Apesar de Joseph Blatter e Michel Platini terem sido banidos do futebol pela Fifa, os dirigentes foram absolvidos, nesta sexta-feira (8), pela Justiça da Suíça, de acusações de fraude, peculato e corrupção em um processo judicial movido pelas autoridades locais.
Blatter presidiu a Fifa por 17 anos, enquanto Platini dirigiu a Uefa e chegou a lançar candidatura à presidência da Federação Internacional de Futebol. O veredicto surge após 11 dias de julgamento no mês passado no Tribunal Criminal Federal da Suíça, em Ballinzona.
Pagamento suspeito
As investigações se concentravam no controverso pagamento de 2 milhões de francos suíços da Fifa a Platini, com aprovação de Blatter, realizado em 2011, por um suposto trabalho para a entidade.
A polêmica fez com que ambos fossem banidos pelo Comitê de Ética da Fifa, removendo Blatter, hoje com 86 anos, do cargo de presidente da entidade e dando fim à candidatura de Platini à sucessão de seu antigo mentor.
O pagamento seria um “acordo de cavalheiros” por supostos trabalhos de consultoria do ex-jogador francês, que teria trabalhado como conselheiro de Blatter no primeiro mandato do dirigente à frente da Fifa, de 1998 a 2002.
A aprovação do pagamento aconteceu alguns meses antes de Blatter ser reeleito à presidência da Fifa, em 2011, em uma eleição em que não enfrentou concorrentes. Por conta disso, a remuneração dava a entender que teria sido realizada pelo apoio de Platini ao novo mandato.
Acusação da promotoria
Segundo os promotores, os réus mentiram sobre o motivo da gratificação argumentando que ela não teria “base legal” e apenas serviria para enriquecer Platini. Por causa disso, o promotor Thomas Hildbrand havia pedido uma pena de 20 meses de prisão aos dois.
Em sua defesa, os antigos dirigentes argumentavam que o dinheiro representava apenas um salário retroativo, embora não houvesse nenhum contrato firmado entre as partes pelo suposto trabalho realizado por Platini.
“Queria expressar minha felicidade que a justiça finalmente foi feita após sete anos de mentiras e manipulações. A verdade veio à tona durante este julgamento”
Michel Platini
Se essa argumentação não serviu para convencer o Comitê de Ética da Fifa nem a Corte Arbitral do Esporte (CAS), última instância para julgamentos na esfera esportiva, foi o suficiente para dar ganho de causa a Blatter e Platini ante a Justiça suíça. A única vitória anterior havia sido de Platini, na CAS, que reduziu sua suspensão do futebol.
“Após a decisão dos juízes do Tribunal de Bellinzona, nesta manhã, eu queria expressar minha felicidade para todos os meus entes queridos que a justiça finalmente foi feita após sete anos de mentiras e manipulações. A verdade veio à tona durante este julgamento”, afirmou Platini, após o veredicto.
Batalha jurídica
O ex-mandatário da Uefa deu a entender que travará novas batalhas legais para limpar seu nome no mundo do futebol.
“Continuei dizendo: minha luta é uma luta contra a injustiça. Ganhei um primeiro jogo. Neste caso, há culpados que não compareceram durante este julgamento. Deixe-os contar comigo, vamos nos encontrar novamente. Porque não vou desistir. Vou até o fim na minha busca pela verdade”, disse Platini.
O ex-jogador da seleção francesa apresentou queixa-crime no seu país, contra Gianni Infantino, atual presidente da Fifa, alegando “tráfico de influência” contra ele para conquistar o mais alto cargo do futebol mundial.
“Acredite, passar de lenda do futebol mundial a demônio é muito difícil, principalmente quando te tratam de forma totalmente injusta”, afirmou Platini, que brilhou com a camisa dos Bleus (apelido da seleção francesa) nos anos 1980.
A suspensão de Platini do futebol terminou em outubro de 2021. O veredicto desta sexta-feira (8) deve abrir caminho para que ele retorne à política do futebol. Quanto a Blatter, aos 86 anos e com problemas de saúde, é improvável que faça uma tentativa de retornar ao futebol. No ano passado, o suíço foi banido pela segunda vez pela Fifa sob alegação de irregularidades financeiras.