Bia Zaneratto espantou-se com a estrutura que encontrou ao se transferir do Palmeiras para o Kansas City Current, time que disputa a NWSL, principal liga feminina de futebol dos Estados Unidos.
“Foi uma extrema grandeza para a minha carreira ir para os Estados Unidos e ver a profissionalização que já existe há muito tempo. Você vê as meninas de 4, 5, 6 anos jogando futebol. Desde a infância faz toda a diferença a inclusão”, contou Bia, em entrevista à Máquina do Esporte.
“No Brasil, é difícil encontrar meninas para jogar futebol. Na minha época, davam bola de futebol para os meninos e de vôlei para as meninas”, completou a jogadora.
A infraestrutura oferecida às jogadoras é similar ao que os principais clubes têm no Brasil à disposição dos homens, mas bem diferente da realidade das jogadoras, que têm um calendário mais esparso de jogos, poucas competições estruturadas e menor acesso aos centros de treinamento e ao estádio principal dos clubes.
O CT do Kansas City Current não é dividido com nenhum time masculino e conta com campos, academia, sala de vídeo, refeitório, vestiário, banheira de hidromassagem e sauna, entre outros itens.
“É uma estrutura que times masculinos da Série A [do Brasil] não têm”, destacou.
Estádio
A atacante chegou ao clube e fez sua estreia logo na inauguração da nova arena do time de Kansas, o CPKC Stadium, no ano passado.
“Foi contra o Portland [Thorns], um jogo bem emocionante. Terminou 5 a 4, e eu pude marcar”, lembrou a jogadora.
“Aconteceu de tudo. Começamos ganhando, depois tomava gol. Aquele jogo que a torcida gosta. Mas saímos com a vitória no final”, acrescentou.
Com capacidade para 11.500 torcedores, o espaço também é exclusivo do futebol feminino.
O Sporting Kansas City, time masculino que disputa a MLS, principal liga de futebol dos EUA, manda seus jogos no Children’s Mercy Park, com capacidade para pouco mais de 18 mil torcedores.
E até algo corriqueiro para um time masculino no Brasil causou espanto na jogadora em solo norte-americano.
“Em frente ao nosso estádio existe uma loja oficial do Kansas City Current, com produtos exclusivos do time feminino, com camisas de todas as jogadoras”, revelou Bia.
“Parece algo simples, mas é encantador, e você não vê no Brasil”, acrescentou.
Talentos
Nas ruas, a brasileira já é mais reconhecida pelos fãs, que param para pedir autógrafo e tirar foto, do que no tempo em que atuava no Brasil.
“São detalhes, mas ao mesmo tempo a forma como eles divulgam a modalidade faz com que essa grandeza seja cada vez mais forte”, disse a atacante.
Apesar de ter uma infraestrutura bem diferente da disponível para as jogadoras no Brasil, o país ainda é atraente para a direção dos clubes. Além de Bia, o Kansas City Current conta com mais duas brasileiras no elenco: a meia Debinha e a goleira Lorena.
A goleira, contratada junto ao Grêmio, chegou neste ano após se destacar na seleção brasileira na conquista da medalha de prata olímpica nos Jogos de Paris 2024, encerrados em agosto.
Brasil
Para Jocelyn Monroe, vice-presidente de marketing do time de Kansas, o Brasil representa um país relevante na estratégia de internacionalização da equipe.
“A marca do nosso clube é reconhecida como líder em investimentos no esporte, tanto dentro quanto fora de campo. Contamos com três brasileiras incríveis na nossa equipe”, comentou a executiva.
O interesse pelo Brasil não se limita ao time adulto. A equipe Sub-17 se despediu do país nesta quinta-feira (23) após uma semana de treinamentos de pré-temporada, em que realizou jogos-treinos contra Vasco e Fluminense.
“O investimento em trazer o KC Current para os torcedores brasileiros é apenas o começo. Estamos comprometidos em criar conexões significativas e promover o futebol feminino em mercados estratégicos como o Brasil”
Jocelyn Monroe, vice-presidente de marketing do Kansas City Current
Clínica
No Brasil, o Current também promoveu uma clínica para meninos e meninas de 7 a 13 anos no CT do Red Bull Bragantino, em Bragança Paulista (SP).
“Essas experiências internacionais expõem nossas jogadoras e equipe a culturas diversas e novos desafios, promovendo crescimento tanto dentro quanto fora de campo”, afirmou Ryan Dell, diretor de operações de futebol do clube.
“Essa viagem fortalece a base da nossa academia e nos aproxima ainda mais da visão de construir um legado global no esporte”, finalizou.