A união dos clubes é essencial para a montagem da liga brasileira e sua comercialização, seja de patrocínios, seja de direitos de mídia. Esse é o conselho que dá Luigi De Siervo, CEO da Serie A, da Itália, uma das principais ligas nacionais da Europa. Para o executivo, sem a venda de direitos comerciais em bloco, o produto perde muito em arrecadação.
“A assembleia dos clubes é sempre complicada, mas a centralização da venda dos direitos é essencial para construir uma liga forte”, ensinou o executivo, que está em São Paulo, onde foi um dos palestrantes do Sports Summit, considerado um dos principais eventos da indústria esportiva da América Latina.
De Siervo lembrou que, na Itália, foi necessária uma intervenção do Estado, por meio da Lei Melandri-Gentiloni, de 2006.
“A partir desse momento, os direitos foram controlados de maneira centralizada pela liga, com um sistema de regras muito bem definido”, disse o italiano, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Portanto, a sugestão para quem já viveu essa fase é que a liga brasileira possa realmente formar uma liga forte, com governança clara e que trabalhe pela centralização dos direitos. Os valores sobem muito”, complementou o dirigente.
Libra e LFF
Ciente dos problemas de se fazer a união dos clubes do Brasil, hoje divididos entre 18 times na Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e 26 equipes na Liga Forte Futebol (LFF), o executivo prega o entendimento pelo bem comum.
“O sistema não é complicado. Claro que os presidentes dos clubes têm ideias diferentes. Mas o único jeito é que as discussões sejam sempre bem-vindas, mas que haja o entendimento”, afirmou.
Investidor
Assim como no Brasil, a liga italiana recentemente recebeu proposta de uma investidora estrangeira. O fundo Oaktree Capital Management, que administra US$ 164 bilhões em ativos globais, fez uma proposta de € 1,75 bilhão (R$ 9,63 bilhões, na cotação atual) por 5% dos direitos comerciais da Serie A.
A ideia é que € 1 bilhão sejam utilizados para pagamento de dívidas e € 750 milhões para investimentos dos clubes. A proposta ainda está sendo estudada pelas equipes da Serie A, mas é bem superior, por uma parcela menor, se comparada com os investimentos prometidos por fundos que querem comprar parte dos direitos comerciais da futura liga brasileira.
A LFF tem um acordo com a gestora brasileira Life Capital Partners e a norte-americana Serengeti Asset Management que pode chegar a US$ 950 milhões (R$ 4,8 bilhões) por 20% dos direitos comerciais da liga brasileira por 50 anos, caso haja a adesão dos 40 clubes das Séries A e B.
Já a Libra tem proposta da Mubadala Capital, que ofereceu US$ 900 milhões (R$ 4,56 bilhões) para adquirir 20% dos direitos comerciais por um período de 50 anos. Para isso, porém, quer a participação dos 40 times da primeira e segunda divisões no acordo.
De Siervo avalia que foi um erro do passado ter rejeitado a proposta do fundo de investimentos CVC Capital Partners. Em 2020, a empresa de private equity ofereceu € 1,7 bilhão por uma participação na liga italiana.
“Trabalhamos por nove meses todos os dias em um acordo que fosse interessante para os clubes, que no final decidiram não assinar. Isso não me fez mudar de ideia. Acredito que a chegada dos fundos ajudará na profissionalização e será um ponto-chave para o sucesso das grandes ligas”, analisou o executivo.
“Para grandes países como o Brasil, minha principal dica é que essa decisão [de aderir a um fundo de investimentos] possa ser tomada rapidamente. Todos nós gostaríamos de ver mais do futebol brasileiro na Europa”, finalizou.