Wagner Ribeiro

Tradicional mercado exportador de jogadores, o Brasil mantém a sua fama, mas deixou de ser a “bola da vez” no mercado internacional. Pela falta de estrelas no país, aliada ao mau desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, a atual temporada foi a que registrou o menor número de atletas negociados com o exterior.

“Em cinco anos, essa foi a temporada com o menor número de transferências para o exterior. Além da derrota do Brasil na Copa, o fato de todos os grandes jogadores já estarem no exterior também ajudou para a queda nesse número”, afirma Wagner Ribeiro, empresário de jogadores, em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.

Segundo os últimos dados divulgados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), referentes ao início de julho de 2006, 400 jogadores deixaram o Brasil em direção a países como Alemanha, Espanha, Macedônia e até Oman. Em 2005, esse número foi de 804 atletas, enquanto em 2004 foi de 857.

Nesta entrevista exclusiva, Ribeiro ainda explica o porquê do surgimento da Turquia como destino de grandes jogadores que atuam no Brasil, afirma que o mercado externo prefere o jogador argentino ao brasileiro, além de se mostrar descrente com a realização de uma possível Copa do Mundo no país.

Leia a seguir a entrevista com o empresário:

Máquina do Esporte: Com o fim do prazo para transferências, o que mudou de outros anos para esse na relação Brasil-Europa?

Wagner Ribeiro: Em cinco anos, essa foi a temporada com o menor número de transferências para o exterior. Além da derrota do Brasil na Copa, o fato de todos os grandes jogadores já estarem no exterior também ajudou para a queda nesse número. Mas nós tivemos algumas boas negociações, como o Rafael Sobis, que está com a seleção brasileira, e o Ricardinho, que esteve na última Copa do Mundo … Além deles eu coloco o Lugano, do São Paulo, como as três principais negociações. Mesmo assim, foram três negociações baixas para os padrões mundiais. O Sobis saiu por 8 milhões de euros [R$ 21,6 milhões], o Lugano por 6,5 milhões de euros [R$ 17,5 milhões] e o Ricardinho por 2 milhões de euros [R$ 5,4 milhões]. Nós não tivemos nenhum grande negócio, como o do Robinho na última temporada, por exemplo.

ME: Desses três jogadores citados, dois foram para a Turquia. Como o país apareceu como grande destino de jogadores do Brasil nesta temporada?

WR: Nesta temporada nós tivemos quatro jogadores que foram para lá. Eu estive semana passada em Istambul pela primeira vez. Fui assistir a um jogo do Besiktas [novo time de Ricardinho]. O estádio deles parece com o da Ponte Preta, só que mais feio e mais sujo. A única diferença é que ele é mais alto, e estava lotado, com 50 mil torcedores gritando e xingando o jogo inteiro. Ao ver isso, eu percebi que o fanatismo dos turcos por futebol é muito grande, o que deve ter motivado os clubes a investirem cada vez mais em bons atletas.

ME: A legislação da Turquia também ajuda na contratação de atletas do Brasil?

WR: Com certeza. A legislação da Turquia é semelhante à da Alemanha, que permite até cinco jogadores sem passaporte comunitário. Na Itália existe a restrição quanto ao passaporte. Na Espanha o limite é de três jogadores sem o documento. Na Inglaterra só podem jogar atletas com nível de seleção. Então a Turquia, assim como times do leste europeu e mercados emergentes, como Japão e China, continuarão bem cotados.

ME: Quais foram as grandes negociações na Europa neste início de temporada?

WR: Os tradicionais clubes se reforçaram bem. O Milan fechou com o Ricardo Oliveira. O Real Madrid com o Cannavaro, Emerson, Diarra e Van Nistelrooy; e o Barcelona com Gudjohnsen, Thuram e Zambrotta. Para mim essas foram as grandes transações na Europa.

ME: E dos jogadores que voltaram para o Brasil?

