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CEO do Bayer Leverkusen exalta distribuição de receitas da Bundesliga, tema polêmico para liga no Brasil

Para o executivo, a união dos clubes é um marco para a criação de uma liga independente, algo que o futebol brasileiro ainda não conseguiu atingir

Jogadores do Bayer Leverkusen comemoram título da Bundesliga 2023/2024 - Divulgação

Jogadores do Bayer Leverkusen comemoram título da Bundesliga 2023/2024 - Divulgação

A conquista do Bayer Leverkusen na temporada 2023/2024 da Bundesliga, encerrando uma longa sequência de 11 títulos consecutivos do Bayern de Munique, reacendeu o debate sobre a capacidade de a Bundesliga ser atraente diante de uma longa hegemonia bávara, já retomada na última temporada.

Para o catalão Fernando Carro, CEO do Bayer Leverkusen, o modelo igualitário de distribuição de receitas da liga alemã faz com que haja, sim, competitividade na competição, bastando que os concorrentes mostrem competência na gestão e capacidade de montagem de bons elencos, como fez recentemente sua equipe sob o comando de Xabi Alonso, hoje no Real Madrid.

“O Bayern de Munique tem sido a parte dominante e crucial desta liga, basicamente até hoje, não nos esqueçamos. No entanto, todos estamos cientes da importância de uma competição saudável”, ponderou Carro, em entrevista à Máquina do Esporte.

“O título do Bayer Leverkusen em 2024 foi muito valioso nesse sentido, quebrando uma sequência de 11 anos do Bayern de Munique”, acrescentou o executivo, cuja equipe manteve a competitividade em 2024/2025, quando terminou como vice-campeã, atrás justamente do Bayern.

Para ele, a preponderância do Bayern de Munique no futebol alemão se deve mais à capacidade de gestão do rival do que propriamente a um modelo desequilibrado de partilha de recursos, como ocorre atualmente no Campeonato Brasileiro.

“Meu ponto de vista é: temos uma distribuição bastante justa das receitas dentro da liga. Não vejo o sucesso sendo punido. Sim, isso torna mais difícil para todos os concorrentes alcançarem, mas provamos que é possível”, afirmou o executivo.

Distribuição de receitas

A distribuição de receitas da Bundesliga é um pouco diferenciada em relação às outras grandes ligas europeias, como Premier League e LaLiga, por ter sido implantado no futebol alemão um incentivo ao uso de jovens talentos.

Em 2024/2025, as maiores fatias são 50% dividido de maneira igualitária e 43% de acordo com o desempenho (em que são avaliadas as últimas quatro temporadas, com peso maior para as edições mais recentes).

Há ainda uma porção de 4% pelo uso de jogadores Sub-23 nas partidas, como forma de dar chance de descobrir novos atletas. Apenas 3% são pagos de acordo com o interesse despertado nos torcedores em relação a cada time. Esse último item seria o equivalente à audiência em outras ligas nacionais.

Para Carro, esse tipo de divisão incentiva a meritocracia entre os clubes e dá a possibilidade, a quem for mais competente, de atingir metas mais altas.

“Esforce-se, seja inteligente e criativo, seja rápido, seja resiliente, aproveite todas as oportunidades que lhe forem dadas. Com esses atributos, há uma chance para nós e outros desafiarmos seriamente o Bayern”, ensinou.

A Liga Alemã (DFL) não publica uma tabela com os valores exatos que cada equipe ganhou. No entanto, em 2023/2024, na última temporada em que houve uma estimativa, o Bayern havia sido o mais bem remunerado (apesar do título do Bayer Leverkusen), com valores estimados entre € 80 milhões e € 83 milhões.

Por outro lado, o Darmstadt, último colocado, recebeu entre € 30 milhões e € 33 milhões. Isso dá uma diferença entre 2,76 a 2,42 vezes entre o clube mais bem remunerado e o que recebeu menos. No Campeonato Brasileiro, estima-se que essa desigualdade supere 10 vezes.

