A entrada da Warner Bros. no mercado brasileiro de licenciamento esportivo, por meio da parceria com o São Paulo, pode ser encarada como o início de um grande revolução para esse segmento. Para a empresa, porém, o Brasil também tem uma importância significativa dentro do planejamento da companhia.
Uma das líderes mundiais do mercado, a Warner quer também fortalecer sua marca no mercado latino. Para isso, além de já comemorar a presença consolidada no México, fruto das parcerias com a seleção de futebol local e o América, a empresa ressalta a importância do mercado brasileiro e do trabalho que deve ser realizado no país.
“O Brasil é um mercado muito importante para a Warner. É um top 5 em questão de licenciamento. A Warner quer focar em desenvolver o grande portfólio de marcas que tem para o Brasil”, afirma Salvador Viramontes, vice-presidente da área de licenciamentos da Warner Bros. Consumer Products da América Latina.
Esse portfólio, que recentemente aumentou com a entrada do São Paulo, deve crescer ainda mais neste ano. A empresa negocia também com o Flamengo um contrato semelhante. Mesmo assim, o executivo crê que não haverá “concorrência” entre os dois clubes e que isso possa prejudicar ambos.
“O diferencial da Warner é oferecer ao consumidor um produto que ele vai usar com orgulho. Esse é o segredo. Se começarmos a fazer tudo igual para os clubes, não vai funcionar. Então vamos usar o centro de excelência de design que temos em Londres e os recursos de design no Brasil para fazer um trabalho único para cada clube”, explica Viramontes.
Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o executivo da Warner Bros. fala sobre a escolha do São Paulo para ser o primeiro parceiro da empresa no Brasil, conta sobre a influência desse negócio no mercado brasileiro e ainda da possibilidade de um acordo com o Boca Juniors, da Argentina, grande destaque do continente na área de licenciamentos.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
Máquina do Esporte: Por que o São Paulo foi escolhido como o primeiro parceiro da Warner na América do Sul?
Salvador Viramontes: O São Paulo é um grande clube, não só na qualidade dentro de campo, mas em termos de marketing e planejamento também. Acho que nesse momento foi uma das melhores opções em nível mundial para nos associar. Além disso, o Brasil é um mercado muito importante para a Warner. É um top 5 em questão de licenciamento.
ME: Como foi o período de negociação com o São Paulo? Existiu algum empecilho ao longo das conversas que poderia ter impedido o acerto?
SV: Foi uma negociação longa, de 18 meses, mas realmente estamos muito otimistas. Achamos que temos muita complementaridade. O know-how da Warner em termos de criação e desenvolvimento de produto, além de selecionar os melhores licenciados do mercado. No caso do São Paulo, é um clube com uma marca fortíssima, está crescendo muito e tem uma alta projeção. Desde o começo, a negociação foi muito natural. Demorou a acontecer, mas não por conta de diferenças, pois tudo aconteceu de uma forma cômoda e confortável.
ME: A entrada da Warner no mercado brasileiro de licenciados irá influenciar de que maneira este segmento?
SV: Eu acho que, sem dúvidas, o fato de a Warner atualmente não ter só o São Paulo, mas todo um portfólio de marcas dos clubes europeus, como Barcelona, Milan, Manchester United, entre outros, já leva a nossa possibilidade neste mercado para outro patamar. Além disso, a Warner é uma das líderes mundiais de licenciamento e merchandising. Sem duvida, isso vai ajudar a elevar o nível de licenciamento do futebol, para beneficio do próprio futebol.
ME: Com um investimento e um apelo muito maior que os atuais concorrentes do mercado brasileiro, a Warner não corre o risco de ter o monopólio dos licenciamentos do futebol brasileiro no futuro?
SV: Eu tenho certeza que não. O Brasil é um mercado muito dinâmico e a história já provou que a concorrência justa e equilibrada beneficia todo mundo. A nossa presença ajudará os concorrentes e os consumidores, nesse caso os clubes. Eu estou convencido e acho que vai ser uma situação que todo mundo vai ganhar. Outras empresas, sejam clubes ou concorrentes, vão fazer esforços também para se igualar com o que a Warner está fazendo, então todo mundo irá ganhar.
ME: O contrato com a Warner pode prejudicar o acordo que o São Paulo tem com a Reebok ou ainda a presença do clube no G4?
SV: O nosso contrato é muito especifico. Abrange unicamente a área de licenciamento e merchandising e é exclusivo para o Brasil e o Japão. Isso não afeta nenhum outro contrato, parceria ou associação que o São Paulo tenha.
ME: Quando serão lançados os primeiros produtos fruto da parceria com o São Paulo?
SV: Previsão exata nós não temos, mas é questão de alguns meses. Depende da linha de produtos. Brinquedos, por exemplo, levam mais tempo para serem desenvolvidos. Já as roupas levam seis meses. Mas eu garanto que nos próximos meses o mercado vai começar a ver uma grande quantidade de produtos do São Paulo.
ME: Uma das cláusulas do contrato diz que a Warner não pode fechar com nenhum outro clube de São Paulo por um ano e meio. Isso pode atrapalhar os planos da empresa no país?
SV: Nós não entramos em cláusulas especificas do contrato, mas a essência dessa parceria é que é importante. A Warner quer focar em desenvolver o grande portfólio de marcas que tem para o Brasil. Todos esses clubes europeus que já citei, a Eurocopa, a Champions League e o São Paulo agora. Então, independentemente de cláusula de contrato, temos muito trabalho pela frente, um grande desafio, e vamos focar nesse desafio.
ME: A Warner também negocia um acordo com o Flamengo ainda para este ano. Ter dois clubes no mesmo país pode atrapalhar o desenvolvimento dos projetos de algum dos envolvidos ou de ambos?
SV: Novamente, o foco da Warner é desenvolver todos esses clubes. É uma quantidade de trabalho incrível. Só para ilustrar como a Warner trabalha. Na Europa, nós desenvolvemos três style guides para o Milan. Inclusive, esses style guides são completamente diferentes dos outros. A mesma coisa para os dois do Barcelona e do Manchester. Entre esses sete, são todos diferentes entre si. Cada clube tem uma essência, um posicionamento e uma imagem. Então podemos trabalhar com um grande número de clubes sem precisar cair em uma mesmice. Todo trabalho deve ser único. O diferencial da Warner é oferecer ao consumidor um produto que ele vai usar com orgulho. Esse é o segredo. Se começarmos a fazer tudo igual para os clubes, não vai funcionar. Então vamos usar o nosso Centro de Excelência de Design que temos em Londres e os recursos de design no Brasil para fazer um trabalho único para cada clube.
ME: Quais são os mercados que a Warner pretende explorar na América Latina, além do Brasil?
SV: O nosso foco na América Latina são os grandes mercados, Brasil e México. Temos uma estratégia muito clara nesse sentido. A coluna vertebral dessa estratégia são os clubes europeus que são de alto prestígio e os campeonatos. Mas a única maneira de trazer massa critica e volume para o nosso negócio é trazer grandes clubes locais. No caso do Brasil é o São Paulo. No caso do México é o América e a seleção mexicana. Essa é a nossa estratégia e vamos focar nesses mercados.
ME: Na América Latina, o clube que se destaca na área de licenciamentos é o Boca Juniors. Essa força pode resultar na entrada da Warner no mercado argentino também?
SV: Possibilidades existem muitas. Nós queremos fazer as coisas da melhor forma e com a melhor qualidade possível. Vamos focar nesses dois mercados, com os clubes que temos, no curto e médio prazo e com isso fazer um excelente trabalho de implementação.