O Vasco voltou a realizar ações impactantes relacionadas ao mês do Orgulho GLBTQIAP+. Na última sexta-feira (24), o clube divulgou o Manifesto das Torcidas do Vasco da Gama para o fim da homofobia e da transfobia nos estádios.
“Contribuir para uma sociedade melhor está no DNA do Vasco. Tratamos juntos um manifesto em que a torcida se declarava participante do processo e protagonista da mudança. A torcida comprou a ideia”, contou Vitor Roma, vice-presidente de marketing e novos negócios do Vasco, em entrevista à Máquina do Esporte.
Horas depois, durante o jogo contra o Operário-PR, pela Série B do Campeonato Brasileiro, as arquibancadas foram tomadas por faixas alusivas ao tema. Na entrada do time em campo, houve a queima de fogos nas cores do arco-íris para lembrar a importância da causa.
“Contribuir para uma sociedade melhor está no DNA do Vasco. Tratamos juntos um manifesto em que a torcida se declarava participante do processo e protagonista da mudança. A torcida comprou a ideia”
Vitor Roma, vice-presidente de marketing do Vasco
“Você não vai acordar um dia e todo mundo vai ter parado de fazer piadas homofóbicas. Tudo isso é um processo de transformação até chegar um dia em que não será mais assunto. Por que o título da matéria sobre o Richarlyson nesta semana é dizer que ele é bissexual? O que isso é importante? Por que é importante saber a orientação sexual? Isso ainda é relevante. Um dia, a gente vai chegar ao momento em que isso será irrelevante”, afirmou o executivo.
O próprio vice de marketing do Vasco contou que já esteve na arquibancada e cantou, com o filho, à época com 10 anos, cânticos homofóbicos contra a torcida do Fluminense.
“Já fiz e tenho noção de que não cabe mais. Tanto ele como eu, dez anos depois, estamos aqui lutando contra isso”, disse Roma.
Camisa icônica
No ano passado, o Vasco foi o primeiro clube brasileiro a colorir sua camisa com o arco-íris. A tradicional faixa da camisa do time foi pintada nas cores do símbolo do movimento LGBTQIAP+, fazendo o uniforme virar um ícone da causa.
“Os outros [clubes] têm vergonha, nós temos orgulho”, afirmou Roma, referindo-se às ações tímidas dos demais clubes em relação ao tema.
Para este ano, a referência ao Orgulho LGBTQIAP+ na camisa do Vasco foi mais sutil. A Kappa, fornecedora de material esportivo, pintou seu logotipo com as cores do símbolo do movimento LGBTQIAP+. Nas mangas, também houve menção à diversidade de orientação sexual, com os Ominis misturados: homem e mulher, mulher e mulher, homem e homem. Na gola, foi colocada a mensagem “Love is Love”.
“Os outros [clubes] têm vergonha, nós temos orgulho”
Vitor Roma, vice-presidente de marketing do Vasco
“No ano passado, foi uma ação impactante. Não adiantaria lançar uma nova camisa porque seria muito igual. Essa camisa vende até hoje. Então, surgiu a ideia: não vamos vestir o time, vamos vestir o estádio. Manda uma mensagem muito mais importante”, destacou o dirigente.
O problema para Roma, a partir desta segunda-feira (27), será em como bolar novas ações que causem impacto semelhante em 2023. “Ano que vem, vamos ter que ir mais além”, revelou.
As ações foram acompanhadas por uma boa vitória por 3 a 0 sobre o time de Ponta Grossa. Com o triunfo, o Vasco se manteve na vice-liderança da Série B com 30 pontos, um a menos que o Cruzeiro, que jogará nesta terça-feira (28), pela 14ª rodada, no Mineirão, contra o Sport.
Resposta histórica
A série de ações durante o mês do Orgulho LGBTQIAP+ conectam o Vasco a lutas históricas do clube. Em 1923, o time havia conquistado o título do Campeonato Carioca contando com jogadores negros e operários no elenco.
No ano seguinte, porém, a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (Amea), entidade que geria o torneio na época, condicionou a inscrição do campeão estadual no Cariocão ao desligamento de 12 jogadores do elenco, de “profissão duvidosa”. Por coincidência, todos esses atletas eram negros ou operários.
Como consequência, o Vasco se recusou a jogar o Carioca, enviando à entidade a “Resposta histórica”, documento pioneiro no futebol brasileiro na luta contra o racismo, que já foi lembrado na camisa do clube. Para Roma, há conexão direta do passado antirracista do clube com a presente luta contra o preconceito, a homofobia e a transfobia, bandeiras recentemente abraçadas pelo time de São Januário.
“O Vasco tem duas missões: uma esportiva, que é vencer, e outra social, que é alterar a sociedade. O Vasco vai liderar, dentro do esporte brasileiro, qualquer mudança por uma sociedade melhor. Nós fizemos parte de uma mudança importante na sociedade brasileira na época [da Resposta histórica]. Temos muito orgulho disso. Nosso maior título foi fora de campo”, finalizou o responsável pelo marketing vascaíno.