A LaLiga tem registrado crescimento contínuo em audiência internacional, redes sociais e engajamento com torcedores, mesmo após o fim da era capitaneada por Lionel Messi (ex-Barcelona) e Cristiano Ronaldo (ex-Real Madrid), craques de projeção mundial que intensificaram a internacionalização do Campeonato Espanhol.
Durante uma palestra no Olé Sports Summit, em Buenos Aires (ARG), Javier Tebas, CEO da LaLiga, desdenhou a dependência de ídolos desse tamanho afirmando que o motor do futebol é o sentido de pertencimento ao clube. Para ele, a lealdade do torcedor mantém o interesse de plateias amplas e garante que a competição siga forte e atrativa.
Produto
Tebas destacou que, mesmo após a saída de Messi e CR7, a LaLiga continua atraindo a audiência graças à qualidade do produto oferecido ao fã de esporte.
“O importante são os clubes: que cresçam, que sejam economicamente sustentáveis e que a competição seja competitiva. É melhor ter os grandes jogadores, claro, mas se você não os tem, sua competição não desmorona”, analisou.
O dirigente reforçou que a liga tem conseguido ampliar sua base de seguidores e reduzir a distância para a Premier League (Inglaterra) em engajamento digital. O Campeonato Espanhol, segundo ele, supera as demais ligas nacionais europeias, como Serie A (Itália), Bundesliga (Alemanha) e Ligue 1 (França) em alcance global.
Para o executivo, o ecossistema digital é fundamental na avaliação da força de uma competição, e a inovação audiovisual tem permitido à LaLiga se posicionar à frente de outras ligas na conquista dos torcedores.

Competição
A competitividade foi outro ponto abordado pelo executivo em sua palestra na Argentina. Para Tebas, o equilíbrio não deve ser artificial, mas fruto de resultados em campo.
O dirigente citou exemplos como o Real Madrid perdendo pontos em jogos fora de casa e o desempenho de clubes como Girona e Real Sociedad na parte de cima da tabela.
“Em uma liga de 20 clubes, é preciso evitar que o campeão alcance mais de 90 ou 85 pontos. É normal que Barcelona ou Real Madrid ganhem, mas, quando chegam a esse nível de pontuação, o Atlético de Madrid aparece; a Real Sociedad chegou muito perto; o Girona também esteve muito próximo até faltarem quatro rodadas”, salientou.
Tebas comparou o torneio espanhol com outras ligas, como a Premier League, na qual o Manchester City conquistou seis títulos em sete anos, mostrando que a dominância de grandes clubes não é exclusividade da Espanha.
Consumo
Para o dirigente, a competitividade pode ser um atrativo para a conquista de novos públicos, especialmente a Geração Z. Segundo ele, os jovens não abandonaram o futebol, mas consomem de forma diferente.
“Não é verdade que os jovens abandonaram o futebol. Os dados não mostram isso. Eles veem o jogo em tela dupla, conversam com amigos, comentam nas redes”, exemplificou.
“São outras formas de consumo, e é preciso adaptar-se a esse público e a essa faixa etária”, completou.
O executivo ressaltou que a preocupação está no público acima de 50 anos, que paga, mas enfrenta barreiras tecnológicas. Para ele, simplificar a experiência é essencial para manter esse público conectado.
A LaLiga tem investido em novos formatos, como multitelas, publicação imediata de gols e jogadas e chats integrados às transmissões, além de presença em todas as redes sociais do mundo, sempre de forma adaptada culturalmente.

Investimento
Tebas defendeu a participação de empresas de private equity no futebol, particularmente o acordo com a CVC Capital Partners, quarto maior fundo de investimentos do mundo, que proporcionou capital aos clubes menores do país.
“Nos últimos cinco anos, ocorreu um fenômeno importante: a entrada do fundo de investimento CVC na LaLiga”, comentou o dirigente.
“Construímos um futebol com um Fair Play Financeiro que faz parte do nosso DNA, e acredito sinceramente que isso é um sucesso. Os clubes não quebram, não devem dinheiro aos jogadores, não devem ao fisco. O sistema é sólido”, acrescentou.
O investimento tem sido direcionado para infraestrutura, com reformas em 17 dos 20 estádios, elevando a taxa de ocupação de 65% para 85%, com meta de chegar a até 92%, o que alçaria a Espanha ao nível da Alemanha, que é destaque nesse quesito entre as principais ligas nacionais da Europa.
Pirataria
Outro problema enfrentado pela LaLiga é o combate à pirataria. Tebas reforçou a necessidade de coibir as transmissões ilegais, que causam enormes prejuízos aos clubes todos os anos, de maneira efetiva, conduzindo ações em parceria com a polícia local e de outros países.
“Tenho certeza absoluta de que, se a pirataria, do tipo Magis, Flujo Televisión, Pelota Libre, desaparecesse, o acesso para assistir ao futebol seria muito mais barato. Caso contrário, todo o ecossistema do futebol entra em risco”, enfatizou.
O dirigente destacou operações contra empresas de streaming ilegal e alertou para plataformas como a Fútbol Libre. Para ele, eliminar a pirataria permitiria reduzir preços e manter a sustentabilidade da indústria do futebol.
“Se queremos uma indústria forte, é possível arrecadar o mesmo ou mais com um preço menor, mas o caminho é o inverso: primeiro, é preciso acabar com a pirataria”, defendeu.
