A UEFA divulgou seu relatório anual de atividades com críticas contundentes à tentativa dos principais clubes europeus de montarem uma Superliga e à iniciativa da FIFA, que tentou emplacar a Copa do Mundo bienal. Ambas as tentativas fracassaram.
A Superliga foi anunciada em abril do ano passado e teria a participação de Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United, Manchester City, Tottenham, Milan, Juventus e Internazionale. A ideia era que os grandes clubes, abalados financeiramente pela pandemia, poderiam arrecadar mais com uma competição com a participação apenas da elite financeira do futebol europeu.
A iniciativa foi repelida pela UEFA, que perderia poder e prestígio ao não organizar mais as competições europeias. Mas as próprias torcidas rejeitaram a iniciativa por garantir vaga no torneio independentemente da performance nas ligas nacionais. O projeto naufragou após os clubes, um a um, desistirem da ideia.
“Moralidade e obrigações”
Em entrevista no material informativo da UEFA, o presidente da entidade, Aleksander Ceferin, citou o argelino Albert Camus para criticar a iniciativa dos clubes. Ex-goleiro, o escritor tem uma frase famosa que diz que “depois de muitos anos em que o mundo me proporcionou muitas experiências, o que sei mais certamente a longo prazo sobre moralidade e obrigações do homem devo ao futebol”.
Com suas ideias egoístas, os dirigentes [dos clubes da Superliga] foram preparados para arruinar o jogo.
“Fico muito triste pelas pessoas que trabalharam no futebol por toda a vida, e deveriam entender mais sobre esporte e negócios do que ninguém, não conseguirem se lembrar da lição de Camus”, alfinetou Ceferin.
“Com suas ideias egoístas, eles foram preparados para arruinar o jogo. Defensores de uma ‘Superliga‘ desafiam a credibilidade. Os três clubes que persistem na tentativa de ressuscitar este projeto fracassado foram os primeiros a se inscrever para a temporada 2021/2022 da Champions League”, ironizou o dirigente.
Ceferin lembrou que a ideia original foi lançada no meio da pandemia, quando a crise econômica havia atingido todos os clubes, não só os grandes. E que tentou ser ressuscitada no momento em que uma guerra, a da Ucrânia, voltou a abalar a Europa.
“Mesmo que o bom senso não seja suficiente, eles não podem ignorar a união das autoridades do futebol, governos, a União Europeia e, acima de tudo, os torcedores”, disse o dirigente, referindo-se ao repúdio das torcidas à ideia da nova liga.
Completo disparate
O esloveno também teceu duras críticas a Gianni Infantino, presidente da FIFA, por ter proposto a realização de uma Copa do Mundo bienal. A ideia conseguiu rejeição unânime entre clubes, que perderiam dinheiro, e confederações continentais.
Não é difícil imaginar como a Copa bienal sufocaria o crescimento do futebol feminino e possivelmente o de muitos outros esportes.
“Organizar uma Copa do Mundo a cada dois anos é um completo disparate. É difícil de acreditar que qualquer organização de futebol sugerira que os jogadores, que já carregam uma carga muito pesada, devam participar de um torneio de um mês todo verão”, afirmou Ceferin, referindo-se à ideia da Copa bienal e às competições continentais.
“Não é difícil imaginar como tal cenário sufocaria o crescimento do futebol feminino e possivelmente o de muitos outros esportes”, acrescentou o dirigente, lembrando-se que até o Comitê Olímpico Internacional (COI) se manifestou publicamente contrário à FIFA.
A campanha da FIFA foi responsável por uma reaproximação entre UEFA e CONMEBOL, que passaram a programar ações conjuntas e criaram a Finalíssima, disputa entre o campeão da Euro e o vencedor da Copa América. A união entre as confederações continentais também foi lembrada pelo dirigente.
“Tanto a Europa como a América do Sul, dois continentes que respondem por todos os títulos de campeões do mundo, deixaram claro sua recusa em participar, de modo que fica a questão se esse torneio seria de fato uma Copa do Mundo”, declarou o presidente da UEFA.
No relatório, a UEFA também enalteceu a retomada da normalidade no futebol europeu, mesmo que a pandemia ainda não esteja totalmente controlada. A entidade ressaltou que na última temporada foram organizados quase 1.400 jogos entre clubes e seleções nacionais. E que apenas 21 partidas tiveram que ser canceladas por causa da Covid-19.