O mercado esportivo brasileiro, em 2011, terá novas alternativas de entretenimento. Em São Roque e São Carlos, ambas cidades situadas no interior de São Paulo, serão realizadas provas de slopestyle, esqui e biathlon. A Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), com os eventos, espera ampliar a base de praticantes desses esportes.
Apesar de manter curiosidade a respeito da neve, o brasileiro está pouco habituado às modalidades praticadas nela. A princípio, obviamente, porque a neve no país é raríssima, restrita a determinadas regiões do Sul. A necessidade de recursos financeiros elevados para praticá-los, ainda, limita a aproximação do público ao esses esportes.
Por essa razão, as provas de São Roque e São Carlos são essenciais. “Todo atleta começa de forma recreacional, e um dia se interessa pela parte competitiva da modalidade”, explica Stefano Arnhold, presidente da CBDN, em entrevista à Máquina do Esporte. “Os mais talentosos são convidados a representar o Brasil”.
Financeiramente, contudo, a entidade enfrenta problemas compartilhados também por esportes mais tradicionais. Para ambos os eventos, ainda não há empresas, locais ou internacionais, interessadas em patrociná-los. A mesma situação vive a própria CBDN, que ainda não conseguiu acertar com patrocinador global.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Máquina do Esporte: Por que a CBDN tem atraído empresas como Ikwa e Boo-box? Quais são as características da entidade que a tornam em um bom negócio para essas marcas?
Stefano Arnhold: O brasileiro em geral possui atração muito forte pela neve, e por consequência pelos esportes na neve, fascínio esse explicado por não termos neve no Brasil. Os esportes na neve são plasticamente muito bonitos, e os Jogos Olímpicos de Inverno têm mostrado ao brasileiro esportes com os quais ele tem pouco contato. As diferentes modalidades emprestam diferentes atributos às marcas que patrocinam. O esqui alpino é mais clássico, sofisticado e refinado, ideal para quem deseja atingir um público especial. O snowboard é mais radical, então atinge faixa etária mais jovem, plugada e antenada nas redes sociais. O esqui cross country e o biathlon são esportes de endurance e oferecem atributos especiais às marcas, como resistência, perseverança e precisão, vinda do tiro. O freestyle é a união da sofisticação do esqui alpino com o radicalismo do snowboard, então igualmente atinge aquela faixa etária mais jovem, mas com uma pitada de modernidade e exclusividade.
ME: A CBDN ainda busca patrocínios, tem cotas disponíveis, ou as propriedades para 2011 já estão fechadas?
SA: A CBDN contratou a Brunoro Sports para captar patrocínios para seus campeonato e equipes. Ainda há cotas para os vários campeonatos que irá organizar. Em especial, a abertura da Copa do Mundo de snowboard cross em setembro, na Argentina; o Campeonato Brasileiro de snowboard, como parte da Copa Continental Sul-Americana de snowboard, também em setembro na Argentina; a abertura da Copa do Mundo de esqui cross em agosto, no Chile; o Campeonato Brasileiro de esqui cross, como parte da Copa Continental Sul-Americana de esqui cross também em agosto no Chile; uma inédita Copa Continental Sul-Americana de slopestyle, tanto de esqui quanto de snowboard, já para a introdução dessas duas modalidades no programa olímpico de Sochi-2014; Campeonato Brasileiro de esqui cross country em Ushuaia, em agosto na Argentina; e Campeonato Brasileiro de biathlon, com etapas no Chile e na Argentina.
ME: Qual é o perfil ideal de patrocinador para a CBDN?
SA: O perfil está muito ligado à modalidade escolhida e aos atributos que são emprestados às marcas. No esqui alpino, bancos privados, marcas de carros de luxo, relógios, canetas e outros artigos sofisticados. No snowboard e no freestyle, aquelas marcas que querem se rejuvenescer ou atingir um público mais jovem.
ME: As patrocinadoras também fazem negócios relacionados aos atletas, ou se restringem à confederação?
SA: Temos feito negócios com campeonatos, atletas, equipes, e procuramos um patrocinador global para a confederação.
ME: Há algum evento voltado para desportos na neve no Brasil?
SA: Sim. Esse ano devemos ter um desafio de slopestyle em São Roque e uma prova de roller esqui e outra de roller biathlon em São Carlos. Em 2012, um big air em São Paulo.
ME: Com base nas provas agendadas para 2011, quais são os planos da confederação em relação à formação dos atletas? As provas de São Carlos e São Roque fazem parte desse planejamento?
SA: Cada atleta possui um detalhado planejamento com macro-ciclos e micro-ciclos, desde a parte de nutrição, preparações psicológica e física, treinamentos na neve, de tiro e de roller esqui para o biathlon. Participamos em geral de mais de 200 provas por ano, com cerca de 40 atletas, em cerca de 20 disciplinas de cinco modalidades esportivas, em mais de 20 países de quatro continentes. Com certeza, as provas tanto de São Carlos quanto de São Roque são parte importante desse planejamento.
ME: Existe a possibilidade de usar o esqui recreacional para estimular a formação de novos atletas? Como a confederação pode contribuir para que esse ciclo funcione?
SA: Todo atleta começa de forma recreacional e um dia se interessa pela parte competitiva da modalidade. É quando ele procura a CBDN e é convidado para participar do campeonato amador da modalidade, para conhecermos o atleta e seu potencial competitivo. Os mais talentosos são, então, convidados a fazer parte das equipes da CBDN e se desenvolvem para representar o Brasil internacionalmente.
ME: Como a confederação pretende explorar comercialmente as provas nessas cidades?
SA: Estamos oferecendo patrocínio dessas provas, e existe também a possibilidade de ofertar a empresas localizadas na região dessas cidades.
ME: O que tem atrapalhado na busca por um patrocinador global para a confederação?
SA: Por enquanto, não tivemos nada nos atrapalhando nesse contexto.