Com modelo minoritário, Fortaleza pode liderar 3ª geração das SAFs no Brasil

Geraldo Luciano, vice-presidente do Fortaleza, estuda um modelo de SAF para o clube - Divulgação

O Fortaleza nomeou uma comissão e estuda se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O projeto deve ficar pronto em até três meses para passar por aprovação no Conselho Deliberativo e na Assembleia de Sócios. No entanto, o time cearense pensa em um modelo diferente dos que já foram implantados no futebol brasileiro.

“Não vemos nenhuma probabilidade a curto e médio prazo de uma venda de controle do Fortaleza. Temos uma estratégia e sabemos onde queremos chegar, mas o que precisamos é um reforço financeiro que não é nada muito expressivo”, contou Geraldo Luciano, vice-presidente do Fortaleza, em entrevista à Máquina do Esporte.

Modelos de SAF

Desde a lei 14.193/2021, parte dos clubes mais tradicionais do Brasil fizeram alterações em seus estatutos para se tornarem SAFs. Uma primeira leva contou com clubes extremamente endividados, que buscaram o modelo como forma de pagamento de débitos de curto prazo e também para voltarem a ter algum nível competitivo.

Nesse grupo, estiveram Botafogo, Cruzeiro e Vasco, que frequentaram a Série B em anos recentes. É algo que também busca no momento o Coritiba, que aprovou um plano de recuperação judicial no ano passado e no momento negocia a venda de 90% da SAF para a Treecorp Investimentos.

Uma segunda leva de clubes, sem grandes dívidas, conseguiu investimentos maiores e condições melhores para negociação das SAFs. O principal representante desse grupo é o Bahia, que finalizou a venda de 90% de sua SAF para o City Football Group (CFG) com uma obrigação de investimentos de R$ 1 bilhão. Esse aporte implica no pagamento integral das dívidas do clube, avaliadas em cerca de R$ 200 milhões.

Já o Fortaleza, que não tem grandes débitos, pretende vender entre 10% e 15% da SAF do clube como forma de se capitalizar para melhorar seu nível competitivo. O time não cogita, ao menos no momento, a necessidade de negociar uma participação majoritária para algum investidor. Segundo o vice-presidente, as dívidas do campeão cearense são de cerca de R$ 30 milhões, um montante baixo no comparativo com outras equipes da Série A do Brasileirão.

“É verdade que não é fácil vender no mercado [uma participação minoritária]. Mas temos tido algumas sinalizações positivas”

Geraldo Luciano, vice-presidente do Fortaleza

“Quem estiver investindo no clube terá regras para deixar todas as partes confortáveis. Agora, no curto prazo, não existe a possibilidade de fazermos uma venda de controle do clube. Isso não passa pela nossa cabeça”, acrescentou.

Valorização

A ideia da venda de uma participação minoritária na SAF é que o Fortaleza possa se capitalizar para realizar investimentos em infraestrutura em seus dois centros de treinamento (profissional e categorias de base), no departamento de futebol e nos processos de governança.

“Acreditamos que entre R$ 40 milhões e R$ 60 milhões [de investimento] seria suficiente. É um valor pequeno. Acreditamos que esse clube vai valorizar muito. O clube hoje está valendo x e daqui três anos estará valendo 3x. É claro que a bola tem que entrar”, analisou o dirigente.

O vice-presidente se refere a uma premissa fundamental para a diretoria: o Fortaleza tem que se manter na primeira divisão neste período. É o grande objetivo do clube, mais do que sonhar com uma conquista em nível nacional ou internacional. Um rebaixamento à Série B seria um pesadelo para o projeto, já que na segunda divisão as possibilidades de faturamento de qualquer clube caem bastante.

Perspectivas

Para Geraldo Luciano, há perspectivas de melhorias financeiras a curto prazo, com a formação da liga brasileira de clubes (o Fortaleza é um dos líderes da Liga Forte Futebol (LFF)) e o novo contrato de TV, quando os times têm expectativa de conseguir uma grande valorização do torneio. Outro aporte financeiro virá com a negociação de 20% dos direitos comerciais da liga brasileira por 50 anos com o fundo norte-americano de investimentos Serengeti.

Dirigentes da LFF e da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), porém, concordam que será necessária a unificação dos dois grupos para a construção de uma liga de 40 times (contando Séries A e B), o que valorizaria os ativos a serem vendidos ao mercado. Para o Fortaleza, se isso acontecer, a expectativa financeira é das melhores para o time e para um eventual investidor.

“Acreditamos que podemos triplicar o valor desse clube em dois anos. Ou seja, é uma bela oportunidade para quem entrar. Queremos que as pessoas entrem [como investidoras do Fortaleza] para ganhar dinheiro. Porque, se eles ganharem, é porque o clube está se valorizando. É isso que a gente quer”, finalizou Geraldo Luciano.

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