O encontro de Javier Tebas, presidente da LaLiga, com os representantes dos clubes brasileiros terminou com a explanação de como é o funcionamento da liga espanhola, mas sem qualquer novo andamento para a criação da entidade que poderia representar os times que disputam os Campeonatos Brasileiros das Séries A e B.
A convite do fundo de investimentos XP, Tebas esteve na sede da empresa, em São Paulo, para conversar com os dirigentes brasileiros. No encontro, o executivo fez uma breve explanação de como a liga espanhola conseguiu reordenar as finanças dos clubes e ampliar o faturamento com a venda centralizada de direitos de mídia.
Mas, além disso, Tebas foi enfático ao adotar um tom político na conversa com os presidentes, afastando qualquer possibilidade de estar no país para “ensinar” os clubes ou vender um serviço específico de consultoria da LaLiga para o Brasil.
Segundo apurou a Máquina do Esporte com alguns representantes dos times que estiveram presentes ao evento que teve cerca de três horas de duração e foi promovido pela XP e pela consultoria Alvarez & Marsal, Tebas preferiu não melindrar os dirigentes dos clubes e só apontar como foi o caminho feito pelos espanhóis para mudar a realidade financeira da liga e dos clubes.
O encontro, no fim, serviu para dar mais subsídios aos dirigentes no debate sobre a criação da entidade. De acordo com mais de um executivo presente ao evento, a palestra de Tebas não teve “nenhuma novidade” em questões práticas, mas ajudou a construir o sentimento de que é necessária uma junção dos clubes em torno de interesses comuns.
Em comunicado à imprensa, Tebas afirmou que o encontro serviu para colocar o conhecimento da LaLiga à disposição dos clubes brasileiros. Foi exatamente isso que os espanhóis fizeram em 2018 com o futebol equatoriano, ao auxiliar na criação da Liga Pro.
“Na LaLiga, temos o objetivo de ajudar o desenvolvimento do futebol e sua indústria. Com a proposta que estamos fazendo em conjunto com a XP e a Alvarez & Marsal, queremos oferecer todo o conhecimento que adquirimos ao longo dos anos para propor um modelo de negócio que seja financeira e administrativamente adequado para apostar no crescimento do futebol no Brasil. Hoje, apresentamos aos clubes brasileiros uma proposta que inclui as melhores práticas da LaLiga e a forma como conseguimos ser uma das competições desportivas mais eficazes em termos de desenvolvimento de negócios e de estabilidade financeira”, afirmou o executivo espanhol.
O encontro é mais uma peça que se mexe no tabuleiro de formatação da liga. Até agora, os clubes têm dois outros possíveis grupos interessados em estar por trás da criação da entidade. O primeiro deles é a Codajas Sports Kapital, que desde o ano passado conversa com os clubes. Depois de ver frustrada a promessa de ter US$ 1 bilhão de um fundo americano para investir na liga, o grupo, que é liderado por Luiz Zveiter e tem o consultor Ricardo Fort como principal interlocutor, foi em busca do banco BTG para captar a verba no mercado. Até agora, a Codajas já tem um pré-contrato com os cinco clubes de São Paulo (os quatro grandes e o Red Bull Bragantino), com Botafogo, Flamengo e Fluminense, e está próximo de Atlético-MG e Internacional.
Enquanto isso, as agências 1190 e LiveMode correm por fora para tentar achar um investidor e ser o “azarão” na disputa com os fundos de investimentos. A joint venture foi quem conseguiu frear o acerto de dez clubes menores com a Codajas. O grupo criou uma representação chamada “Forte Futebol”, em que prega negociar coletivamente e dividir entre eles igualmente qualquer receita que entre na liga.
Até agora, porém, não há qualquer definição sobre a potencial união dos clubes brasileiros. O passo mais importante, antes mesmo de se discutir a entrada de investidores, foi dado na semana passada, quando, em reunião na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), os clubes negociaram um apoio da entidade para dar validade à liga.
Politicamente o acordo está selado. Falta agora entender como unir os clubes em torno do mesmo propósito.