Com discurso empoderado, Fatal Model domina Série B e sonha com elite do Brasileirão

Nina Sag fatal Model

Nina Sag, acompanhante e diretora de comunicação do Fatal Model, anuncia patrocínio ao CRB - Divulgação

Houve um tempo em que, ao analisar as marcas presentes nas camisas dos clubes da Série B do Brasileirão, fatalmente encontraríamos a cooperativa de saúde Unimed ou empresas de apostas dominando o universo de patrocínios. Hoje, porém, uma nova força emergiu no mercado.

O site de acompanhantes Fatal Model é quem encabeça, sozinho, a lista dos maiores patrocinadores da Série B, estando presente em um total de sete clubes: ABC, Brusque, CRB, Ponte Preta, Sampaio Corrêa, Tombense e Vitória. Isso sem contar o Paysandu, que acaba de ser promovido da Série C e jogará a segunda divisão em 2024.

Dos atuais patrocinados da empresa, o Vitória é o que tem maiores chances de chegar à Série A. No clube baiano, o Fatal Model acompanha empresas do agronegócio, como Uniagro e Biolchim, e da área da saúde, como o Hospital da Criança Martagão Gesteira.

O atual líder da Série B é um dos clubes em que o Fatal Model mais tem divulgado ativações. No mês passado, a empresa anunciou um desconto de 90% em serviços no site para sócios-torcedores. A pechincha, no caso, não abrangeu os serviços propriamente ditos oferecidos pelas pessoas que anunciam na plataforma, mas sim funcionalidades como acesso a conteúdos em foto, vídeo e avaliações de usuários. Essa ação contou com a participação da escritora Raquel Pacheco, mais conhecida como Bruna Surfistinha, que se tornou famosa no Brasil ao relatar em um livro (que inspiraria um filme) suas experiências como acompanhante.

Também em setembro, em uma outra ativação denominada “Caçada Fatal”, o Fatal Model e o Vitória distribuíram 100 camisas do clube em pontos considerados estratégicos na cidade de Salvador (BA).

Hoje, o Vitória é a chance real que o Fatal Model tem de chegar à Série A. Mas não a única. A empresa revelou que já tentou patrocinar clubes que figuram entre os maiores do Brasil.

“Já fizemos propostas para alguns times da Série A e entre as maiores torcidas. Porém, ainda há preconceito, e as negociações não avançaram por restrições de alguns dirigentes ou conselheiros”, afirmou Nina Sag, acompanhante (informação que ela faz questão de frisar) e diretora de comunicação da plataforma.

Discurso empoderado

O ramo de atividade do Fatal Model costuma levantar muita discussão. Embora o serviço de acompanhantes seja reconhecido como uma profissão pelo Ministério do Trabalho desde 2002, lucrar com uma plataforma onde pessoas (a maioria delas mulheres) anunciam seus corpos como objetos à venda não deixa de ser algo polêmico.

“O trabalho de acompanhante no Brasil é legalizado, desde que realizado de forma autônoma. O Fatal Model defende que cada pessoa tenha liberdade de escolher sua profissão e ser respeitada por ela. Além de atuar em conformidade com a legislação brasileira, ao promover a digitalização dos profissionais da área, o Fatal Model se mostra, na verdade, uma importante ferramenta no combate ao agenciamento e à exploração sexual nas ruas e em outros locais”, argumentou Sag.  

Hoje, nas equipes em que está presente, o Fatal Model divide espaço, na maioria dos casos, com marcas de expressão regional ou local, que não estão sujeitas a pressões que possivelmente recairiam sobre grandes empresas nacionais ou internacionais. Mas há alguns casos mais complexos. No CRB, por exemplo, a logotipo da página de acompanhantes vem logo abaixo da marca oficial do governo de Alagoas. Já no Paysandu, o patrocínio fica próximo ao do banco público Banpará.

De um modo geral, quando questionado em relação ao lado polêmico de sua atividade, o Fatal Model adota um discurso empoderado a favor das acompanhantes.

“O Fatal Model entende que há um grande público que precisa ser educado sobre respeito aos profissionais do sexo, por isso é lá que o Fatal Model decidiu propagar seus valores. Além disso, com as portas abertas para estar na rede de televisão aberta, mais pessoas podem conhecer sobre a marca e seus valores, dando visibilidade para os profissionais anunciantes e também captando contratantes mais alinhados ao propósito de respeito da plataforma. No futebol, temos a oportunidade de ‘conversar’ com este grande público e educá-los sobre respeito, segurança e dignidade”

Nina Sag, acompanhante e diretora de comunicação do Fatal Model

História

Lançado em 2016, o Fatal Model conta atualmente com mais de 25 mil anúncios ativos de acompanhantes, divididos nas categorias “mulheres, homens e transex”. Com sede na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), a empresa está registrada como provedora de conteúdo na internet. O faturamento vem dos planos pagos, que permitem aos anunciantes alcançarem maior visibilidade na plataforma, assim como aos usuários obterem acesso a uma maior gama de serviços no site. Embora utilize uma acompanhante mulher como porta-voz, o proprietário da empresa é um homem.

“Como plataforma de marketing para acompanhantes, o Fatal Model busca dar visibilidade, sem participar ou lucrar com a prestação do serviço em si”, destacou Sag.

Atualmente, o site costuma receber, em média, 26 milhões de usuários por mês. Segundo a diretora, os investimentos em futebol não teriam razões propriamente monetárias (mesmo com o universo desse esporte sendo majoritariamente masculino e representando o público-alvo do site), mas sim institucionais e até sociais.

“O Fatal Model tem o posicionamento de trazer empoderamento e dignidade para os profissionais do sexo, que são reconhecidos pelo Ministério do Trabalho. Independentemente de gênero, é uma questão de combater o preconceito e a resistência em relação ao mercado de acompanhantes”, enfatizou.

As investidas mais agressivas do Fatal Model sobre o futebol tiveram início no ano passado, com anúncios feitos em placas de publicidade em jogos da Série A do Brasileirão, transmitidos pela Rede Globo na TV aberta.

Sobre o fato de tais conteúdos serem expostos inclusive a crianças que porventura assistem às partidas nas tardes de domingo, a plataforma alega que “se comunica, em absolutamente todos os materiais de divulgação, de maneira respeitosa”.

Desde as primeiras incursões nas placas publicitárias, a presença da marca nos estádios vem crescendo cada vez mais.

“O Fatal Model já realizou e realiza publicidade em jogos do Corinthians, por meio de leds, já patrocinou equipes como Globo-RN, Altos-PI e Portuguesa-RJ na Copa do Brasil de 2022, patrocinou sete campeonatos estaduais em 2023 e também patrocinou o BR Futsal Tour, em jogos das seleções brasileiras masculina e feminina, sendo esta transmitida pelo Esporte Espetacular, da Rede Globo”, lembrou Sag. 

Segundo ela, além dessa experiência no BR Futsal Tour, a empresa teria interesse em patrocinar o futebol feminino. A diretora de comunicação, no entanto, não detalhou se existe alguma negociação em andamento. Por outro lado, citou iniciativas desenvolvidas pela empresa em prol das causas femininas.

“Em duas oportunidades o Fatal Model cedeu seu espaço na camisa para divulgar ações relacionadas às mulheres. Em março, junto ao Vitória, em razão do Dia Internacional da Mulher. Recentemente, junto à Ponte Preta, em referência ao Outubro Rosa”, concluiu Nina Sag.   

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