O presidente da LaLiga, Javier Tebas, afirmou, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (25), que a entidade tem feito denúncias de racismo nos campos de futebol do país sem conseguir apoio do governo espanhol, da federação nacional ou do Real Madrid, clube de Vinícius Júnior, principal alvo de insultos raciais nesta temporada.
“Há mais de dois ou três anos denunciamos insultos nas partidas. Depois, aumentamos o nível [da reclamação] e denunciamos ao Ministério Público. Começamos em 2020, quando Iñaki Williams [do Athletic Bilbao] foi insultado. Continuamos fazendo mais denúncias, mas o MP arquivou”, afirmou o dirigente, ressaltando que a entidade teria ficado isolada nessas ações.
“Em todas estas reclamações fomos sozinhos, nem o CSD [Conselho Superior de Esportes, órgão do governo espanhol do setor], nem a RFEF [federação espanhola], nem o Real Madrid nos acompanharam”, acrescentou.
Tebas disse que a LaLiga chegou a apresentar denúncias até em um caso de racismo que o próprio Vini Jr. nem teria percebido.
“Depois da partida contra o Osasuna [em fevereiro], denunciamos insultos racistas contra Vinícius que nem o jogador sabia. Ele nem ouviu porque vimos em vídeo. Insisto, nem o jogador sabia. Denunciamos para defender o jogador porque para mim é uma questão muito importante”, destacou, referindo-se ao jogo em que torcedores xingaram o brasileiro até durante o minuto de silêncio em homenagem às vítimas do terremoto na Turquia.
Inércia da Justiça
Segundo o dirigente, as denúncias da LaLiga aos atos racistas acontecem desde 2020, embora haja pouca punição para esses casos na Justiça da Espanha.
“Há mais de dois ou três anos denunciamos insultos em todas as partidas. Depois, aumentamos o nível [de reclamação] e denunciamos ao Ministério Público. Isso começou em 2020, quando Iñaki Williams [jogador do Athletic Bilbao] foi insultado”, rememorou.
“Depois, continuamos fazendo mais denúncias, mas o Ministério Público arquivou. Mudamos de novo nossa estratégia e denunciamos diretamente na Justiça”, revelou o dirigente.
Durante esse período, nenhuma pessoa denunciada foi condenada pela Justiça da Espanha por causa de racismo. No entanto, na última terça-feira (23), sete torcedores do Atlético de Madrid foram presos, acusados de pendurar um boneco enforcado, representando Vini Jr., em um viaduto próximo ao Estádio Cívitas Metropolitano, antes de um clássico contra o Real Madrid, pela Copa do Rei.
O incidente aconteceu em janeiro, mas o grupo só foi detido quatro meses depois, após a crise que arranhou a imagem da LaLiga e da Espanha por contínuas manifestações racistas no futebol.
“Em relação ao boneco do Vinícius, pedimos que as medidas punitivas aos culpados estejam em todos os estádios da LaLiga. Fizemos isso antes do jogo no Mestalla. Com competência [para punir], em seis meses resolveríamos esse problema. Mas, sem ela, é muito difícil. Tem que ter competência e vontade de fazer, e isso nós temos”
Javier Tebas, presidente da LaLiga
Na terça-feira (23), a LaLiga divulgou um comunicado pedindo mais poder para combater casos de “violência, racismo, xenofobia e intolerância”. Atualmente, a LaLiga tem poderes apenas de identificar e denunciar, mas não de punir.
“Amanhã, vamos pedir ao primeiro-ministro [Pedro Sánchez] e ao governo [da Espanha] uma reforma urgente para pedir poderes que até agora são apenas da federação [espanhola]. Vamos pedir esses poderes. Que possamos aplicar sanções também aos nossos associados [clubes]”, afirmou Tebas.
Crise de imagem
O dirigente também estar preocupado com a crise de imagem em que a LaLiga mergulhou após a repercussão internacional de mais um episódio de racismo contra Vinícius Júnior.
“Claro que estou preocupado. Se não estivesse, estaria louco. Espanha e LaLiga não são racistas. Vamos combater esses comportamentos. Isso me preocupa, e vamos trabalhar para acabar com isso”, disse Tebas.
“Esse foi um golpe que recebemos. Não vamos chorar. Vamos trabalhar para recuperar a reputação que perdemos”, acrescentou o dirigente, que, apesar de ser costa-riquenho, já apoiou publicamente o Vox, partido de extrema-direita da Espanha que possui ideologia xenófoba.
Talentos negros
Outra frente em que Tebas terá que lutar é para voltar a atrair a atenção de talentos negros. O próprio Vini Jr. chegou a deixar em aberto se continuaria a atuar na Espanha. Outros jogadores podem optar por se transferir para ligas nas quais haja menos incidência de racismo ou que ao menos combatam o problema de maneira mais efetiva.
“Espero que não diminua [o interesse de jogadores negros em jogar na LaLiga]. Aqui, protegemos o jogador negro e de qualquer outra raça. Fazemos isso dentro e fora de campo. A LaLiga é responsável pelos jogadores por todas as horas em que estão sob contrato de um clube”, afirmou Tebas.
Patrocinadores
Outra iniciativa da LaLiga foi procurar seus patrocinadores para que a crise de imagem com o racismo contra Vini Jr. não gere prejuízo econômico de perda de apoios comerciais. Poucos apoiadores da competição se manifestaram, como Santander, Puma e Socios.com. E quem se pronunciou apenas deu declarações protocolares contra o racismo.
“Nós os chamamos, como quando aconteceu com a prisão de [Ángel Maria] Villar, em que houve um momento de má reputação. Ligamos para os patrocinadores e explicamos o que estamos fazendo [para enfrentar o problema]”, contou Tebas, referindo-se ao ex-presidente da federação espanhola, detido por acusação de corrupção em 2017.