Ainda fora do acordo com Serengeti, presidente do Internacional defende modelo da LFF

João Vítor Xavier entrevistou Alessandro Barcellos no CNN Esportes S/A - Divulgação

Dos clubes que atualmente compõem a Liga Forte Futebol (LFF), o Internacional é o único que ainda não aprovou sua adesão ao acordo de R$ 2,3 bilhões com a brasileira Life Capital Partners e a norte-americana Serengeti Asset Management, para a venda de parte dos direitos de transmissão dos times que integram o grupo.

Em meio a um cenário marcado por reviravoltas, como as defecções de Botafogo, Cruzeiro e Vasco, que deixaram o grupo rival Liga do Futebol Brasileiro (Libra) para negociarem de maneira independente seus direitos de TV, a demora do clube gaúcho em aderir ao acordo (em que será o mais bem remunerado) poderia ser interpretada como um sinal de fragilidade na LFF.

Porém, considerando-se as declarações dadas pelo presidente do Internacional, Alessandro Barcellos, ao CNN Esportes S/A deste domingo (25), a relação do clube com o Forte Futebol segue mais sólida do que nunca.

Durante o programa, o dirigente elogiou o modelo de divisão de receitas proposto pela LFF. O presidente do time gaúcho disse que considera o sistema mais justo “porque ajuda todos os clubes a crescerem e diminui a diferença que é, hoje, muito grande entre os dois maiores clubes e os demais”.

União

Na entrevista, Barcellos defendeu a união dos clubes em torno de uma liga unificada.

“Eu sou entusiasta de uma liga única. Não abro mão disso e tenho defendido isso em todos os lugares porque acredito que esse é o caminho para o futebol brasileiro”, afirmou o dirigente.

Apesar de fazer fortes críticas ao atual modelo de divisão do bolo das verbas de TV, Barcellos disse acreditar que a criação de uma liga unificada deveria preceder os debates sobre a distribuição das receitas. E mesmo sendo entusiasta do modelo proposto pela LFF, o dirigente gaúcho acenou para clubes que são favorecidos pelo sistema atual e que poderiam ser afetados com a adoção de uma divisão mais igualitária.

O ideal, segundo ele, seria “criar algum mecanismo que faça com que Flamengo e Corinthians, que são os clubes de maior torcida, tenham uma diferenciação, mas que isso, dentro da receita do Campeonato Brasileiro, a gente possa produzir um bolo maior e dividir melhor esse bolo”.

Ainda assim, ele fez duras críticas ao modelo atual.

“As divisões de receitas do Campeonato Brasileiro passaram por uma distorção muito grande, frutos de contratos que foram feitos num momento muito diferente do momento atual. Não existia Lei do Mandante, não existia um conjunto de transmissões diferenciadas como o streaming. Isso mudou o mundo das transmissões de futebol e traz uma diferença daquele período para agora que a gente precisa corrigir”, afirmou.

Barcellos também defendeu a flexibilização das posturas dos times que integram os grupos rivais, de modo a favorecer o diálogo para a criação da liga unificada.

“Falta um entendimento dos clubes como um todo, os 40 clubes, de uma forma de divisão desses recursos ao longo dos próximos 50 anos. Hoje, existe uma tese que concentra recurso e outra tese que desconcentra recurso. Isso inviabiliza um acordo. Você tem que ver o que é melhor e o que é pior para o futebol brasileiro em sua maioria. Tem que haver flexibilização de ambos os lados para que a gente consiga chegar num meio-termo. Se a gente enfrentar isso, tenho certeza de que o futebol brasileiro tem grande potencial de ser uma das maiores ligas do mundo”, disse.

Superávit e SAF

Durante a entrevista, Barcellos afirmou que o Internacional alcançou dois superávits consecutivos, nos últimos dois anos, situação que não acontecia nos últimos sete anos.

“Esse é um passo importante. Você demonstrar, não só pro mercado, pros teus credores, pra quem faz o futebol, um modelo diferente, rompendo com uma tradição, infelizmente, de sucessivos déficits. Feito isso, você começa a preparar as condições para que você possa recuperar investimento, para que você possa investir de fato ainda mais naquilo que é a atividade fim”, declarou.

A redução nos gastos, segundo ele, foi decisiva para os bons resultados financeiros do clube.

“Nós tivemos R$ 70 milhões de redução de custos e despesas comparado a 2019. Também tivemos um peso de quase R$ 40 milhões de pagamentos de dívidas anteriores que a gente teve que pagar porque estavam no limite das negociações e algumas de acordo judiciais. Essa reorganização nos permitiu abrir espaço, por exemplo, numa folha de pagamento, na manutenção do elenco, para que a gente pudesse trazer jogadores que fizessem a diferença”, afirmou, em referência à recente contratação do equatoriano Enner Valencia, que foi destaque na última Copa do Mundo.  

Barcellos destacou ainda o incremento em torno de 45% das receitas de marketing e um contrato importante com a EstrelaBet, fundamental para possibilitar a chegada de jogadores dentro de um mecanismo de patrocínio.

“Já num primeiro impacto o anúncio do jogador nos traz sinais importantes em outras frentes. Na venda de materiais esportivos, já temos aumento no quadro social”, destacou.  

Por fim, o presidente admitiu que o Internacional tem estudado novos modelos de gestão, inclusive a possibilidade de se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

“Nós acreditamos que o caminho é primeiro ter uma governança no modelo associativo, fazer com que o Internacional equacione seus problemas financeiros. Isso trará ao Inter uma condição de discussão de um modelo de um financiamento futuro diferente de ele entrar em um modelo agora com um dívida ainda alta, em que a capacidade de redução ainda é com dificuldade”, finalizou.

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