WR: Sem dúvidas o Zé Roberto foi a melhor contratação. Ele foi muito bem na Copa do Mundo e ainda tinha mercado na Europa. Mas ele decidiu voltar, por uma questão pessoal. Foi um bom negócio para o Santos.

ME: Existe alguma diferença para um clube do exterior no fato de um jogador ser brasileiro ou argentino?

WR: Existe. Os europeus preferem os argentinos, pois normalmente eles são mais profissionais. Nós já vimos diversos casos de brasileiros que vão para a Europa e reclamam da comida, do clima, de qualquer coisa. Eles dizem que não conseguiram se adaptar a determinado país e já querem voltar para o Brasil. Por isso os argentinos acabam sendo mais valorizados.

ME: O que precisa ser feito para os clubes brasileiros consigam segurar seus jogadores? O marketing é fundamental nesse processo?

WR: Hoje seria muito mais fácil para um clube segurar um jogador, até por conta da desvalorização do dólar em relação ao real. Mas o problema é maior. Na Europa, a televisão paga 20 vezes mais do que a Globo aqui no Brasil. Além disso, só pegando clubes médios como exemplo, esses times têm dez patrocinadores fortes que pagam uma fortuna. A bilheteria de um jogo na Europa é de 2 milhões de euros (R$ 5,4 milhões). Aqui, quando um jogo tem 50 mil pessoas, esse número chega a R$ 500 mil, 10% do que é registrado lá. Então esse cenário precisa mudar para que o futebol brasileiro fique forte e consiga segurar jogadores.

ME: Uma Copa do Mundo no Brasil teoricamente aumentaria o fluxo de jogadores do Brasil para a Europa ou valorizaria o nosso futebol, dando condições para os grandes jogadores continuarem no país?

WR: Não acredito que o Brasil seja capaz de organizar uma Copa. Não temos estádios decentes, nem hotéis, nem estrutura, e temos graves problemas de segurança. Quem já viu uma Copa do Mundo ao vivo sabe que o Brasil não tem condições para organizar uma competição desse porte. Mesmo assim, eu acho que não mudaria nada mesmo que a Copa fosse aqui.

ME: A atual legislação brasileira está ajudando mais os atletas ou os clubes na hora de uma negociação?

WR: Ajuda mais o atleta. Com um ano de contrato com seu clube, um atleta pode assinar um pré-contrato com qualquer time, o que facilita uma transferência. Além disso, nenhum jogador mais fica no clube, nem com contrato, se ele não quiser. Ele só precisa entrar na Justiça que sempre consegue, por diversas brechas legais. A multa também pode ser contornada. O valor dos direitos federativos é baseado no que o atleta ganha em reais, independentemente da rescisão.

ME: A lei facilita também a saída dos mais jovens?

WR: A lei diz que o jogador pra ir para o exterior precisa ter no mínimo 18 anos. Assim, os clubes fazem contratos quando ele tem 16 anos por 3 anos e, quando ele atinge a maioridade, prorrogam até 21 anos. Um menor, teoricamente, não pode ir para o exterior. Mas existe uma brecha na lei que permite que os jogadores menores saiam do país, como aconteceu no caso do Anderson, do Grêmio [seus pais foram empregados pelo Porto, e o atleta pôde ser inscrito por ter pais “trabalhando” em Portugal].

ME: Por que a maior parte das negociações foi feita no último dia da janela dada pela Fifa? Isso facilita para diminuir ou aumentar o preço de um atleta?

WR: No último dia o valor é sempre menor. Porque durante a temporada de negociação existe muito blefe, muita especulação. No último dia, alguns clubes querem negociar um atleta, para não perdê-lo sem qualquer retorno financeiro, então aceitam quantias menores do que as especuladas durante as negociações.

ME: O que é preciso hoje para um jogador mudar de clube? Um bom empresário é mais eficiente do que um bom desempenho?

WR: Precisa que ele jogue muito bem, tenha condições. Ter um passaporte comunitário ajuda muito. O empresário é apenas um meio.

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