Apesar de Flamengo e Fluminense integrarem grupos diferentes e terem assinado acordo de venda de parte de seus direitos comerciais e de mídia do Brasileirão com investidoras diferentes a partir de 2025, os dirigentes de ambos os clubes ainda acreditam que isso não será um fator impeditivo para a formação de uma liga unificada.
Rodrigo Dunshee de Abranches, vice-presidente geral do Flamengo, e Matheus Montenegro, vice-presidente geral do Fluminense, afirmam que ainda é possível uma composição para a formação de uma liga unificada daqui dois anos, quando será encerrado o atual contrato de TV.
Os dirigentes discutiram os impasses atuais a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e Liga Forte Futebol (LFF) e as perspectivas de que haja união entre os clubes durante debate na Confut Sudamericana, realizado nesta quinta-feira (13), no Hilton Barra, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio de Janeiro).
“A partir da união dos clubes, não vejo os investidores brigando entre eles. Não tem nenhum sentido. Todo mundo quer gerar o maior valor para a competição e isso só vai ser possível com todo mundo junto”, analisa Montenegro.
“O investidor poderá comprar a parte do outro investidor ou se juntar e definir regras em conjunto com um bolo muito maior”, acrescenta o dirigente.
O Fluminense, que integra a LFF, foi um dos signatários do acordo com a Serengeti Asset Management e Life Capital Partners (LCP), no qual vendeu 20% de seus direitos comerciais e de transmissão do Brasileirão pelos próximos 50 anos. Esse acordo conta com a participação de 25 clubes, sendo dez da Série A, 11 da Série B e 4 da Série C.
Já o Flamengo negociou junto com o bloco de times que formam a Libra 12,5% desses direitos com a Mubadala Capital. Esse acordo conta com a participação de 8 times da Série A e 7 equipes da Série B.
“Logicamente, se o investidor vai ser detentor desses direitos comerciais e de transmissão, vai negociar com a outra, seja com a Serengeti ou com a Mubadala”, afirma Dunshee.
“Se isso avançar, facilita porque tira um pouco do conflito [entre os clubes] e bota a questão de uma forma mais econômico-financeira. Acho que em vez de atrapalhar, ajuda”
Rodrigo Dunshee de Abranches, vice-presidente geral do Flamengo
Desnível financeiro
Para Montenegro, o distanciamento entre LFF e Libra ainda está pautado pelo desnível financeiro que Flamengo e Corinthians conquistaram em relação aos demais clube no atual contrato de direitos de transmissão com o Grupo Globo.
“Não vejo nenhum sentido de a gente pegar um modelo com base num contrato que se encerra em 2024 e ele ser a base de 2025”, aponta o vice-presidente do Fluminense.
O dirigente lembra os ganhos de Flamengo e Corinthians com pay-per-view no Brasileirão de 2022 em relação aos demais clubes. O Rubro-Negro recebeu da Globo R$ 160 milhões, enquanto o Corinthians foi remunerado com R$ 110 milhões.
“Tudo por conta de uma cláusula de garantia mínima feita de forma individual no contrato entre a Globo e esses clubes. Se não houvesse esta cláusula específica no contrato, quanto o Flamengo receberia? Por volta de R$ 76 milhões ou R$ 78 milhões, por ter em torno de 20% de audiência. Já o Corinthians recebia R$ 48 milhões”, afirma Montenegro.
“Então, o que a gente está dizendo é que, por conta de uma cláusula que foi feita no contrato com a Globo, o Flamengo, que receberia R$ 78 milhões, recebe R$ 160 milhões, e o Corinthians deixa de receber R$ 48 milhões para receber R$ 110 milhões. Aí eu pergunto: Com base em que? É isso que a gente tem que discutir”, completa ele.
Para ele, essa cláusula foi resultado de uma negociação bem-feita no passado pelas diretorias das duas maiores torcidas do Brasil. Mas esses valores não deveriam ser considerados para uma futura divisão de receitas.
“Quando você vai definir critério de transição [para a liga], ainda que se aceite que haja um privilégio a Flamengo e Corinthians, isso não pode levar em consideração o valor que não tem base em nenhum critério razoável”
Matheus Montenegro, vice-presidente geral do Fluminense
Redução de receita
Dunshee afirma que o Flamengo já vem cedendo há alguns anos. O dirigente lembra que, com a lei do mandante, o Rubro-Negro doou os direitos de transmissão de um de seus jogos para todos os demais clubes do Campeonato Brasileiro. Mas, no caso da formação da liga, não é possível que haja uma mudança abrupta de receita.
“Você não vai apresentar para o seu Conselho [Deliberativo] uma proposta para ganhar muito menos. A gente tem que encarar a realidade, e encontrar um modelo que seja justo e progressivo e que, aos poucos, essa repartição de receitas, seja um pouco mais equilibrada. Isso o Flamengo é favorável”, argumenta o vice-presidente do clube.
“Agora, o Flamengo não é favorável a ter uma redução de receita violenta. Estamos mais próximos de encontrar uma solução nacional. Mas acho que precisa ter um pouco de bom senso de todo mundo para saber que nenhum presidente de tudo que ela é uma proposta de X, vai entrar numa liga para ganhar meio X. Não vai acontecer isso”, completa Dunshee.