporada. Ainda estamos em um processo de validação das ações, e o projeto tem ido muito bem. Escolhemos esse patrocínio como uma plataforma de relacionamento com ensino médio, principalmente, mas também ensino fundamental.
ME: O que a Uniceub tem feito com esses públicos?
RC: O que temos feito é, em todos os jogos, envolver os ensinos médio e fundamental na medida do possível. Vou dar um exemplo: no último sábado, após o jogo da sexta, contra o Pinheiros [pelas semifinais do NBB], quatro atletas da equipe principal e toda a equipe sub-20 do Brasília foram para a inauguração da vila olímpica, em uma cidade satélite, para fazer trabalho social junto às crianças que vão utilizar a vila e são do ensino fundamental, normalmente de escolas públicas.
ME: E quais são os objetivos disso?
RC: Estamos pegando carona na visibilidade do jogo para desenvolver ações com o intuito de estarmos mais próximos desses públicos. Em relação aos jogos, nós temos quantidade de ingressos para cada jogo e temos promovido esses ingressos nas escolas do ensino médio. Isso faz com que haja mobilização desses alunos em torno do evento, no qual Brasília tem representatividade considerável.
ME: Como as escolas podem participar do basquete de Brasília?
RC: Nossa equipe é referência esportiva da cidade, e isso gera negócios bastante interessantes. Temos procurado envolver escolas no evento. Temos programado e conversado para que elas tenham equipe de animação de torcida durante os jogos. O colégio sempre tem uma banda, que pode abrir a partida cantando o hino nacional. Nos intervalos dos jogos, temos recorrido a diferentes tipos de animação. Já tivemos grupos de líderes de torcida profissional, mascote que faz animação, distribuição de brindes variados – ora camisetas, ora bonés. Temos pensado em ações específicas para envolver esse público.
ME: Qual é a principal razão de envolver jovens nessas ações?
RC: Queremos resgatar aquela força do basquete, que existia há alguns anos, quando era o segundo mais praticado do Brasil, atrás apenas do futebol. Esse resgate passa pela juventude. Tanto ensino médio, quanto fundamental, quanto universitário. Tudo isso faz parte da nossa estratégia. Nosso trabalho é ampliar a base de fãs, torcedores, com algo bem abrangente.
ME: As escolas estão colaborando nesse projeto? Como isso funciona?
RC: Há escolas que têm abertura maior que outras, é claro. Nossa proposta é trabalhar com o maior número de escolas possível.
ME: Essa proximidade com escolas visa “somente” a ampliação da base de torcedores, ou há também planos de encontrar jovens talentos?
RC: Existem os aspectos de marketing e técnico. O técnico, nessa nova etapa que teremos com o time, pode existir em médio e longo prazo. Nossa ideia é fazer seletivas, conhecer, eventualmente, alguém que possa compor as equipes de base. Existe essa prerrogativa. Mas hoje o trabalho que estamos fazendo é para pegar o coraão dos alunos dos ensinos médio e fundamental.
ME: O projeto de vocês é similar ao que é feito nos Estados Unidos, não?
RC: O basquete é um dos esportes mais emocionantes, não à toa que a NBA é referência global. Pela forma como trabalha comunicação, promoção, captação de talentos. Hoje nosso envolvimento é para incentivar a prática nas escolas, motivar pessoas a estar torcendo pela equipe em jogos oficiais, seja com presença no ginásio ou pela TV, criar relacionamento com esses segmentos, como eles fazem lá.
ME: Vocês possuem algum tipo de pesquisa para embasar esse projeto, seja em relação à quantidade de jovens, perfil de consumo, ou ainda é algo empírico?
RC: Ainda estamos fazendo isso muito na base sensorial, de sentimento, de ver ginásio lotado. Tudo isso faz parte do processo natural de crescimento que estamos implementando. À medida que estamos crescendo com a equipe, podemos nos profissionalizar e ter essas informações.
ME: Há ainda outra estratégia para conseguir mais torcedores?
RC: Temos como perspectiva para a próxima temporada ter jogos itinerantes. Além do calendário normal, queremos visitar cidades-satélites, como Taguatinga e outros locais. Para que amplie a base de fãs, dar oportunidade para essas cidades, que não têm atrações esportivas, de se envolver com o basquete como um esporte que pode proporcionar entretenimento de alto nível.
ME: Como os resultado dentro de quadra afetam esse trabalho?
RC: Se parar para pensar, os jogos contra o Pinheiros, dos quatro, dois tiveram prorrogação, tamanha a disputa. Ainda estamos na base inicial. Para se ter noção, a própria equipe é recém-contratada. Estou no projeto desde fevereiro, apenas. À medida que o tempo passa, vamos nos profissionalizando, e isso passa por merchandising oficial, uma série de nuânces que queremos explorar à medida que vamos tendo resultado técnico, com um time competitivo, que já é o caso da nossa equipe.
ME: Vocês já sentem algum retorno por parte da torcida?
RC: Embora não tenhamos pesquisas, nas visitas que fizemos com coordenadores e diretores de escolas, a demanda pela presença do time existe. Isso já nos anima. A tendência é que se forme base de torcedores. Temos também um projeto para trabalhar em conjunto com torcida organizada, para dar uma cara para ela.
ME: Quais cobranças estão feitas pelos seus superiores? Há metas de crescimento da torcida, por exemplo?
RC: Minha função aqui é comandar o projeto de basquete, mas essa é só uma das minhas atribuições, e tenho várias. Vestibulares, como qualquer faculdade, são a prioridade do marketing de instituições de ensino. O que estamos sendo cobrados é por uma gestão profissional do esporte em benefício de tudo isso. Aumentar a base de torcedores, fãs, naturalmente, para que se possa ter relacionamento com eles, como uma ponte para explorar outros produtos e serviços. O nosso trabalho, em linhas gerais, é solicitar demanda para o centro universitário.
ME: Há algum prazo para atingir essas metas?
RC: Nosso contrato foi assinado para duas temporadas. A primeira foi essa, na qual já somos campeões da Liga Sulamericana e somos finalistas do NBB. Independentemente desse resultado, para a próxima temporada, vamos passar por uma profissionalização maior, que hoje já acontece de forma pontual. Para a próxima temporada, queremos dar um choque de gestão no sentido mais amplo. Ou seja, sair com frentes de atuação. Focar na torcida, com ações como melhorar e incentivar a relação com ensinos médio e fundamental, aumentar a base de fãs, frentes que vamos abrir para fazer essa profissionalização.
ME: Em relação a patrocinadores, quais são os planos de vocês? Vocês pretendem dividir os custos e a exposição com outra empresa?
RC: No que se refere a outros patrocinadores, nosso foco é no campeonato. Estamos focados no campeonato, e por isso ainda não tratamos esse assunto. Teremos pelo menos dois meses para trabalhar essas questões. Qualquer coisa que envolva patrocínio, é melhor conversar depois do campeonato.
ME: Patrocínios específicos ainda não devem ser tratados, claro, mas qual é a filosofia de trabalho de vocês em relação a isso?
RC: Nossa estratégia é diferente do mercado em relação a patrocínios. No momento oportuno, em junho, a gente trata especificamente sobre esse assunto. Nossa ideia é fazer, depois dos jogos, divulgação bastante inteligente, para que as pessoas tomem conhecimento sobre nossa estratégia.