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Gaviões da Fiel poderia pagar dívida de estádio de Corinthians com Caixa, avaliam especialistas

Para advogados, torcida poderia fazer quitação de débito diretamente com banco, sem passar por diretoria do time

Torcedores do Corinthians lotam as arquibancadas da Neo Química Arena - Rodrigo Coca / Agência Corinthians

A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, iniciou nesta semana uma movimentação que tem como o objetivo o pagamento da dívida do clube com a Caixa Econômica Federal, relativa a um financiamento feito em 2013 para a construção da Neo Química Arena.

Com o passar dos anos, o Corinthians não conseguiu efetuar os pagamentos e a dívida que começou em R$ 400 milhões já ultrapassa os R$ 700 milhões.

Além da crise financeira, o Corinthians também atravessa uma grande turbulência política. O caso da VaideBet, ex-patrocinadora máster que abandonou o clube por conta de indícios de corrupção envolvendo o acordo, gerou uma grande desconfiança por parte da torcida.

A ideia da Gaviões é, nesse cenário, utilizar a força da torcida, uma das maiores do Brasil, para tentar quitar a dívida do Corinthians com a Caixa a partir de uma “vaquinha” on-line, modelo em que qualquer pessoa pode doar.

Pix

Contatado pela Máquina do Esporte, a Caixa Econômica Federal informou que “não se manifesta sobre operações de crédito e estruturação de dívidas específicas em razão do sigilo bancário”, mas afirmou que “ouviu representantes da torcida do Corinthians e avalia a viabilidade de sua operacionalização”.

Legalmente, de acordo com o advogado Gustavo Lopes, especialista em direito esportivo, nada impede que a Gaviões da Fiel pague a dívida no lugar do Corinthians — sem envolvê-lo—, desde que a Caixa aprove o movimento. 

“Não há ilegalidade nenhuma neste movimento. Qualquer pessoa pode iniciar vaquinhas para ajudar alguém em momentos específicos. Uma vez arrecadado este dinheiro, a torcida teria dois caminhos: doar para o Corinthians ou se subrogar nos direitos, ou seja, passar a ser o credor do clube no lugar da Caixa”, disse.

Uma das possibilidades do projeto envolve a criação de uma chave pix que esteja ligada diretamente ao banco credor, para que as doações sejam direcionadas diretamente ao pagamento do empréstimo. Assim, os valores doados abateriam a dívida em tempo real, movimento que poderia ser acompanhado pelos torcedores.

Na opinião do advogado André Oliveira, com passagem por América-MG e Cruzeiro, porém, essa estratégia pode ser perigosa, principalmente pela possibilidade da aplicação de diversos golpes fraudulentos. 

“A questão de risco é que, sendo um Pix, uma coisa de mais fácil acesso, existe a possibilidade de diversos golpes. Certamente vão aparecer pessoas dizendo que estão recolhendo dinheiro para o Corinthians”, ponderou.

Possibilidades

Caso o projeto não seja aceito pela Caixa, existem outras possibilidades que podem ser seguidas. A torcida organizada poderia, por exemplo, se amparar em mecanismos que lhe confiram a garantia de que o dinheiro doado ao Corinthians seja direcionado para o pagamento da dívida.

Segundo Lopes, os torcedores poderiam seguir diversos caminhos, que não necessariamente dependeriam da aprovação da Caixa e, ainda assim, poderiam superar a desconfiança da torcida com a diretoria.

“Dá para fazer uma engenharia jurídica para que os torcedores tenham a garantia de que os valores sejam direcionados para as finalidades que eles querem. Seja por meio de uma doação com fins específicos ou de um pacto triangular entre Caixa, torcedores e o Corinthians. É só conversar”, apontou.

“Se a intenção for ajudar o clube sem motivação política, visando apenas sua recuperação financeira, é muito fácil fazer um acordo. Seria possível até mesmo uma campanha conjunta, em que a Gaviões e o próprio Corinthians convidassem os torcedores para participar”, completou.

Dívida total

Ainda que o projeto da Gaviões se concretize e a dívida ao menos diminua com o auxílio dos torcedores, a situação do Corinthians não irá da água para o vinho.

De acordo com o Relatório Convocados 2024, feito em parceria com a Outfield e a Galapagos Capital, que analisa as finanças dos clubes brasileiros, o Timão encerrou 2023 com uma dívida líquida que supera R$ 1,89 bilhão, com um aumento de 84% em relação ao ano anterior, salto explicado justamente pelo débito relativo ao estádio.

Mesmo que o valor devido à Caixa pela construção do estádio seja quitado, o Corinthians ainda seria dono da segunda maior dívida entre os clubes que disputaram a Série A do Brasileirão. No ano passado, só contando outros débitos, o clube fechou o balanço com endividamento de R$ 1,191 bilhão. Nesse cenário, ficaria atrás apenas do Botafogo, que encerrou 2023 com dívida líquida de R$ 1,3 bilhão.

“A dívida não é impagável. O Corinthians é gigante e vale muito mais do que R$ 2 bilhões”, avalia Lopes.