Mudanças de identidade visual costumam ser vistas como evolução e tendem a ser saudadas pelo mercado. Mas nem todas caem no gosto do público-alvo. Que o digam os designers e os gestores de marketing do Cruzeiro, que tiveram a ideia de repaginar por completo o Raposão, mascote do clube mineiro.
Neste sábado (25), após uma onda de críticas nas redes sociais e também protestos no mundo de “carne e osso”, com direito a críticas pesadas ao ex-jogador Ronaldo Fenômeno, principal investidor da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube, o Cruzeiro divulgou uma nota comunicando a suspensão da mudança na mascote.
O texto afirma que a paralisação da mudança é temporária e ocorre por conta da insatisfação do torcedores. Mais adiante, o clube informa que considera a reestilização necessária, mas que a torcida não se sentiu representada pela proposta apresentada na última quinta-feira (23).
Na nota, o Cruzeiro reconhece que a avalanche de protestos e críticas ao novo Raposão “não se trata de uma reação desproporcional a uma simples renovação de estilo, mas reflete, sobretudo, uma sensação de não pertencimento generalizada”.
Luz amarela
Desde o anúncio da criação da SAF e a entrada de Ronaldo como investidor principal, em dezembro de 2021, a torcida do Cruzeiro experimentou uma verdadeira “lua de mel” com o ídolo dos gramados. À época, o clube vinha de uma péssima campanha na Série B do Campeonato Brasileiro. Além de não conseguir o acesso, por pouco não caiu para a terceira divisão.
No ano seguinte, porém, com os investimentos trazidos pela nova gestão, o Cruzeiro deslanchou e realizou uma campanha quase perfeita na Série B, carimbando a vaga na elite do Brasileirão, ficando com a taça e marcando 13 pontos a mais que o vice-campeão Grêmio.
De volta ao pelotão principal do futebol do país, porém, a torcida começou a perceber que talvez nem tudo será tão “lindo e maravilhoso” nessa trajetória. Entre os times que se classificaram para as semifinais do Campeonato Mineiro deste ano, o Cruzeiro foi o que obteve a pior pontuação, ainda que tenha sido líder em seu grupo.
A Raposa marcou 12 pontos, três a menos que o Athletic, segundo colocado no Grupo A, cujo líder foi o Atlético-MG, com 20. O Cruzeiro também não conseguiu vencer nenhum clássico estadual neste ano.
O time celeste empatou em 1 a 1 com o Atlético-MG e sofreu três derrotas diante do América-MG, seu algoz na semifinal. Vale lembrar que esses clubes serão seus adversários na Série A em 2023.
O fraco desempenho em uma competição em que sempre foi considerado um dos francos favoritos fez com que a luz amarela fosse acesa no Cruzeiro.
Comitê de torcedores
A polêmica envolvendo o Raposão está muito longe de ser o caso de torcedores insatisfeitos com o visual de uma mascote. Na nota oficial do Cruzeiro, fica evidente que os gestores do clube já identificaram que “a sensação generalizada de não pertencimento” é um problema que não se restringe à fantasia usada por uma pessoa que fica à beira do gramado, animando as arquibancadas.
O clube anunciou a criação de um comitê que funcionará como um “fórum de discussão entre a direção e diferentes coletivos da torcida do Cruzeiro sobre temas do extracampo que envolvem, principalmente, a experiência do torcedor”. A ideia, portanto, é dialogar com a massa celeste. Ou, ao menos, passar ao público a ideia de que a gestão do clube está disposta a fazê-lo.
Segundo o comunicado oficial, as regras para seleção dos integrantes e de funcionamento do comitê de torcedores serão divulgadas nas próximas semanas. O texto também afirma que a questão do Raposão estará em pauta na primeira reunião a ser realizada.
Por outro lado, a nota ainda informa que o Cruzeiro denunciou à polícia situações como comentários de ódio, incitação à violência nas redes e o vazamento de telefones de funcionários do clube (que teriam sofrido ameaças).
“Não há qualquer tolerância para isso”, enfatiza o comunicado.