Fernando Carro, CEO do Bayer Leverkusen, cumprimenta torcedores - Divulgação
Fernando Carro, CEO do Bayer Leverkusen, cumprimenta torcedores – Divulgação

Bundesliga

Questionado sobre que recomendações daria ao futebol brasileiro, que ainda patina na constituição de uma liga nacional de clubes, Carro preferiu ficar em cima do muro. Atualmente, os times brasileiros estão divididos em dois grandes blocos, Liga Forte União (LFU) e Liga do Futebol Brasileiro (Libra), que realizam negociações de patrocínio e venda de direitos comerciais e de mídia de maneira separada, desvalorizando o produto.

“Não estou em posição de dar conselhos ao futebol brasileiro. Posso apenas falar sobre minha experiência na Alemanha e na Europa”, esquivou-se, para logo a seguir comentar o porquê de o modelo alemão funcionar.

“Quanto à Alemanha, posso dizer que tem sido bom ter uma liga organizada independentemente da federação. Isso permite decisões mais rápidas, mais eficiência, e os tópicos são discutidos apenas em um círculo de organizações diretamente afetadas”, apontou.

“Em geral, acredito que é importante que os clubes trabalhem em conjunto e garantam seus interesses”

Fernando Carro, CEO do Bayer Leverkusen

Protagonismo

O executivo também destacou o papel da Associação Europeia de Clubes (ECA) como entidade representativa dos times do Velho Continente diante de órgãos como Uefa e Fifa.

“Acredito que os clubes são os que investem e os que assumem os riscos financeiros. Portanto, sem dúvida, eles devem ter uma voz forte nas decisões estratégicas do futebol”, defendeu.

No Brasil, a situação é diversa. As equipes discutem há anos a criação de uma liga nacional, capaz de organizar o Brasileirão de maneira independente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). No entanto, enfrentam entraves políticos, divergências comerciais e falta de consenso entre os dirigentes.

A experiência alemã, segundo Carro, mostra que a união entre os clubes e a autonomia organizacional são elementos-chave para o fortalecimento do futebol nacional.

“Acho que, na Alemanha e na Europa, ligas independentes funcionam bem. Mas, novamente, não sou eu quem deve opinar sobre o futebol brasileiro”, reafirmou o CEO do Bayer Leverkusen, novamente sem querer palpitar sobre a realidade brasileira.

Bayer Leverkusen realizou pré-temporada no Brasil em 2025 - Reprodução / Instagram @bayer04fussball
Bayer Leverkusen realizou pré-temporada no Brasil em 2025 – Reprodução / Instagram (@bayer04fussball)

Desafios

Apesar de jogar em uma liga consolidada desde os anos 1960 e com estádios lotados todas as semanas, Carro acredita que há ainda muitos desafios a serem enfrentados pela Bundesliga em um futuro próximo, como desenvolver novas formas de geração de receitas e ampliar a presença internacional do campeonato, algo em que a Alemanha está atrás de concorrentes como Premier League e LaLiga.

“Precisaremos de recursos [dinheiro] significativamente maiores para investir no nosso produto, para crescer e consolidar ainda mais o futebol alemão de clubes em escala global. Depois de não termos conseguido atrair um investidor para a liga recentemente, agora precisamos encontrar soluções criativas para seguir em frente”, comentou.

Uma das iniciativas realizadas de olho na internacionalização da marca foi a recente excursão do Bayer Leverkusen ao Brasil, onde o time fez parte de sua pré-temporada, colocou em prática ações de marketing e inaugurou uma academia de futebol, com a metodologia do clube alemão, em São Paulo (SP).

“Estamos fazendo exatamente isso: consolidando o Bayer 04 [nome oficial do clube] e a Bundesliga no Brasil e na América Latina mais do que nunca. É apenas uma pequena parte do quebra-cabeça, mas estou convencido de que valerá a pena”, concluiu.