O Flamengo realizou reunião do Conselho Deliberativo para debater o imbróglio que se envolveu com a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) por divisão de receita. No encontro, a diretoria do clube afirmou que teve uma proposta rejeitada para ganhar R$ 250 milhões no contrato de TV de 2025, que já representaria prejuízo em relação ao que recebeu no antigo acordo com a Globo.
Durante o encontro, Marcelo Campos Pinto, representante do Flamengo na Libra, apresentou uma tabela com a previsão de quanto cada clube irá receber neste ano e a proposta apresentada pelo presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap.
Pela tabela, a Libra prevê uma remuneração de R$ 197 milhões, o que indicaria perda de R$ 103 milhões em relação aos R$ 300 milhões que o clube carioca recebeu no último ano do antigo contrato de TV.
“O presidente Bap tem sido atacado de uma forma um tanto quanto maliciosa dizendo: ‘O Flamengo nunca perdeu R$ 100 milhões . Isso é balela. Isso é discurso de quem quer nos oprimir’, etc e tal. Está aí o número, gente”, defendeu Campos Pinto.
Para o executivo, a contraproposta apresentada pelo Rubro-Negro, e rejeitada em assembleia dos clubes da Libra, era razoável, pois ainda previa perdas financeiras ao Rubro-Negro, que recentemente assinou contrato de patrocínio máster com a Betano até 2028, no valor de R$ 268 milhões por temporada.
“Na proposta Libra, o Flamengo perderá 103 milhões quando comparado com 2024. E na proposta do Flamengo, ele vai continuar perdendo R$ 50 milhões. Isto prova, salvo o melhor juízo de cada um de vocês, uma razoabilidade do Flamengo”, afirmou Campos Pinto.
Imbróglio
Pelo acordo com a Globo, que adquiriu os direitos dos times da Libra como mandantes no Campeonato Brasileiro de 2025 a 2029, a divisão de receitas de TV seria feita 40% de maneira igualitária, 30% por performance e 30% pela audiência.
É nesse último quesito que está a divergência entre os clubes. O Flamengo alega que os critérios não haviam sido claramente estabelecidos e pede uma parcela maior, sugerindo levar em conta a base de assinantes do pay-per-view (PPV), onde possui uma base de fãs maior.
A Libra afirma que os critérios haviam sido definidos em contrato e haviam sido assinados por Rodolfo Landim, ex-presidente do Flamengo. No entanto, não apresentou tal documento.
Como o contrato com a Globo prevê o pagamento de R$ 1,17 bilhão por temporada, o ponto da discórdia refere-se ao montante de R$ 351 milhões por ano.
Justiça
Insatisfeito com a divisão de receitas, o Flamengo chegou a emitir uma notificação extrajudicial à Globo e à Libra. Após a iniciativa não ter tido sucesso, o clube foi à Justiça e conseguiu liminar bloqueando o pagamento de uma parcela de R$ 77 milhões da Globo aos clubes. Como várias equipes têm problema com fluxo de caixa, houve críticas gerais à atitude do Rubro-Negro.
A Libra emitiu nota de repúdio à judicialização do caso. Dias depois, o Flamengo lançou nota oficial comentando, sob seu ponto de vista, o que seria verdadeiro ou falso na discussão sobre divisão de receitas. Na última sexta-feira (3), foi a vez de a Libra rebater o clube, afirmando que várias alegações eram inverídicas.
Apesar do estremecimento das relações, Bap foi incisivo ao afirmar que o Flamengo não deixará a Libra. “Zero chance. Vamos conviver com esse contrato até 31 de dezembro de 2029 e eles vão conviver com o Flamengo também até essa data”, disse o dirigente.
Farpas
Houve espaço ainda para troca de farpas entre os principais dirigentes envolvidos nas discussões internadas da Libra, o próprio Bap e a presidente do Palmeiras, Leila Pereira.
O presidente do Flamengo criticou a Crefisa, empresa de Leila, por ter concedido empréstimo de R$ 80 milhões ao Vasco com garantia de 10% da SAF do clube, caso o valor não seja quitado.
“Não tenho dúvida nenhuma de que existe uma agenda muito clara. A gente está falando desse problema da Libra e a empresa que ela preside emprestou dinheiro para a SAF do Vasco”, afirmou Bap.
O dirigente acredita que Leila Pereira esteja interessada em adquirir o Vasco futuramente, já que não pediu outros ativos como garantia de pagamento, como contrato de TV, venda de jogadores ou participação na renda dos jogos.
“Ouvi dizer que as última vez que aconteceu no Brasil, os Menin compraram o Atlético-MG. Cresceram a dívida e chegou uma hora e executaram. Isso deveria ser questionado, já que estamos falando de Fair Play financeiro no Brasil. Existe uma agenda, não tenho dúvida, qual a agenda o tempo vai dizer”, disse o presidente do Flamengo.
Leila Pereira respondeu as críticas dizendo que estaria preocupada com o crescimento do ecossistema do futebol brasileiro como um todo, não apenas com o clube que preside.
“O presidente Bap tem razão quando diz que eu tenho uma agenda muita clara. Afinal, todos sabem que defendo os interesses do Palmeiras sem tentar asfixiar os meus adversários, que eu trabalho arduamente pelo crescimento do futebol brasileiro e que honro todos os contratos assinados pelo clube, incluindo os das gestões anteriores”, disse a dirigente.
Leila ainda rebateu o dirigente lembrando uma antiga fala de Bap, quando era presidente da Sky. Na ocasião, o executivo disse que a Netflix não o incomodava, mas que a Sky poderia comprar a operação da plataforma de streaming no Brasil caso houvesse concorrência.
“Quanto à insinuação do presidente Bap sobre o boato de que eu estou comprando o Vasco, ele pode ficar tranquilo. Eu não estou comprando o Vasco. Aliás, eu não estou comprando nem o Vasco nem a Netflix.”