A LaLiga denunciará os cânticos racistas da torcida do Atlético de Madrid contra o brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, durante o dérbi da capital espanhola, disputado neste domingo (18). A direção da liga espanhola enviará um relatório formal ao Comitê Disciplinar da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) e à Comissão Antiviolência do Estado.
O prefeito da cidade, José Luis Martínez-Almeida, manifestou o desejo de que os responsáveis sejam identificados e não autorizados a retornar aos estádios de futebol na Espanha.
Um grupo de torcedores foi filmado entoando cânticos racistas antes do jogo no Estádio Civitas Metropolitano. Embora o incidente que foi filmado tenha ocorrido fora do campo, a LaLiga o incluirá no relatório sobre o comportamento dos torcedores que prepara e entrega semanalmente à Comissão Antiviolência.
“Não há lugar para eles, não apenas em um evento esportivo, mas em qualquer esfera da vida. O que acho que tem que ser feito é que essas pessoas sejam identificadas porque não acho que elas mereciam ser admitidas [nos estádios]. É absolutamente reprovável e deve ser condenado”
José Luis Martínez-Almeida, prefeito de Madri
“Digo isso como prefeito de Madri, mas também como torcedor do Atlético. Me envergonha que haja torcedores do Atlético capazes de gritar esse tipo de insulto racista”, acrescentou.
Caso a comissão decida por uma punição, ela deve ser de natureza econômica, e não esportiva. O fechamento do Civitas Metropolitano não parece uma possibilidade, mesmo que os cânticos racistas tivessem ocorrido dentro do estádio. Tendo ocorrido fora, a possibilidade é ainda menor.
Racismo na TV
A polêmica sobre o racismo contra Vinicius Júnior ainda está em discussão. O imbróglio surgiu após Pedro Bravo, agente de jogadores, afirmar, na última quinta-feira (15), durante o programa de TV “El Chiringuito”, que Vini Jr. deveria “deixar de fazer macaquice”. Pedro se referiu com termo racista às danças realizadas pelo atacante para comemorar gols.
Capitão do Atlético, o meio-campista Koke foi posteriormente questionado sobre uma provável reação caso Vinícius fizesse um gol no clássico e comemorasse dançando, e respondeu dizendo que haveria uma “confusão com certeza”.
Vini Jr. gravou um vídeo repudiando o racismo de que fora vítima, causando enorme repercussão no meio futebolístico e recebendo apoio de jogadores como Neymar e Daniel Alves. Até Pelé, normalmente comedido nas redes sociais, postou mensagem em apoio ao atacante do Real Madrid.
“Dizem que a felicidade incomoda as pessoas. Bom, a felicidade de um brasileiro negro vitorioso na Europa, muito mais. Semanas atrás, eles começaram a me criminalizar por dançar”, afirmou o brasileiro, que ressaltou que dançar “celebra a diversidade cultural do mundo. Aceite, me respeite, não vou parar”.
Após receber várias críticas pela fala racista, Bravo pediu desculpas, dizendo que usou a frase “figurativamente”.
O brasileiro Matheus Cunha, atacante do Atlético e companheiro de Vini Jr. na seleção brasileira, postou uma série de tuítes após o clássico tentando contemporizar. Ele defendeu tanto Koke, acusado de incitar os torcedores contra o brasileiro, como seu conterrâneo.
“A p… do post do Vini nunca foi sobre Koke, era sobre um racista que tinha um microfone em um programa de TV. Quem viu a entrevista sabe que o que o nosso capitão disse estava certo. Todos fazem o que querem quando marcam”, contemporizou o jogador, que chegou a dançar com Vini Jr. no túnel dos vestiários, antes do jogo.
Outra denúncia
O Movimento Contra a Intolerância registrou denúncia na Promotoria de Crimes de Ódio pelas mensagens racistas dirigidas a Vinícius Júnior e encaminhou um ofício ao Conselho Superior de Esportes (CSD) para que a Comissão Antiviolência adotasse sanções.
“Nenhum debate futebolístico, seja ele qual for, sobre comemorações em torno de um gol ou qualquer outra coisa, justifica a prática de um conjunto de atos ilícitos que envolvam discursos de ódio e crimes de racismo e xenofobia, nas redes, mídia, entorno ou dentro de um jogo. Esses fatos tornam esse jogador de futebol vítima de racismo, xenofobia e intolerância”, afirma o texto.