Com a proximidade de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, é consenso entre analistas que o mercado está inundado de oportunidades. Mas para quem? A três anos do início do maior evento de futebol do planeta, concluir graduação, conseguir pós-graduação na área de marketing esportivo e ainda entrar no mercado. Há tempo para tanto?
Para profissionais temporários, contratados apenas para atuar nesses megaeventos esportivos, haverá vagas, segundo Rodrigo Vianna, diretor da Hays, empresa especializada em recrutar profissionais com atuação global. “Na parte estratégica, fica mais difícil, porque tudo se define a partir de agora”, argumenta o executivo.
Quem quiser aproveitar esse momento de aquecimento do mercado esportivo brasileiro, de acordo com o recrutador, terá de preencher requisitos em três áreas. Em primeiro lugar, conhecimento técnico de marketing. Depois, uma pós-graduação para se especializar em marketing esportivo. E, por fim, personalidade condizente.
A estimativa de Vianna é que um gerente de marketing esportivo alocado em uma companhia de grande porte, com um departamento voltado para essa área, ganhe entre R$ 12 mil e R$ 16 mil mensais. Mas a remuneração é difícil de prever, sobretudo entre empresas menores, que ainda não se interessam por consultoria para contratar.
Leia a entrevista na íntegra, abaixo:
Máquina do Esporte: Como está o mercado para profissionais envolvidos com marketing esportivo? Ele tem crescido nos últimos anos?
Rodrigo Vianna: Está crescendo muito. Existe um paradigma do mercado, de que ele tem crescido porque Copa e Jogos vêm aí. Mas a profissionalização já vem acontecendo desde o início da década de 1990, alavancado pela parceria Palmerias/Parmalat. Era uma empresa trabalhando com um clube, e isso levou o mercado a enxergar oportunidades incríveis e também ausência de profissionais. O movimento cresceu, apareceram cursos, aí sim alavancados por Copa e Olimpíadas.
ME: Esse crescimento ocorre apenas pela chegada de megaeventos, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, ou aconteceria naturalmente pela dita profissionalização que o esporte está passando no Brasil?
RV: O consumidor exige um mercado mais profissional. Para fazer um investimento de patrocínio, precisa ver quanto de mídia esse esporte tem, porque não se joga mais dinheiro no lixo. Existe uma conta que precisa ser paga sobre o investiento, colocá-lo na balança, e quem faz esse investimento? Ele tem de estar preparado. Não se pode ser só mais um sonhador, investir porque é apaixonado. A paixão não paga mais a conta.
ME: Quais áreas são mais requisitadas nessa área?
RV: Eu colocaria duas áreas do marketing esportivo como as que vão explodir nos próximos dois ou três anos. A primeira é comunicação, desde assessoria de imprensa até comunicação de marca. Tudo o que liga a vertente comunicação fará parte do escopo. E a segunda, uma função nova, que existia beirando a informalidade, que é a de relacionamento esportivo. Ele responde pela interface entre os envolvidos com negócios no esporte. São duas áreas em ebulição.
ME: Que características o profissional precisa ter para se encaixar no mercado esportivo nos próximos anos?
RV: Tecnicamente, tudo o que a posição exige. Comunicação, produtos, planejamento, é tudo parte técnica, que não vou entrar. Um curso de especialização, pós-graduação, é importante. Há cursos ligados a isso hoje, só em marketing esportivo. Quem quiser ingressar, é bom ter especialização. A terceira linha é comportamental. É preciso ter toda a parte técnica, a formação e a relação com o esporte. Esses são os três componentes.
ME: Para um profissional que está se formando agora, há tempo de se preparar em tempo para aproveitar o boom causado pelos eventos esportivos?
RV: Vai existir demanda por profissionais temporários, contratados só para os eventos. Em todo país do mundo teve isso. Na parte estratégica, fica mais difícil, porque tudo se define a partir de agora. As empresas já estão olhando para 2016 e querendo fazer agora. Não é de um ano para o outro que dá para se formar. Mas, como o mercado está mais aquecido, há mais oportunidades. É difícil dizer, porque é tudo novo no Brasil. Estamos falando dos primeiros eventos de primeira linha de fato no Brasil. Não dá para prever o que acontecerá no mercado.
ME: Como está o sistema de ensino voltado para essa área? Ele está acompanhando o ritmo de profissionalização das profissões?
RV: Sim. Não estive em nenhuma instituição, nem sou do Ministério da Educação, mas tenho pessoas no meu círculo pessoal que fizeram pós-graduação em marketing esportivo e dizem ter sido positivo. Vejo os cursos evoluindo, mas ainda não 100% prontos.
ME: O que é mais indicado para conseguir penetrar no mercado: buscar formação no exterior ou em entidades brasileiras? Há muita diferença de um para outro?
RV: Nesse momento, formar-se aqui, porque temos um bom background. Os mercados estão aqui, porque lá fora já estão consolidados. Nos Estados Unidos, o marketing esportivo já é muito estruturado. Aqui, tudo é novo, está acontecendo agora, então a experiência é maior.
ME: Dá para estimar qual a remuneração de executivos que atuam na área esportiva?
RV: Depende do nível. Um gerente de marketing esportivo em uma empresa de grande porte, ou seja, que tenha um departamento só de marketing esportivo, varia entre R$ 12 mil e R$ 16 mil. Um gerente de área. Mas tem analistas, coordenadores, e a remuneração varia muito. Em empresas menores, de nicho, fica ainda mais difícil dar números.
ME: Essa remuneração está de acordo com o resto do mercado, ou há alguma discrepância?
RV: É uma situação que envolve 500 variáveis. O que é importante é que, em geral, os profissionais de marketing esportivo já são remunerados como marketing. Já está equiparado. Ser analista sênior de marketing é quase igual a marketing esportivo.
ME: O mercado brasileiro também tem recebido, em função desse grandes eventos, a chegada de profissionais de fora. Como o executivo local faz para não ser engolido por estrangeiros?
RV: Onde o brasileiro ganha? Língua materna, português. Conhecimento do mercado. Quem vem dos EUA está acostumado com NBA e pode trazer coisas boas para o Novo Basquete Brasil (NBB), por exemplo, mas o brasileiro conhece o público, o mercado. O esporte brasileiro é diferente do norte-americano, do europeu, do asiático, e assim por diante. O brasileiro pensa que está perdendo oportunidades para o gringo, mas é só por causa do mercado, que aqui tem, e lá, não.
ME: Por fim, como está a demanda pela consultoria da Hays em assuntos ligados a esporte?
RV: Nós temos um grande player trabalhando conosco há dois ou três anos. Já vejo uma evolução muito grande dentro da área. Em geral, as empresas de menor porte evitam buscar consultoria para fazer processos seletivos, porque isso ainda está muito concentrado nas grandes. Mas, partindo do pressuposto que já temos um player há tantos anos, o mercado está bem movimentado. A experiência é positiva. Mas acho que em 2012 e 2013 tende a aparecer de forma mais intensa.